Evan Gershkovich, correspondente em Moscou do 'Wall Street Journal'AFP

Um tribunal de Moscou rejeitou nesta terça-feira, 18, o pedido de libertação do jornalista norte-americano Evan Gershkovich e ele continuará em prisão preventiva por acusações de espionagem.

A detenção em março do correspondente do "Wall Street Journal" (WSJ) é o primeiro caso do tipo em décadas na Rússia e acontece em plena crise entre Washington e Moscou pelo conflito na Ucrânia.

Gershkovich, "combativo" de acordo com sua advogada, apareceu nesta terça pela primeira vez em público desde sua detenção para a audiência. Ele sorriu algumas vezes para os jornalistas que estavam no tribunal.

O repórter, de 31 anos, que cobriu vários julgamentos na Rússia, permaneceu na cela de vidro atribuída aos acusados, com marcas de algemas nas mãos.

Após uma audiência a portas fechadas, o juiz decidiu "deixar inalterada" a prisão do repórter, detido em março, segundo um correspondente da AFP que teve acesso à sala durante a leitura da decisão.

Apesar da detenção, Gershkovich continua "combativo", afirmou uma de suas advogadas, Maria Korchaguina. Na prisão, ele "pratica esportes, entende que tem o apoio das pessoas", acrescentou.

O Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia anunciou a detenção do repórter em março, quando ele trabalhava em Ekaterimburgo.

O Kremlin afirma que ele foi detido em flagrante delito de espionagem, sem apresentar nenhuma prova neste sentido, pois o caso é sigiloso. As autoridades russas o acusam de coletar informações sobre a indústria de defesa.

Evan Gershkovich, sua família, o WSJ e as autoridades norte-americanas rejeitam categoricamente as acusações de espionagem, que podem resultar em uma pena de 20 anos de prisão, e acusam Moscou de perseguição por seu trabalho de jornalista.

Visita
A embaixadora dos Estados Unidos em Moscou, Lynne Tracy, que compareceu nesta terça ao tribunal, visitou o jornalista na segunda-feira, 16, pela primeira vez desde sua detenção.

"Ele está bem de saúde e continua forte, apesar das circunstâncias", afirmou Tracy no Twitter depois de visitar o jornalista.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, voltou a exigir a "libertação imediata" do repórter americano, conhecido por seu rigor e amor pela Rússia.

"Não perco a esperança", afirmou Gershkovich em uma carta enviada a seus pais, publicada na semana passada pelo Wall Street Journal.

A detenção acontece em um momento de grave tensão diplomática entre Estados Unidos e Rússia pelo conflito da Ucrânia, onde Washington apoia Kiev contra Moscou.

Desde o início da ofensiva russa contra a Ucrânia no ano passado, as autoridades intensificaram a repressão na Rússia contra os opositores e contra a imprensa.

A detenção de Gershkovich causou um grande choque, porque nenhum jornalista ocidental havia sido preso e acusado de espionagem na Rússia há décadas.

Muitos analistas acreditam que o jornalista poderia ser usado por Moscou em uma possível futura troca de prisioneiros com Washington.

Em dezembro de 2022, a estrela do basquete Brittney Griner, detida na Rússia, foi trocada pelo traficante de armas russo Viktor Bout, que estava preso nos Estados Unidos. A data do início do julgamento de Gershkovich não foi anunciada.