Batata-doce biofortificada é uma alternativa para combater a carência de vitamina A entre os mais pobres Divulgação/Gilson Jr.

Por conta de suas qualidades nutricionais, desde 2017 pesquisadores da Unesp trabalham em um projeto de melhoramento genético da batata-doce, com foco na biofortificação de betacaroteno. Alimentos biofortificados são obtidos através do cruzamento entre diferentes variedades que apresentam maiores concentrações de nutrientes. Segundo o Jornal da Unesp, objetivo do processo é gerar cultivares com um maior grau nutricional, visando diminuir ou eliminar deficiências de vitaminas na população.
Pablo Forlan Vargas, docente da Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira da Unesp, Campus Registro, coordena o projeto que promove a biofortificação da batata-doce. A iniciativa surgiu da observação da realidade da região: desde 1994 o Ministério da Saúde considera o Vale do Ribeira como uma área endêmica de insuficiência de vitamina A. O nutriente é essencial para o crescimento e desenvolvimento humano. A deficiência se verifica principalmente em crianças e gestantes que podem sofrer com distúrbios oculares e mau funcionamento do sistema imunológico.
Além do Vale do Ribeira, o Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, e o Nordeste brasileiro são outras áreas onde se verifica um alto índice de hipovitaminose A. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-2006), 17,4% das crianças apresentam níveis inadequados de vitamina A, sendo as maiores prevalências encontradas no Nordeste e no Sudeste do Brasil. O novo projeto mira o combate à deficiência. “A partir dessa necessidade, buscamos desenvolver um material que fosse importante tanto para o pequeno agricultor, de subsistência, como também para o grande agricultor, que gera emprego e renda no campo. O foco do nosso trabalho é desenvolver novas cultivares que sejam ricas em betacaroteno”, explica Vargas.
Desde 2018 a pesquisa conta com apoio da FAPESP, tendo o financiamento sido renovado em 2021. O projeto teve início a partir de uma cooperação com o Centro Internacional da Batata (CIP), responsável por fornecer as variedades que foram utilizadas na pesquisa. Em Moçambique, Maria Isabel Andrade, pesquisadora do CIP, obteve os materiais necessários através do cruzamento entre diferentes variedades de batata-doce. Os “filhos” de todos esse cruzamentos foram posteriormente enviados para o Brasil e recebidos por Vargas para a próxima fase da pesquisa.
Atividades extensionistas
Em outubro de 2022, o Centro de Raízes e Amidos Tropicais da Unesp (Cerat-Unesp) e a Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira (FCAVR-Unesp) promoveram atividades extensionistas de maneira a divulgar e introduzir o novo alimento em duas comunidades. “Esse é um projeto de inovação social porque a batata-doce da Unesp vai atender quilombolas, assentamentos e agrovilas. Nesse sentido, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura se torna responsável pelo processo de extensão, transferindo a tecnologia para a sociedade”, comenta Guerra.
O primeiro encontro foi realizado no Quilombo de Peropava, em Registro, no interior paulista. Ao longo do dia, pesquisadores apresentaram as propriedades da raiz e seus benefícios para a saúde humana. Além disso, a equipe e os moradores cozinharam diferentes preparos com batata-doce, indo de sucos, tortas, pães, até pudins. O encontro foi encerrado com o plantio da batata-doce biofortificada, de maneira que a comunidade tenha acesso contínuo ao alimento.
A segunda atividade de extensão ocorreu em Tapiraí, na Associação Rural Comunitária de Promoção Humana e Proteção à Natureza. Na ocasião, foi realizado o plantio da batata-doce visando tanto o consumo como também a comercialização do alimento em feiras livres na cidade de Sorocaba, das quais participam os integrantes da associação. Para isso, a equipe retornou para a região para realizar também a colheita, desta vez em conjunto com os associados, apresentando informações relacionadas às técnicas de cultivo e às características nutricionais da raiz.
Ambos os municípios estão localizados no Vale do Ribeira. No Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A (PNSVA), há a meta de que a cidade de Registro receba 938 doses de Vitamina A 100.000 UI e 764 doses de Vitamina A 200.000 UI em 2023. Já a cidade de Tapiraí não consta no plano de metas do PNSVA.