Autoridades esperam entre 600 mil e 800 mil manifestantes nas ruas nesta quinta-feira (6)AFP
"Temos a impressão de que estamos diante de um governo surdo (...) que Emmanuel Macron não está nem um pouco interessado no que está acontecendo em seu próprio país", disse à AFP Elise Bouillon, estudante de Arquitetura e Urbanismo, que protestou em Paris contra o que chamou de reforma "injusta e brutal".
Símbolo do descontentamento, um sinalizador lançado durante um confronto entre um grupo de manifestantes radicais e as forças de segurança incendiou parte do toldo do restaurante La Rotonde, em Paris, um local apreciado pelo presidente Macron, antes da rápida intervenção dos bombeiros.
Escolas e universidades foram bloqueadas, algumas viagens de trens foram canceladas, o fluxo está "quase normal": o movimento de protesto continua, mas perdeu força e a crise chegou a um momento de estagnação.
Uma reunião na quarta-feira entre a primeira-ministra, Élisabeth Borne, e os líderes sindicais serviu apenas para constatar que os dois lados mantêm suas posições inflexíveis e aguardam a decisão do Conselho Constitucional, marcada para 14 de abril.
"A única solução é a retirada da reforma", reiterou nesta quinta-feira a nova líder do sindicato CGT, Sophie Binet, para quem, diante da "profunda revolta", o governo "atua como se nada estivesse acontecendo" e "vive em uma realidade paralela".
O governo se nega a desistir da reforma, que aumenta idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e antecipa para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos, e não mais 42, para o direito a uma pensão integral. As medidas são rejeitadas por dois terços dos franceses, de acordo com as pesquisas.
Momento intermediário
As autoridades mobilizaram mais de 11 mil guardas nesta quinta. Oito pessoas foram detidas em Paris até o início da tarde.
O governo afirma que elevar uma das menores idades de aposentadoria da Europa permitirá evitar um futuro déficit no fundo previdenciário, mas os críticos afirmam que a reforma pune as mulheres com filhos e as pessoas que começaram a trabalhar muito jovens.
Desde 7 de março, quando os sindicatos mobilizaram 1,28 milhão de pessoas, segundo a polícia, e 3,5 milhões, de acordo com o sindicato CGT, as manifestações perderam intensidade. Em 28 de março, entre 740 mil e 2 milhões de pessoas saíram às ruas.
A França vive, de acordo com o cientista político Dominique Andolfatto, um "momento intermediário antes da decisão do Conselho Constitucional".
Os primeiros números indicam uma queda na participação. Sem dados oficiais, a CGT calculou a presença de 400 mil pessoas nas ruas da capital.
Crise democrática
O líder do sindicato moderado CFDT, Laurent Berger, culpou Emmanuel Macron pela situação e fez um alerta ao presidente sobre a "crise democrática" e o "risco de ascensão da extrema-direita".
A equipe do presidente liberal de 45 anos rejeita a análise e destaca que a reforma estava no programa da campanha, com o qual ele conseguiu a reeleição em 2022 com quase 59% dos votos no segundo turno contra Le Pen.
Para Andolfatto, uma "saída" possível para a continuidade do movimento social, em caso de validação da reforma, é pressionar os integrantes do Conselho Constitucional para que aceitem o referendo sobre a idade de aposentadoria solicitado pela oposição de esquerda, o que bloquearia temporariamente a lei.
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