Felipe sofre com o frio na Hungria, mas defendendo o Kisvarda é um dos melhores goleiros no país - Arquivo pessoal
Felipe sofre com o frio na Hungria, mas defendendo o Kisvarda é um dos melhores goleiros no paísArquivo pessoal
Por HUGO PERRUSO

Na cidade húngara de Kisvarda, a três horas da capital Budapeste, o Flamengo terá um torcedor na final do Carioca: Felipe, atualmente no clube de mesmo nome da cidade. O ex-goleiro rubro-negro foi personagem do clássico entre Flamengo e Vasco entre 2011 e 2014 com defesas e também provocações, como a que ficou marcada no título de 2014 ("roubado é mais gostoso"), após gol irregular de Márcio Araújo no fim. Cinco anos depois, Felipe jura nunca ter falado a frase.

"Não falei, juro até hoje de pé junto! Colocaram na minha conta. Não tem vídeo nem áudio. Eu disse que eles jogavam o Paulista porque estavam há 10 anos sem ganhar o Carioca (risos). Sempre fui um cara que nunca me escondi e dei a cara a bater. Se tivesse falado pediria desculpa. Eu cheguei a ser julgado e o auditor perguntou cadê áudio ou vídeo. Impossível você dar uma entrevista no campo e não ter nada. Se procurar, aparece eu falando que ganhar assim deles (no fim) é mais gostoso. Nada mais. Fiquei marcado e hoje não adianta mais nada", afirmou.

Na internet, realmente não se acha a declaração. No máximo, há uma entrevista do goleiro em uma TV no dia seguinte da final em que admite que pegou pesado na brincadeira, e pediu desculpas por ter falado como torcedor. Mesmo com toda a polêmica, Felipe acredita que não ficará marcado pela declaração.

"Creio que não. Ganhar uma Copa do Brasil com o time que tínhamos em 2013... Era limitadíssimo e eliminamos o melhor que seria campeão brasileiro (Cruzeiro). Ninguém vai esquecer. Fui campeão carioca invicto (2011), ganhamos em 2014, fiz quase 200 jogos. Tenho muito mais pontos positivos para lembrar", analisou Felipe, que não pretende fazer brincadeiras em caso de novo título rubro-negro.

"Quem tem que provocar é quem está lá, hoje sou torcedor apenas".

Apesar do carinho, Felipe saiu do Flamengo em 2015, após ficar seis meses sem jogar ou treinar com o elenco. A separação traumática e as lesões atrapalharam a carreira. Ele passou por Figueirense, Bragantino, Boavista e Uberlândia, até se reencontrar na Hungria aos 35 anos.

"Acho que demorou para minha ficha cair depois que saí do Flamengo. A forma que saí me abalou muito e demorei a me recuperar. Aqui voltei a ser importante, recuperei a vontade de jogar", disse.

A aventura na Hungria apareceu num momento em que ficou quase seis meses parado. Aceitou a proposta de jogar num clube recém-promovido à Primeira Divisão em maio de 2018 e no Kisvarda tem se destacado mesmo lutando contra o rebaixamento ao lado de outro ex-rubro-negro, Anderson Pico. Com orgulho, mostra reportagens de jornais locais em que é destaque. "Está melhor do que eu poderia imaginar, estão me considerando o melhor goleiro do campeonato. Precisava dessa mudança de ares e deu muito certo".

Felipe ainda sofre com a língua e conta com o apoio do brasileiro naturalizado húngaro Lucas, outro companheiro, assim como Sassá. Mas a maior dificuldade nessa adaptação foi o inverno rigoroso, que rendeu muito frio, neve e algumas histórias. "Frio é pouco! O campeonato para (no inverno), mas ainda disputei três jogos, foi desesperador. Você não enxerga direito, a bola balança e a luva parece que tem quiabo. Cheguei a pegar -18°C num treino. O pior foi que o clube dá um carro para cada atleta e eles mandam ir trocar o pneu para neve. Eu esqueci, viajamos para jogar e na volta estava nevando muito. Um trajeto de 5 minutos até em casa eu levei 30, o carro não parava de sambar. No outro dia um funcionário do clube teve que ir na minha casa para buscar o carro", recorda Felipe, que adaptado ao futebol húngaro, não descarta continuar. Com contrato até 2020, ele já recebeu propostas de clubes maiores do país.

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