A Dominion alega que a Fox apoiou as alegações falsas de Donald Trump sobre fraude nas máquinas de votação eletrônica nas eleições de 2020AFP

Nova York - O julgamento em que a 'Fox News' é acusada de difamação pela fabricante de máquinas de votação Dominion começou nesta quinta-feira, 13, com a seleção do júri, e colocará à prova o direito "sagrado" à liberdade de expressão nos Estados Unidos.
Trata-se de um dos casos por difamação de maior alcance da história do país e que ameaça prejudicar, tanto no bolso como na imagem, a emissora de televisão conservadora do magnata midiático Rupert Murdoch.
A empresa Dominion Voting Systems entrou com uma ação contra a emissora por difamação em um tribunal do estado de Delaware em março de 2021, reivindicando US$ 1,6 bilhão, cerca de R$ 8 bilhões, em danos e prejuízos.
A Dominion alega que a emissora apoiou as alegações falsas de Donald Trump de que teria perdido as eleições de 2020 porque as máquinas de votação eletrônica estavam fraudadas, mesmo sabendo que isso não era verdade.
A empresa afirma que a emissora começou a dar espaço para as acusações de Trump porque estava perdendo audiência, depois de ser o primeiro canal a indicar uma vitória de Joe Biden no estado do Arizona, projetando-o como presidente eleito.
A Fox News, por sua vez, nega ter difamado a Dominion e sustenta que se limitou a informar sobre as alegações de Trump, amparando-se na Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão.
Contudo, em 31 de março, o juiz Eric Davis desconsiderou os recursos da emissora pedindo o arquivamento do caso e decidiu realizar o julgamento. Agora, a Dominion terá que comprovar que a emissora agiu de má-fé, o que, segundo especialistas, não será fácil.
"Caso seja declarada responsável de difamação, a emissora poderá ser obrigada a arcar com uma indenização próxima de 1 bilhão de dólares [quase R$ 5 bilhões, na cotação atual], o que não seria suficiente para levá-la à falência, mas teria consequências reais para seus planos futuros e sua saúde financeira geral", afirma à AFP Nicole Hemmer, historiadora especializada em meios de comunicação da Universidade Vanderbilt de Nashville, no Tennessee.
A ação, no entanto, já vem causando constrangimento ao grupo Fox, pois expôs correspondências de seus apresentadores e comentaristas que, publicamente, apoiavam as teses de Trump para manter a audiência, mas, em particular, não acreditavam nas mesmas.
O próprio Murdoch, de 92 anos, admitiu em um depoimento no caso que alguns apresentadores de seu canal promoveram a falsa alegação de Trump de que a eleição de 2020 foi roubada. O magnata, porém, negou o apoio da rede, em sua totalidade, a essas alegações ou que se tratava de uma orientação da direção do canal.
Além disso, alguns documentos judiciais revelam que ele tachou os comentários de assessores do ex-presidente, como Rudy Giuliani e Sidney Powell, de "coisas realmente loucas e perigosas".
A emissora já superou diversas crises nos últimos anos e se consagrou, no ano passado, e pelo sétimo ano consecutivo, como a mais assistida do país, muito à frente de concorrentes como 'MSNBC' e 'CNN'. Espera-se que a seleção do júri termine esta semana e que o julgamento propriamente dito comece na segunda-feira.