Com a conquista do tetra, a seleção brasileira quebrou um jejum de 24 anos sem títuloReprodução/Internet
Tetra 30 anos: o passado e o presente de um jejum de mais de duas décadas
Assim como em 1994, Seleção completará 24 anos sem conquistar a Copa do Mundo em 2026
Rio - O presente repete o passado. Pela segunda vez na história, a seleção brasileira completará um jejum de 24 anos sem título mundial após viver um período de glórias. Em 1994, o Brasil pôs fim a seca com a conquista da Copa do Mundo nos Estados Unidos, que completará 30 anos na próxima quarta-feira (17). Em 2026, a canarinho desembarca novamente em solo americano com o mesmo objetivo: encerrar a sequência de mais de duas décadas e voltar ao topo do mundo.
O Brasil viveu uma era de ouro com os títulos mundiais em 1958, 1962 e 1970. Após a conquista do tri e as derrotas de 1974 e 1978, o sonho pelo tetra ficou mais vivo nos anos 80, mas os fracassos nas edições de 1982 e 1986 aumentaram a pressão para a geração seguinte. A eliminação para a Argentina na Copa do Mundo de 1990, na Itália, aumentou a lista de decepções. Em entrevista ao DIA, que irá ao ar na íntegra na próxima quarta-feira (17), o ex-goleiro Taffarel relembrou da peso do jejum sobre o time de Parreira em 1994.
"A cobrança era aumentada. Sempre se falava disso, que eram 24 anos sem título. Sem dúvidas começou a fazer parte da nossa preparação, no sentido que era importante vencer. Mas a gente soube lidar bem com essa pressão de fora. As críticas e as cobranças elas não vinham e botavam a gente pra baixo. Muito pelo contrário, acabaram nos ajudando bastante. Ter gente mais experiente no grupo, mais comprometida, isso não te atrapalha, só te deixa mais alerta, com mais vontade de acertar", disse.
Após os fracassos na década de 80 sob o comando de Telê Santana, houve cobrança por uma mudança de estilo de jogo na seleção brasileira. O futebol "bonito" deu lugar a um menos plástico e mais eficiente. O Brasil encerrou um jejum de 19 anos sem título com a conquista da Copa América de 1989, e gerou expectativa para a Copa do Mundo de 1990. Mas o desempenho foi abaixo do esperado.
A pressão por um novo estilo de jogo rapidamente surtiu efeito contrário. As vitorias sem nenhum "espetáculo" geraram reclamações, e o período foi denominado de forma pejorativa como "Era Dunga", em referência o capitão da seleção brasileira. O volante, que tinha personalidade carrancuda e séria, passou a ser apontado como sinônimo de futebol feio e sofreu muitas críticas até a conquista do tetra.
Entretanto, o caminho até o título mundial em 1994 não foi fácil. A seleção brasileira iniciou o ciclo com Falcão, ex-jogador e ídolo do Internacional. Ele não resistiu após uma sequência de resultados ruins com um futebol burocrático e de poucos gols, dando lugar a Carlos Alberto Parreira. O início do histórico treinador campeão brasileiro com o Fluminense em 1984 não foi fácil, e ele quase entregou o cargo após dois jogos.
Parreira sofreu com o clamor público pela convocação de Romário, que já era um dos melhores jogadores do mundo. O treinador promoveu o retorno do Baixinho, além do volante Dunga, que ficou um tempo longe da seleção brasileira após a eliminação na Copa do Mundo de 1990. O Brasil reagiu e conseguiu a vaga no Mundial de 1994 após a vitória sobre o Uruguai, no Maracanã, pela última rodada das Eliminatórias.
O cenário atual da seleção brasileira é tão caótico quanto o passado. Após a conquista do penta em 2002, o Brasil só chegou à semifinal da Copa do Mundo em 2014, quando foi goleado por 7 a 1 pela Alemanha. No ciclo para o Mundial de 2010, houve uma nova "Era Dunga", com a aposta no capitão do tetra como técnico. Ele conseguiu bons resultados e títulos da Copa América e Copa das Confederações, mas o sonho pelo hexa terminou nas quartas de final na África do Sul.
Em 2014, o Brasil sediou o Mundial e não precisou disputar as Eliminatórias. Após a humilhação sofrida dentro de casa contra a Alemanha, Dunga recebeu uma nova chance no comando da Seleção, mas não teve vida longa. A partir de 2016, iniciou-se a "Era Tite", que por muitas vezes era burocrática, mas por outras também era encantadora. O Brasil foi sólido, não perdeu durante seis anos nas Eliminatórias e foi finalista da Copa América duas vezes, tendo sido campeão em 2019. Mas não passou das quartas em 2018 e 2022.
A derrota para a Croácia, nos pênaltis, no Mundial do Catar de 2022, confirmou que o Brasil igualaria o seu maior jejum de títulos mundiais, encerrado em 1994, nos Estados Unidos. Em 2026, no mesmo lugar, a seleção brasileira terá a chance de encerrar uma nova seca de 24 anos sem título mundial, mas o momento é de incerteza.
Quase dois anos após a saída de Tite, o Brasil já teve três treinadores: Ramon Menezes, como interino; Fernando Diniz, também como interino e dividindo função com o Fluminense; e agora Dorival Junior, que assumiu o cargo neste ano. Mas o futebol é burocrático e pouco encantador, como foi no ciclo para as Copas de 1990 e 1994.
O Brasil tenta implementar uma reformulação. Jogadores experientes são deixados de lado, como tentaram fazer no passado com Dunga, assim como existe um movimento para acabar com a dependência de Neymar, algo semelhante ao que fizeram com Romário. No entanto, as lições deixadas podem ser aproveitadas pelo Brasil para ver o futuro repetir o passado mais uma vez.
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