Taffarel disputou três Copas do Mundo pelo Brasil e foi fundamental no título de 1994Divulgação/Fifa
Publicado 17/07/2024 07:00
Rio - O dia 17 de julho de 1994 jamais sairá da cabeça de milhões de brasileiros. Há 30 anos, a Seleção conquistava o tetra da Copa do Mundo e deixava o país inteiro em festa. Naquele dia, ninguém viu mais de perto os momentos que definiram o título do que Cláudio André Mergen Taffarel, o goleiro que foi peça fundamental para o triunfo do Brasil.
Taffarel viveu o auge de sua carreira, e talvez de sua vida, naquela vitoriosa campanha e foi protagonista na disputa de pênaltis da final contra a Itália, que sacramentou o título brasileiro após empate em 0 a 0 no tempo regulamentar. Na disputa, o camisa 1 defendeu a cobrança do italiano Massaro e viu Baresi e Roberto Baggio chutarem por cima do gol.

Nervosismo?

Apesar da enorme responsabilidade, ele garante que conseguiu se manter tranquilo na maior parte do tempo. Porém, a pressão foi aumentando diante da indefinição na decisão e o desejo de ajudar o Brasil.
"Foi uma sensação única. São imagens que eu tenho muito presentes na cabeça. Não lembro muito do meu passado como jogador, mas aquela final não tem como não lembrar. Foi um jogo muito tranquilo para mim. Parecia que eu estava indo para um jogo normal ou até mesmo um amistoso. Só fiquei nervoso quando coloquei na cabeça que eu tinha que ajudar meus companheiros, fazer mais do que aquilo que era necessário", relembrou o goleiro do tetra em entrevista ao DIA.
Taffarel e o Brasil explodiram de alegria após cobrança de Roberto Baggio - Divulgação/Fifa
Taffarel e o Brasil explodiram de alegria após cobrança de Roberto BaggioDivulgação/Fifa
"Eu queria muito ajudar o time. Estava vendo a dificuldade que era nossos cobradores virem lá do meio-campo, colocar a bola, bater o pênalti. E acabei pressionando a mim mesmo. A partir do momento que eu transferi um pouco dessa responsabilidade para os italianos que estavam cobrando, as coisas melhoraram", completou Taffarel.

Pressão e críticas

O Brasil chegou para aquela Copa muito questionado após uma campanha ruim nas Eliminatórias, além dos 24 anos sem título mundial, que está sendo repetido nos dias de hoje. Na opinião do ex-goleiro, a união do grupo foi fundamental para driblar a pressão, que quase resultou na saída do técnico Carlos Alberto Parreira.
"Infelizmente, o Brasil é assim. As pessoas te criticam antes de ver um resultado. Sabíamos que o caminho seria nos unirmos. Soubemos lidar muito bem com essa pressão de fora, com esse descrédito que o próprio torcedor criou. O Parreira mesmo na época chegou a desanimar. Houve sim essa coisa dele chegar e dizer: 'bom, se eu não estou ajudando, é melhor sair, né?'. Mas eu lembro que todo mundo sempre apoiou porque ele poderia nos ajudar bastante", afirmou.

Ganhar ou dar espetáculo?

Ao longo da campanha do tetra, o Brasil se apresentou com uma defesa sólida e levou apenas três gols. Segundo Taffarel, as decepções nas Copas anteriores serviram de lição para o Brasil, que não teve medo de mudar seu estilo de jogo para ser campeão em 94.
"Depois de 90, nós entendemos que só o futebol arte, o futebol espetacular que todos esperavam do Brasil na Copa do Mundo, não nos levou a título nenhum por 24 anos. Todos falam da Seleção espetacular de 82, mas não ganhou. Era muita estrela e pouca gente pra defender. Entendemos que naquela Copa, se cada um quisesse olhar pra si mesmo, não ganhava nada. Então a maneira como nós jogamos foi importante", disse o ex-jogador.
Mesmo com o título, o Brasil não escapou de críticas ao seu desempenho, o que causou estranheza em Taffarel.
"Falaram que o nosso futebol era muito defensivo. Não dá pra entender. A gente fica sem entender se querem ganhar ou fazer espetáculo. As duas coisas, muitas vezes, não se consegue. Jogamos com muita inteligência, sabendo que a primeira coisa era defender e depois atacar. Por isso tomamos pouquíssimos gols", completou.

O "estranho" pós-Copa

Ao chegar nos Estados Unidos para a disputa da Copa do Mundo, o camisa 1 do Brasil vivia um momento de incerteza em sua carreira. Na época, Taffarel estava sem clube após deixar o Reggiana-ITA e vinha atuando apenas de forma amadora, como já disse em outras oportunidades. Mesmo após suas grandes atuações naquele Mundial, ele continuou livre no mercado até o fim de 1994, o que lhe causou surpresa.
"Terminei a Copa, continuei desempregado até dezembro. Me apresentei em janeiro de 95 no Atlético Mineiro. Mas foi um período que foi bem aproveitado. Minha filha estava completando um ano naquela Copa e meu filho nasceu em outubro. Achei estranho, sim, que sendo campeão do mundo, não consegui um time. Mas estar em casa junto da família, curtindo aqueles momentos que são importantes. O nascimento, os primeiros passos da sua filha. Foram momentos legais", declarou o ex-goleiro.
Passados 30 anos do tetra, Taffarel segue com as lembranças do maior título de sua carreira vivas na memória e a certeza de que marcou seu nome na história da seleção brasileira.
Participou da reportagem o estagiário Lucas Dantas, sob supervisão de Lucas Felbinger.
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