Bebeto é um dos ídolos da história da seleção brasileiraDivulgação/CBF
Publicado 17/07/2024 08:00 | Atualizado 17/07/2024 11:36
Rio - Nesta quarta-feira, dia 17 de julho, o Brasil comemora os 30 anos do tetracampeonato mundial. Para celebrar a data especial, a reportagem de O DIA conversou com Bebeto, um dos principais nomes daquela conquista. O antigo camisa 7 da Seleção fez questão de exaltar o trabalho do técnico Carlos Alberto Parreira e do coordenador técnico Zagallo.
Publicidade
"O Parreira é demais. A gente treinava muito. Eu treinava finalização junto com o Romário... A gente fazia muito isso, posse de bola, marcação. A gente aprendeu muito tanto com o Zagallo quanto com o Parreira. Essa dupla era impressionante, sabiam tudo de futebol. A gente entrava em campo já preparado e já sabia o que iria fazer. Ele falava muito: 'A gente tem dois caras ali na frente que fazem a diferença. Se não tomarmos gol, esses caras vão decidir a partida aí para a gente'. E não deu outra. Tudo que ele falou aconteceu", disse Bebeto.
Naquela época, a Seleção convivia com a pressão pelo jejum de 24 anos sem o título e com comentários de que o time "jogava feio". No entanto, de acordo com Bebeto, as críticas que vinham de fora não chegavam até a concentração. O grupo conseguiu se blindar e manteve o foco rumo ao tetra.
"Para fazer gol na gente era muito difícil. A gente começou com o Raí, depois ele botou o Mazinho. Aí ficou mais forte ainda em termos de marcação. Às vezes a imprensa fala demais. E foi uma das coisas que a gente se fechou muito. As coisas que aconteciam lá fora, os comentários, a gente não deixava chegar na concentração, porque sabíamos do nosso potencial, a gente sabia o que queria. Era um grupo muito focado, muito unido. Naquela época, ninguém lia jornais. Os jornais não chegavam para a gente", revelou Bebeto.
"Então, a gente veio saber que terminou a Copa do Mundo. Aí a gente via os comentários... Meu Deus amado. Então, foi até bom para a gente, sabe? A gente esquecer, não se preocupar com o que está acontecendo lá fora e focar no nosso objetivo. Foi o que nós fizemos. Então, não deu outra. 'Ah, o time jogava feio'. Que feio, rapaz. Pegue esses jogos aí e veja todo. A gente dominava praticamente o tempo todo. Maior posse de bola, maiores oportunidades de gols, marcação lá em cima... A gente fazia tudo isso. Como que esse time joga mal, com um ataque que nunca perdeu um jogo jogando juntos?", prosseguiu.
Durante o percurso até a Copa, o Brasil teve jogos-chave nas Eliminatórias que marcaram aquela geração. Bebeto fez questão de destacar a importância de dois duelos para a construção da confiança do grupo e recordou uma cena que já indicava a união rumo ao tetra: a goleada sobre a Bolívia por 6 a 0; e a vitória por 2 a 0 sobre o Uruguai, que selou a vaga brasileira para o Mundial.
"A confiança já veio desde o início das Eliminatórias. Aquele jogo ali contra o Uruguai, a gente jogava pelo empate. O empate já era nosso. E jogando no Maracanã... Acho que ali o time atingiu o ápice. Em todos os sentidos, mentalmente, fisicamente... Focados mesmo. O time entrou realmente preparado para fazer aquele grande jogo. Sabíamos do nosso potencial", lembrou Bebeto.
"Acho que ali contra a Bolívia, quando o Ricardo (Rocha) deu a ideia de sair todo mundo de mãos dadas... Acho que a gente começou a ganhar a Copa do Mundo ali. Então, fomos crescendo a cada jogo, jogo a jogo. Naquele dia ali, foi 6 a 0, fiz dois gols, joguei para caramba. Arrebentei com o jogo. Ali a gente começou a ganhar a Copa do Mundo. A partir dali, em todos os jogos durante a Copa do Mundo, a gente saia de mãos dadas. O Ricardo foi muito feliz naquele momento. Depois daquele dia ali, todo jogo que a gente entrou para jogar, todo mundo entrava de mãos dadas", completou.
