No Brasil, a medicação foi registrada também por seu nome comercial ApretudeFoto: ViiV Healthcare - Divulgação

PrEP injetável
Guapimirim – A luta na prevenção contra o Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV, na sigla em inglês) ganhou um novo capítulo no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do cabotegravir sódico como tratamento preventivo contra a doença. Trata-se de uma profilaxia pré-exposição (PrEP) injetável de ação prolongada, a primeira desse segmento. A medida foi publicada no Diário Oficial da União no último dia 5 de junho. A licença foi concedida ao laboratório britânico GlaxoSmithKline (GSK).
A injeção de cabotegravir deverá ser aplicada nas nádegas com duas doses iniciais num intervalo de quatro semanas – um mês, aproximadamente – entre ambas e depois disso uma única dose a cada oito semanas em pacientes que não são portadores de HIV, como forma de manter a proteção contra o vírus. Embora tenha duração um pouco maior, não pode ser considerada vacina.
Ainda não há data prevista para a nova PrEP injetável ser comercializada no Brasil nem quando será adotada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em março de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) financiou um projeto de implementação dessa nova medicação no país sob coordenação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
No Estados Unidos o cabotegravir é conhecido por Apretude, e Vocabria, na União Europeia, seus nomes comerciais. A medicação é produzida pela ViiV Healthcare, joint venture formada pelas farmacêuticas GSK, Pfizer e Shionogi.
Os estudos com o cabotegravir tiveram início em 2016 com dois grupos distintos e compararam seus efeitos em relação ao concorrente, nesse caso a Truvada – combinação em um único comprimido dos compostos de entricitabina e de fumarato de tenofovir desoproxila –, cuja patente pertence ao laboratório Gilead. E essas pesquisas mostraram que a PrEP injetável teria uma eficácia 69% superior em relação à PrEP oral.
Por conta da pandemia de coronavírus (covid-19), esses estudos foram interrompidos, temporariamente, em certos países.
Um desses estudos foi feito com 4,6 mil voluntários da África do Sul, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Peru, Tailândia e Vietnã. Todos os pacientes eram homens gays ou bissexuais e mulheres trans.
Outro estudo foi realizado com 3.223 mulheres cisgêneros, com idades entre 18 e 45 anos, das seguintes nações: África do Sul, Botsuana, Essuatini (antiga Suazilândia), Malaui, Quênia, Uganda e Zimbabue.
Nos Estados Unidos, o cabotegravir foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês) em 2021. Em 2022, seu uso foi recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
PrEP oral
A PrEP injetável poderá substituir a PrEP oral, que está em vigor no Brasil desde 2018, principalmente para os pacientes que esquecem de tomar o comprimido regularmente, o que pode comprometer o tratamento preventivo. Existem duas formas de se tomar a PrEP Oral.
A primeira delas consiste no consumo diário de um comprimido, independentemente se o paciente terá relação sexual naquele dia ou não. É destinado àqueles que se relacionam com mais frequência e com inúmeros parceiros e/ou parceiras num determinado período.
A segunda maneira é a PrEP sob Demanda (PrEP on Demand). Nesse caso, deve-se tomar dois comprimidos de uma só vez de duas a 24 horas antes da relação sexual, seguidos por um comprimido 24 horas após e mais um 48 horas depois. No total, são apenas quatro comprimidos. Essa modalidade é destinada para quem se relaciona sexualmente com menor frequência e se programa para se encontrar com alguém.
A PrEP oral pode garantir proteção de 95% a 99% contra o HIV, se o esquema de uso for seguido corretamente. Também é um modo de evitar resistência à medicação.
No Brasil, a PrEP oral é fornecida gratuitamente pelo SUS e sob responsabilidade da Fiocruz. Pode ser obtida em hospitais das redes municipal, estadual e federal em diversos municípios brasileiros. A medicação é destinada a grupos prioritários em situação de risco – homens que se relacionam com homens, travestis, transexuais, profissionais do sexo ou indivíduos sorodiscordantes – e/ou que mantêm relações sexuais de risco, ou seja, sem o uso de preservativos ou com vários parceiros num determinado período.
Entende-se como casal sorodiscordante ou sorodiferente o caso em que um dos parceiros é portador de HIV e o outro não. Nesse caso, a profilaxia pré-exposição é destinada para que não tem o vírus.
Vale enfatizar que a profilaxia pré-exposição só ajuda a proteger contra o HIV. A PrEP deve ter uso combinado com preservativos como forma de evitar outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), tais como sífilis, gonorreia, clamídia, hepatites B e C, entre outras.
Não se pode confundir a PrEP com a profilaxia pós-exposição (PEP), cuja medicação é disponibilizada em caso de urgência com início de tratamento até 72 horas após a relação sexual, com duração de 28 dias seguidos, com foco em vítimas de estupro e em casos em que o preservativo se rompeu e não se sabe a sorologia do parceiro ou parceira.
Onde buscar tratamento contra HIV em Guapimirim
Em Guapimirim, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, portadores do vírus HIV podem obter a medicação nos postos de saúde.
No caso de pacientes que precisem tomar a PEP, a medicação emergencial, é preciso ir ao Hospital Municipal José Rabello de Mello, no bairro Bananal. O atendimento para esse tipo de situação é 24 horas por dia.
Cabotegravir também como medicação para soropositivos
Medicamento à base de cabotegravir também é usado em pacientes soropositivos. Trata-se do Cabenuva, injeção que combina o uso desse antirretroviral com rilpivirina e fabricada pela ViiV Healthcare.
O tratamento consiste em uma aplicação mensal de duas injeções nas nádegas, substituindo o coquetel que os pacientes precisam tomar diariamente para manter a caga viral baixa a ponto de ser considerada indetectável, o que significa que o risco de transmissão é nulo segundo a literatura médica.
No Brasil, ainda não tem previsão de quando esse coquetel injetável estará à disposição dos portadores do vírus.