Estragos provocados por terremoto que atingiu o sul da TurquiaReprodução

As equipes de emergência na Turquia e Síria resgataram mais sobreviventes nesta quarta-feira, 8, em sua luta contra o tempo para retirar pessoas dos escombros após o terremoto devastador de segunda-feira, 6, que provocou mais de 11,7 mil mortes.

Durante dois dias e duas noites desde o terremoto de 7,8 graus de magnitude, milhares de socorristas trabalharam em temperaturas gélidas para encontrar sobreviventes sob as ruínas de edifícios que desabaram dos dois lados da fronteira.

O diretor do Crescente Vermelho turco, Kerem Kinik, advertiu que as primeiras 72 horas foram críticas para os trabalhos de resgate, mas destacou que as ações foram prejudicadas pelas "severas condições meteorológicas".

Apesar das dificuldades, as equipes de resgate conseguiram salvar, nesta quarta, várias crianças que estavam nos escombros de um imóvel na província turca de Hatay, onde vários municípios desapareceram por completo.

"De repente ouvimos vozes (...). Imediatamente ouvimos as vozes de três pessoas ao mesmo tempo", disse o socorrista Alperen Cetinkaya. "Esperamos mais. As chances de retirar pessoas com vida aqui são muito grandes", acrescentou.

O balanço provisório da tragédia supera 11.700 mortes, mas o número pode dobrar, caso sejam confirmados os temores dos especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na Turquia, onde o governo decretou sete dias de luto e estado de emergência de três meses nas províncias mais afetadas, o número de vítimas fatais subiu de novo, segundo as autoridades.

Na Síria, país abalado por mais de uma década de guerra civil, o balanço chega a 2.662 mortos, de acordo com os números do governo de Damasco e das equipes da defesa civil nas zonas controladas por rebeldes.


Pouca ajuda do Estado
Com o passar das horas também aumentam a frustração e a revolta com a pouca quantidade de ajuda que chega a algumas áreas de difícil acesso, ou afetadas pelos conflitos geopolíticos da região.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que visitou a província de Hatay nesta quarta, destacou "deficiências" na resposta ao terremoto e disse que "é impossível estar preparado para uma catástrofe como essa".

Neste contexto de críticas ao governo, o Twitter ficou inacessível nas principais operadoras de telefonia móvel nesta quarta.

"Onde está o Estado? Onde está?", pergunta, desesperado, Ali, na cidade turca de Kahramanmaras, no epicentro do terremoto, que tem esperança de encontrar com vida o irmão e o sobrinho presos entre os escombros.

A angústia também domina a localidade síria de Jindires, em uma área controlada pelos rebeldes, onde "há mais pessoas sob os escombros do que acima deles", afirmou Hassan, morador da região.

"Há de 400 a 500 pessoas presas sob cada edifício, com apenas dez tentando retirá-las. E não há máquinas", lamenta.

Isoladas pelo regime de Damasco, as zonas sob controle dos rebeldes dependem dos esforços dos Capacetes Brancos, voluntários da Defesa Civil, que imploram por ajuda à comunidade internacional.

O terremoto destruiu a passagem de fronteira de Bab al Hawa, por onde transita quase toda a ajuda humanitária a partir da Turquia em direção às zonas rebeldes sírias, segundo a ONU.

"Pedimos à comunidade internacional que assuma sua responsabilidade com as vítimas civis. Precisamos que as equipes internacionais de resgate entrem em nossas regiões", afirmou à AFP o porta-voz dos Capacetes Brancos, Mohammad al Chebli.

"É uma verdadeira corrida contra o tempo, as pessoas morrem a cada segundo nos escombros", acrescentou.

O papa Francisco também fez um apelo nesta quarta-feira. "Encorajo a todos a se solidarizarem com estes territórios, alguns deles já martirizados por uma longa guerra", disse o pontífice ao final da audiência geral.
Francisco também pediu orações para os integrantes das equipes de emergência, que enfrentam condições meteorológicas adversas e rodovias com graves danos. "Oremos juntos para que estes irmãos e irmãs possam avançar diante da tragédia", afirmou.
"Meus pensamentos estão voltados neste momento para as populações da Turquia e da Síria, muito afetadas pelo terremoto que provocou milhares de mortos e feridos", acrescentou.
"Com emoção eu rezo por eles e expresso minha proximidade com estas populações, com as famílias das vítimas e todos os que sofrem com esta calamidade devastadora".

Ajuda internacional
A assistência à Síria é uma questão delicada para vários países ocidentais. Apesar de ser alvo de sanções da União Europeia, o governo de Bashar al-Assad fez um pedido formal de ajuda ao bloco, informou Janez Lenarcic, comissário de Gestão de Emergências da UE.

Até o momento, a Síria conta principalmente com a ajuda da Rússia, sua aliada. Em Aleppo, soldados russos salvaram um homem dos escombros na madrugada de quarta, informou o Ministério da Defesa de Moscou.

"Deixe a política de lado e nos permita realizar nossa tarefa humanitária", disse à AFP El-Mostafa Benlamlih, coordenador das Nações Unidas na Síria, pedindo ao governo sírio que facilite a entrega de ajuda humanitária às áreas sob controle rebelde.

Nas áreas mais afetadas da Turquia, os estabelecimentos comerciais estavam fechados, não havia calefação devido ao corte nas linhas de abastecimento de gás e encontrar combustível é cada vez mais difícil.

Para muitas pessoas é difícil ter esperança. "Meu sobrinho, minha cunhada e a irmã da minha cunhada estão nos escombros. Estão presos nas ruínas e não há sinais de vida", afirmou Semire Coban, professora em Hatay.

Dezenas de países, da China aos Estados Unidos, passando pela Ucrânia e Emirados Árabes Unidos, prometeram ajuda à Turquia. A União Europeia anunciou uma conferência de doadores no início de março em Bruxelas.