O ex-jogador argentino Diego Maradona participa de palanque do presidente venezuelano Nicolas Maduro, que busca um segundo mandato de seis anos - Juan Barreto/ AFP
O ex-jogador argentino Diego Maradona participa de palanque do presidente venezuelano Nicolas Maduro, que busca um segundo mandato de seis anosJuan Barreto/ AFP
Por AFP

Caracas - Opositores venezuelanos e um americano disseram, nesta quarta-feira, que tomaram as celas onde estão presos na sede do Serviço de Inteligência em Caracas, para exigir a libertação de detentos com ordem de soltura.

Em um áudio e vídeos enviados para a AFP, o ex-prefeito Daniel Ceballos, que está detido, justificou o protesto como uma reação à agressão sofrida por seu companheiro Gregory Sanabria. Nas gravações, Sanabria aparece com hematomas no rosto.

"Desfiguraram o rosto de Gregory Sanabria, preso político por mais de três anos que não teve julgamento. Nos cansamos de ver como matam lentamente os que estão no Helicoide", afirmou Ceballos, referindo-se à sede policial.

Mais tarde, o ex-funcionário disse por telefone à rede americana CNN que um grupo de "presos políticos" e comuns continuava no controle das celas na noite de quarta-feira.

"Aqui, os presos estão no controle (...) Há pessoas resistindo a tentativas (das autoridades) de ingressar com violência e com bombas de gás lacrimogêneo", relatou Ceballos.

"Não vamos ceder diante do atropelo do governo (...) até alcançarmos a liberdade", advertiu.

Em um comunicado, a Conferência Episcopal Venezuelana pediu às autoridades que "respeitem a vida de quem está sob sua responsabilidade" e "busque uma saída pacífica para a problemática".

"Somos extorquidos, nos torturam, nos agridem, se metem com as nossas famílias. Morreu gente nos porões porque não recebeu atenção médica", denunciou Lorent Saleh, outro detento.

O incidente acontece às vésperas das eleições de domingo, boicotadas pela oposição e nas quais o presidente Nicolás Maduro busca se reeleger.

'Andam procurando briga' 

Sanabria foi detido em 2014, nos protestos que exigiam a saída de Maduro do poder, que se perfila como favorito para derrotar o opositor e dissidente do chavismo Henri Falcón.

"Andam procurando briga, tentando chamar a atenção, mas não vão nos enganar", reagiu o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, em seu programa de televisão.

As fotos e os vídeos que mostram Sanabria agredido circularam pelas redes sociais com denúncias de que a agressão foi obra de policiais e de presos comuns.

Ceballos acusou o procurador-geral Tarek William Saab de "mentir de forma grosseira", depois que ele disse à CNN que a situação estava "sob controle".

Saab também negou que o Ministério Público tenha recebido denúncias formais de agressões contra os opositores presos durante a visita de uma comissão do organismo ao local.

No Helicoide, está detido o americano Joshua Holt, um mormón acusado de posse de armas de guerra e de planejar para desestabilizar o governo Maduro.

Holt "está bem, comprometido com essa luta pela liberdade dele e de todos", garantiu à CNN outro opositor preso na mesma instituição, Villca Fernández, que pediu à população que não compareça para votar no domingo.

Em um vídeo divulgado mais cedo pelas redes sociais, o americano pediu "auxílio".

Em uma mensagem no Twitter, a embaixada dos Estados Unidos em Caracas expressou sua "preocupação", porque "Holt e outros cidadãos americanos estão em perigo". O encarregado de negócios da legação americana, Todd Robinson, foi até a Chancelaria pedir informações, mas disse não ter obtido resposta.

Familiares dos reclusos permaneciam até a meia-noite de quarta-feira nos arredores do Helicoide.

Os presos exigem a liberdade de quem tem ordem de soltura, transferência para os tribunais para quem ainda não teve julgamento e assistência médica para os doentes.

"Preferimos morrer de pé", manifestou Ceballos.

No Helicoide, estão 54 dos 338 opositores encarcerados, segundo números da ONG Foro Penal.

Os detentos também pediram a ajuda do papa Francisco, assim como a presença da Igreja Católica e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR).

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