Valdiram, destaque do Vasco na Copa do Brasil de 2006Divulgação / Vasco

Atacante de poucos holofotes, Valdiram protagonizou uma montanha russa de emoções ao torcedor em sua marcante passagem pelo Vasco, em 2006. Artilheiro da Copa do Brasil daquele ano, com sete gols, viveu o auge no Cruz-Maltino, mas se perdeu no mundo das drogas, das bebidas, do sexo e nunca mais retomou o bom desempenho. Ele foi o herói na semifinal contra o Fluminense. No jogo de volta, fez o gol no empate por 1 a 1, no Maracanã - a ida havia sido 1 a 0.

O resultado garantiu o Gigante da Colina na decisão, contra o Flamengo. Porém, o ex-jogador chegou bebâdo no treino que antecedia o clássico e ficou fora do segundo embate da final: Renato Gaúcho optou por nem sequer relacioná-lo para o confronto. No fim, o Rubro-Negro levou o troféu.

"Sentimos muito a falta dele. Estávamos tão acostumados, as jogadas já aconteciam naturalmente. Sabíamos que o momento era dele e tudo dava certo. Não que os outros jogadores não fossem bons, mas até os adversários já tinham um respeito e receio pelo que vinha fazendo", contou Fábio Braz, zagueiro do time carioca à época, em entrevista ao DIA. "Valdiram tinha uma jogada que todos já sabiam. Uma pedalada e um tapa na frente, mas ninguém conseguia marcar", destacou.

Foi pena não ter mantido a cabeça no lugar para seguir brilhando nos gramados. Diante dos inúmeros episódios de indisciplina, teve o contrato rescindido pelo Vasco no ano seguinte. Depois, não conseguiu ter sequência em nenhum clube. Foram várias as tentativas de se reerguer. Passou por Ituano, Bonsucesso, Criciúma, CSA, Comercial, entre outros, mas nada feito. Perdeu tudo o que tinha e foi morar na rua.

"Trabalhar com o Valdiram foi muito bom. Além de um excelente jogador, era um garoto humilde, simples e tinha uma família maravilhosa. Mas, na medida em que foi crescendo, infelizmente, conheceu algumas pessoas que não fizeram bem para ele fora de campo", revelou Fábio Braz.

"Não que fosse culpa de outra pessoa. Mas, por ele não estar acostumado com nada daquilo que estava vivendo, com tanto dinheiro em mãos e sem ninguém para auxiliar... Sabemos como é difícil conseguir segurar a empolgação. E isso fez ele se afastar um pouco do foco e até mesmo da família", acrescentou.

Para sempre na memória

Apesar das confusões, Valdiram deixou boas histórias por onde passou. Fábio Braz lembrou de um dia em que o atacante colocou moral em cima de Edilson Capetinha, naquele tempo também jogador do Vasco.

"Estávamos fazendo um bobinho, a famosa rodinha, antes de começar o treino. Ele (Valdiram) errou, e o Edilson tinha que ir com ele para o meio da roda. Aí reclamou por ter errado. O Valdiram virou para o Edilson e falou: 'Quem é você, rapaz? Jogou onde? Eu sou o Valdiram, artilheiro da Copa do Brasil'. Todos riram sem parar e a rodinha acabou ali mesmo", recordou o zagueiro.

Final triste em 2019

Mesmo com internações em clínicas de reabilitação, a dependência química deu um fim trágico à vida de Valdiram, aos 36 anos. O atacante foi encontrado morto no dia 20 de abril de 2019, numa calçada da rua Santa Eulália, em Santana, na Zona Norte de São Paulo.

Ele estava nu e, o corpo, com sinais de espancamento. A causa da morte foi traumatismo cranioencefálico. Na época, os exames toxicológicos acusaram positivo para álcool etílico e para as substâncias benzoilecgonina, ecgonina e éster metil ecgonina, produtos da biotransformação da cocaína.