A lista também viralizou no Twitter e Instagram, somando nesta última rede mais de 215 mil interações, de acordo com a ferramenta CrowdTangle. Há, por sua vez, uma variação desta lista, na qual o “surto de moléstia contagiosa” supostamente ocorrido em 1620 seria em “passageiros do Mayflower”.
Nas publicações, contudo, há imprecisões nas datas dos surtos, além da omissão de algumas pandemias que não cumprem com que esse padrão.
Crises de saúde históricas
O império asteca, por sua vez, não teria sido dizimado devido a uma epidemia de varíola, como indicam as postagens viralizadas. De acordo com um estudo feito por pesquisadores alemães publicado em 2018 na revista Nature e replicado por meios de comunicação, entre 1545 e 1550 cerca de 15 milhões de pessoas - 80% da população asteca - teria morrido em decorrência de salmonela.
O surto de moléstia contagiosa, indicado em algumas publicações como ocorrido no navio Mayflower - que deixou a Inglaterra no ano de 1620 em direção ao chamado “Novo Mundo”, cujo território atual corresponde aos Estados Unidos - de fato aconteceu no período indicado nas postagens viralizadas.
Segundo uma cartilha lançada pelo Conselho do Condado de Nottinghamshire, na Inglaterra, sobre o ensino da história dos peregrinos do Mayflower, quando a embarcação chegou na América naquele ano, no período do inverno, muitos passageiros adoeceram e faleceram em decorrência da moléstia contagiosa, que seria uma combinação de diferentes doenças.
A data atribuída à Peste de Marselha, assim como à moléstia contagiosa, coincide com o seu verdadeiro início.
As pandemias de cólera ocorreram seis vezes entre 1817 e 1923, e não apenas em 1820, como indica a imagem. Inclusive, uma sétima pandemia de cólera começou em 1961 e ainda continua.
Segundo a página da Organização Mundial da Saúde (OMS), a gripe espanhola surgiu em 1918, dois anos antes antes do que é afirmado na postagem viralizada.
Este artigo publicado pela AFP enumera outras sete epidemias que ocorreram no último século e não cumprem com o padrão descrito na imagem, entre elas a epidemia de ebola em 2014, o surto de coronavírus SARS em 2002, e as pandemias de aids (iniciadas em 1981 e que ainda continua) e a gripe A H1N1 de 2009.
“Não existe padrão”
“Não há um padrão ali”, assegurou a médica Susan Mercado, enviada especial do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, para iniciativas globais de saúde, em diálogo com à AFP. “Mas se a pergunta for se alguns vírus têm um caráter sazonal, a resposta é: sim, têm”, acrescentou.
Em um e-mail de 12 de março de 2020, um porta-voz da OMS assegurou à AFP que embora “as epidemias de algumas doenças sejam cíclicas”, a pandemia da COVID-19 “é imprevisível, já que a doença é nova”.