Cabral depôs ao juiz Bretas - Marcio Mercante
Cabral depôs ao juiz BretasMarcio Mercante
Por *O DIA
O ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral admitiu envolvimento na compra de votos da Olimpíada Rio-2016. Nesta quinta-feira, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, Cabral afirmou que o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, indicou o presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Lamine Diack, para que ele intermediasse a compra de votos para trazer a Olimpíada para o Rio.

Segundo Cabral, houve ligação com um ex-diretor de operações do Rio-2016 com Lamine Diack e o filho dele Papa Diack, que serão interrogados no país em que residem. Com a proposta, o Rio ganharia de 5 a 6 votos pelo custo de US$ 2 milhões (aproximadamente R$ 7,67 milhões, no câmbio atual).

"Eu não sabia qual seria a repercussão de um núcleo europeizado muito forte [na votação]. Nessa natureza, o Nuzman vira pra mim e me fala: 'Sérgio, quero te abrir que o presidente da IAAF, lamine Diack, ele é uma pessoa que se abre pra vantagens indevidas", contou ao depoimento.

Além disso, o ex-governador perguntou a Nuzman de onde viriam os votos e como garantiriam a vitória. Segundo Cabral, o ex-presidente do COB teria respondido que viriam de membros africanos do comitê e de representantes do atletismo. Ainda de acordo com o ex-governador, entre os votos comprados está o do nadador Alexander Popov, quatro vezes medalhista olímpico.

"Eu chamei o [empresário] Arthur Soares e falei pra ele da necessidade de conseguir o dinheiro para os votos. Isso foi debitado do crédito que eu tinha com ele. Fui eu que paguei. Eu dei o telefone do Léo [Leonardo Gryner, ex-diretor de operações da Rio 2016] e eles acertaram com esse Papa Diack, filho de Lamine Diack", contou o ex-governador.

Cabral também revelou que o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (hoje no DEM, na época no MDB) e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Michel Temer (MDB) sabiam na negociação.

Vale lembrar que além de Sérgio Cabral, o empresário Arthur Soares Filho (o Rei Arthur) e ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Carlos Arthur Nuzman, foram denunciados por corrupção devido à suspeita de compra de votos.

Segundo a MPF, Cabral, Nuzman e Gryner solicitaram diretamente a Arthur o pagamento de US$ 2 milhões para Papa Diack, que garantiria os votos para o Rio de Janeiro sediar os Jogos Olímpicos.

Em setembro de 2009, em um hotel em Paris, houve um jantar entre os envolvidos da negociação e que ficou conhecido como "Farra dos Guardanapos". Seria uma comemoração antecipada do acordo selado.
O ex-governador Sérgio Cabral admitiu que pagou US$ 2 milhões para que o Rio de Janeiro fosse sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O dinheiro foi pago ao então presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAFF, na sigla em inglês), Lamine Diack.

Embora já houvesse suspeitas sobre a compra de votos pelo Brasil, a primeira vez que Cabral admitiu oficialmente o pagamento de propina foi durante audiência realizada nesta quinta-feira (4), na 7ª Vara Federal Criminal.

Logo na abertura do interrogatório, Cabral foi perguntado pelo juiz Marcelo Bretas se ele tinha conhecimento dessas negociações “espúrias”. O ex-governador passou a contextualizar a campanha do país para sediar as Olimpíadas e contou que um dia foi procurado pelo então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, e o diretor de operações do COB, Leonardo Griner, que disseram ser necessário pagar uma quantia para garantir os votos sob influência de Diack.

Segundo Cabral, eles disseram que seria necessário US$ 1,5 milhão pagos a Diack, que dizia ter oito votos entre os membros da IFAA, incluindo o do ucraniano Sergei Bubka, ex-recordista mundial do salto com vara, e do nadador russo Alexander Popov.

Para conseguir o dinheiro, Cabral relatou que recorreu ao empresário do setor de serviços, Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, atualmente foragido, que tinha inúmeros contratos com o estado do Rio. Arthur teria feito o repasse da primeira parte da propina para Diack, depois complementado com o aporte de US$ 500 mil.

De acordo com o ex-governador, o dinheiro pago a Diack pelos votos era de sua propriedade e que o motivo foi deixar legados ao estado do Rio, o que poderia, futuramente, ainda que de forma indireta, beneficiá-lo em sua carreira política.

Cabral disse que o ex-deputado estadual Carlos Roberto Osório, que era funcionário do COB, sabia de toda a transação. Disse também que o ex-prefeito Eduardo Paes também ficou sabendo do pagamento de propina, embora não tenha participado diretamente da ação ilegal. O ex-governador revelou ainda que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou sabendo, de forma indireta, logo após a vitória do Brasil na votação, mas ressaltou que ele não se envolveu na negociação.

Defesa
Publicidade
O advogado de Nuzman, João Francisco Neto, disse que seu cliente é inocente e que não participou das supostas operações de pagamento de propina envolvendo a compra de votos.

O advogado Marcos Vidigal Crissiuma, que defende Griner, se manifestou em nota: "Ficou claro que Sérgio Cabral falta com a verdade e não apresenta qualquer prova de seus relatos, mantendo-se íntegra a prova produzida na instrução criminal que isenta Leonardo Gryner de qualquer responsabilidade. Se houve compra de votos, ele não participou".
*Com informações do Lance e Agência Brasil