presidente da China, Xi Jinping, desembarcou nesta segunda-feira em MoscouAFP

O presidente da China, Xi Jinping, desembarcou nesta segunda-feira, 20, em Moscou para uma reunião com o homólogo russo, Vladimir Putin, na qual os dois abordarão o plano de paz de Pequim para o conflito na Ucrânia. "É uma viagem de amizade, cooperação e paz", disse Xi.
Jinping foi recebido com todas as honras ao desembarcar no aeroporto internacional de Vnukovo de Moscou. O presidente chinês afirmou que a visita de três dias à Rússia dará um "novo impulso" às relações entre Pequim e Moscou, em declarações publicadas pelas agências de notícias russas.

A China está "disposta a permanecer de maneira firme ao lado da Rússia", em nome de um "verdadeiro multilateralismo e de uma multipolaridade no mundo", acrescentou.

De acordo com o Kremlin, Xi e Putin terão um encontro informal nesta segunda-feira e discussões oficiais na terça-feira. Conversarão sobre o plano apresentado no mês passado por Pequim para solucionar o conflito com a Ucrânia.

Depois de participar na recente reconciliação diplomática entre Arábia Saudita e Irã, Pequim deseja atuar como mediador na Ucrânia.

Para China e Rússia, a viagem tem o objetivo particular de demonstrar a força de sua relação, no momento em que os dois países enfrentam tensões com as potências ocidentais.

Para Putin, cada vez mais isolado no cenário internacional, a visita de Xi é especialmente importante. Na sexta-feira, 17, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu uma ordem de prisão contra o presidente russo por "crimes de guerra" na Ucrânia.

"Espero trabalhar com o presidente Putin para adotar, em conjunto, uma nova visão nas relações", escreveu Xi em um artigo publicado no jornal Rossiyskaya Gazeta e também divulgado pela agência estatal chinesa Xinhua. "É uma viagem de amizade, cooperação e paz", acrescentou.

Putin elogiou "a vontade da China de ter um papel construtivo na resolução" do conflito e considerou que "as relações Rússia-China alcançaram o ponto mais elevado", em um texto publicado em um jornal chinês.

Apelo de Kiev 
A China não condenou publicamente a ofensiva da Rússia e criticou o governo dos Estados Unidos por fornecer armas à Ucrânia.

No fim de fevereiro, Pequim apresentou um plano de 12 pontos para pedir negociações de paz e o respeito à integridade territorial.

O Kremlin acusou nesta segunda-feira Washington de atiçar o conflito na Ucrânia e "inundar" este país com armas.

Kiev reiterou o apelo para que a Rússia retire as tropas de seu território e afirmou que para o plano de Pequim ter sucesso é necessária "a rendição ou a retirada das forças de ocupação russas do território ucraniano".

A postura de Pequim foi criticada pelos países ocidentais, que consideram que o país oferece cobertura diplomática à guerra russa e que suas propostas não apresentam soluções práticas.

O governo dos Estados Unidos já afirmou que não apoiaria um novo pedido chinês de cessar-fogo durante a visita de Xi a Moscou.

O The Wall Street Journal informou que Xi pode estar planejando a primeira conversa por telefone com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, desde o início do conflito.

Padrões duplos
A visita de Xi permite à Rússia mostrar que não está tão isolada, ainda mais depois que Putin foi acusado pelo TPI de "deportação ilegal" de menores de idade ucranianos.

A Rússia anunciou que abriu uma investigação contra o procurador do TPI, Karim Khan.

"O Comitê de Investigação da Rússia abriu um processo criminal contra o procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Ahmad Khan, e contra vários outros magistrados", anunciou o organismo em um comunicado, em que cita como base a decisão "ilegal" de solicitar a detenção de Putin.

Ao ser questionado sobre o tema, o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, afirmou que o tribunal deveria "manter uma postura objetiva e imparcial e respeitar a imunidade de jurisdição dos chefes de Estado com base no direito internacional". Também pediu ao TPI que "evite a politização e os padrões duplos".

Em um gesto de desafio, Putin visitou no domingo a cidade ucraniana de Mariupol, em sua primeira viagem a um território capturado de Kiev desde o início da ofensiva em 24 de fevereiro de 2022.

A visita de Xi também tem um aspecto econômico importante, depois que a Rússia reorientou sua economia para a China devido às sanções ocidentais.

De acordo com Kremlin, Putin e Xi assinarão vários documentos, em particular sobre a cooperação entre os países até 2030.