Apesar de felicidade ao falar do tetra, nem tudo são flores. Bebeto não escondeu o incômodo com a postura da CBF no aniversário dos 30 anos do tetra da Copa do Mundo.
"Geração de ouro. Esses caras tinham que valorizar mais a gente. Principalmente a CBF, que era para ter feito uma homenagem, vão fazer 30 anos. Os caras não vão fazer nada para a gente. Isso é uma vergonha. A gente é reverenciado pela torcida, principalmente as pessoas que viveram, nasceram naquela época, já eram adultas. Essas pessoas reverenciam a gente. Quando eu saio, é um carinho impressionante", destacou.

Veja mais declarações de Bebeto:

Comemoração de Bebeto na Copa do Mundo de 1994 - Divulgação/Instagram @bebeto7
Comemoração de Bebeto na Copa do Mundo de 1994Divulgação/Instagram @bebeto7
EXPULSÃO DE LEONARDO EM VITÓRIA SOBRE OS EUA
"Ali tive a certeza que a gente iria ser tetra. Além de ter acontecido isso com o Leonardo, que é coisa de Deus mesmo, fui lá, falei com ele: 'Fica tranquilo que a gente vai ganhar e eu vou fazer o gol da vitória'. Voltei para o segundo tempo (do jogo contra os EUA, válido pelas oitavas de final), e, por incrível que pareça, o time correu até mais ainda, porque foi um ajudando o outro, na superação mesmo. A gente sabia que estava com menos um e tinha que correr mais".
"E não deu outra. Terminei abraçado com o Jorginho e disse: ‘Meu irmão, ninguém tira esse título da gente mais. A gente vai ser tetracampeão do mundo’. Falei isso para ele, até hoje a gente se fala e lembra dessa história. Foi muito legal, muito forte. Coisa de Deus mesmo".
PRIMEIRO TOQUE NA TAÇA
"Passou (um filme na minha cabeça). Lembrei muito da minha família, dos meus amigos, dos meus irmãos, principalmente do que se foi. Lembrei muito dele. E foi muito forte, um negócio muito forte. Até lembrando assim a gente fica emocionado. Lembrei pra caramba dele, e todos. Aqueles meus amigos de infância que sempre acreditaram em mim, falavam: 'você vai jogar na seleção, ser campeão mundial'".
"Tanto que depois eu falei com a minha família, com meus amigos todos de infância. E todos: 'Conseguimos, conseguimos'’. Isso não tem preço. É gratidão eterna a nosso Deus. Sem Ele, nada disso seria possível. Foi muito legal por isso. Lembrei de todo mundo, falei com todo mundo, fique no telefone o tempo todo, ligando para todo mundo, a família toda me ligando. E a gente chorava muito: 'Conseguimos, conseguimos!'. Foi muito legal, muito legal mesmo."
FORTE CALOR DURANTE A COPA
"Um calor insuportável. Teve gente reclamando aí agora do calor dos Estados Unidos. Calor foi lá o que a gente passou. Jogo meio-dia, uma hora da tarde. Imagina só o calor que foi. Mas a vontade era tão grande, que todo mundo se superou. Não sentia nem o calor. Só queríamos ganhar, entrar para a história. Tinha de acontecer isso mesmo. Era um time muito forte. Com um ataque como esse que nunca perdeu um jogo? Só duas duplas não perderam jogando juntas: Pelé e Garrincha e Bebeto e Romário. Foi impressionante mesmo."
PÊNALTIS CONTRA A ITÁLIA
"Preparado para entrar e fazer o gol. Só. E a gente treinava muito, e treinava era contra Taffarel. Era impressionante. Ele era frio, só saía quando a gente encostava o pé na bola. Ele era de uma velocidade incrível. Para bater, meu amigo... Aquela caminhada ali demora uma eternidade (risos). Eu só pensava 'vou fazer, tenho que fazer, treinei para isso'. Todo mundo exausto, mas o Parreira chegou em mim e falou 'Beto, vai bater?' Eu falei que queria bater logo o primeiro. Mas aí ele colocou o Marcio Santos, que não errou nada no treinamento. Ele perdeu no dia e eu fiquei 'caramba, eu pedi para bater primeiro'. Mas acabou que nem bati e graças a Deus não dei essa caminhada, né? (risos). Nem precisei."
*Reportagem com a participação do estagiário Lucas Dantas.
Leia mais