cientistas analisaram 500 amostras de peixes de lagos e rios dos Estados Unidos entre 2013 e 2015 AFP

Helsinque - Comer um peixe de rio, ou lago, nos Estados Unidos equivale a ingerir água contaminada com produtos químicos como o teflon, conhecido por sua impermeabilidade, durante um mês - revela estudo publicado nesta terça-feira, 17, pela revista científica 'Environmental Research'.
Os produtos químicos perfluoroalquil e polifluoroalquil (PFAS) são uma grande família de produtos sintéticos, desenvolvidos na década de 1940 para resistir à umidade e ao calor. São usados em revestimentos antiaderentes, têxteis, ou em embalagens de produtos alimentícios.
Os PFAS resistem à degradação e permanecem no ambiente por muito tempo. E são nocivos à saúde: podem afetar o fígado, elevar o nível do colesterol, reduzir a resposta imunológica e aumentar o risco de diferentes tipos de câncer.
Os cientistas deste estudo analisaram 500 amostras de peixes de lagos e rios dos Estados Unidos entre 2013 e 2015. A taxa média de contaminação foi de 9,5 microgramas por quilo, de acordo com o estudo publicado na revista 'Environmental Research'. Cerca de 75% dessas amostras apresentaram contaminação baseada em PFOS, que é uma subfaixa de substâncias dentro dos PFAS.
Essa taxa de contaminação é equivalente a beber, por um mês, água potável contaminada com 48 partes de PFOS por bilhão. De acordo com as normas vigentes nos Estados Unidos, uma água é considerada saudável para consumo humano se tiver no máximo 0,2 parte de PFOS por bilhão.
A contaminação baseada em PFAS encontrada em peixes de água doce capturados na natureza é 278 vezes maior do que em peixes criados em instalações destinadas a sua reprodução.
Essas descobertas são "particularmente preocupantes, dado o impacto em comunidades desfavorecidas que consomem peixe como fonte de proteína, ou por razões socioculturais", disse à AFP David Andrews, da organização Environmental Working Group, que liderou o estudo.
Os PFAS são, "provavelmente, a maior ameaça química à espécie humana no século XXI", acrescentou Patrick Byrne, pesquisador de poluição ambiental da universidade britânica de John Moores, em Liverpool.
"Este estudo é importante, porque representa a primeira evidência da transmissão direta de PFAS de peixes para humanos", disse ele.
O estudo foi publicado por iniciativa de Dinamarca, Alemanha, Holanda, Noruega e Suécia, que apresentaram na última sexta-feira, 13, uma proposta de proibição do PFAS à Agência Europeia de Produtos Químicos. Essa proposta reafirma a posição destes cinco países, segundo a qual o uso de substâncias PFAS não tem sido suficientemente controlado na Europa.