Jerusa Geber sobe ao pódio ao lado do atleta-guia Gabriel GarciaCris Mattos/CPB

O Mundial de Atletismo Paralímpico, que terminou no último domingo (5), em Nova Déli, na Índia, foi histórico para Jerusa Geber e o esporte brasileiro. Afinal, a velocista, de 43 anos, chegou a 13 pódios na competição e se tornou a maior medalhista do Brasil em mundiais, entre homens e mulheres, superando o recorde de Terezinha Guilhermina. Ao O DIA, a atleta contou que foi ao torneio já focada em escrever o seu nome na história. E assim o fez. Ao lado do atleta-guia Gabriel Garcia, ela foi tetracampeã nos 100m T11 (deficiência visual) e bicampeã nos 200m T11.
"Para mim, foi um sentimento de dever cumprido, porque eu fui com esses objetivos. Que era ser a atleta com o maior número de medalhas em mundiais de atletismo, além de conseguir o tetracampeonato nos 100 metros. Então eu consegui os dois, e fiquei muito feliz", disse Jerusa.
Os dois ouros da velocista ajudaram o Brasil a terminar o Mundial na liderança do quadro de medalhas pela primeira vez na história, com 44 pódios — 15 ouros, 20 pratas e nove bronzes. A delegação brasileira desbancou a China, que só havia ficado fora do topo da competição em 2013. Para Jerusa, os resultados refletem o crescimento do esporte paralímpico no país, muito também por conta do trabalho do Comitê Paralímpico Brasileiro.
"Cada vez mais o Comitê Paralímpico busca fazer o seu melhor. Eles procuraram o melhor hotel para a gente ficar (na Índia). Eu não tenho o que reclamar de lá. Muitos outros atletas estavam passando mal com a comida. Cultura, alimentação e clima totalmente diferentes, mas o Comitê Paralímpico teve todo esse cuidado, levando nutricionista, psicólogo. Foi uma estrutura muito bem pensada", destacou.
Parceria com Gabriel
Jerusa ainda falou sobre o entrosamento com seu atleta-guia Gabriel Garcia, que também corre sozinho — no ano passado, ele se tornou o primeiro homem brasileiro a disputar a Olimpíada e Paralimpíada no mesmo ano. Como ele também precisa treinar separado, a velocista divide os treinamentos na pista de atletismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente (SP), com seu treinador e esposo Luiz Henrique, que já foi seu atleta-guia. Mas, quando a corrida é para valer nas competições, a missão de atravessar a linha de chegada é de Jerusa e Gabriel.
"Ele não fala nada durante a corrida. Ele só me orienta quando, nos 200m, a gente entra na reta, e depois para fazer a chegada. E, nos 100m, ele só avisa na chegada. Eu só sei o que aconteceu depois que a prova acaba. Cruzou a linha, eu pergunto para ele: 'Quem ganhou? Foi nós?'". A resposta, muitas vezes, é sim.
Nova pista
Agora, Jerusa volta as atenções para o Mundial de Paraciclismo de Pista, entre os próximos dias 16 e 19, no Parque Olímpico, no Rio de Janeiro. Mesmo ainda nova na modalidade — é sua primeira convocação para representar o Brasil — a atleta está pronta para dar o seu melhor.
"Eu entrei no ciclismo no final do ano passado. Ainda não sei como funciona muito bem em uma competição importante, as divisões de classe, mas a gente sempre espera o melhor. Fazer um ótimo resultado e quem sabe, tomara a Deus, chegar ao pódio", frisou.
Próxima Paralimpíada
Mesmo no ciclismo, Jerusa não largou o atletismo e já pensa na Paralimpíada de 2028, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Aos 43 anos, ela não consegue imaginar a vida sem o esporte.
"Meu corpo ainda reage muito bem. Em cada competição, a gente se supera nas marcas. E é claro que quero mais e mais. Eu falo que, se eu parar com o esporte, meu Deus, entro em tristeza profunda, porque o esporte para mim é muito importante. E, lógico, eu quero mais, quero dar mais alegria para o meu público, para minha família. Se Deus quiser, eu vou participar do próximo Mundial, da próxima Paralimpíada e de preferência chegar bem", concluiu.