Efeitos do bombardeio no bairro de Desnyanskyi, zona norte de KievReprodução/Moscow Times

A Rússia afirmou nesta quinta-feira, 1, que impediu uma tentativa de "invasão" ucraniana em uma região de fronteira do sudoeste do país, poucas horas depois de bombardear Kiev, em um ataque que deixou três mortos, incluindo uma criança.
A capital da Ucrânia foi alvo de vários bombardeios noturnos em maio, além de um incomum ataque diurno na segunda-feira passada, 29, que obrigou os moradores a procurar por abrigos.
O bombardeio mais recente aconteceu na madrugada desta quinta-feira e deixou três mortos no bairro de Desnyanskyi, zona norte da cidade. Uma criança de nove anos está entre as vítimas fatais e 16 pessoas ficaram feridas.
Depois que Kiev ter acionado as defesas aéreas para evitar os ataques de mísseis balísticos e de cruzeiro russos, Moscou afirmou que impediu uma tentativa da Ucrânia de "invadir" a região de Belgorod com tanques e soldados.
"Por volta das 3h, unidades ucranianas formadas por até duas companhias de infantaria motorizada, reforçadas com tanques, tentaram invadir o território", alertou o ministério da Defesa russo em um comunicado.
Moscou utilizou aviões artilharia para evitar os ataques e conseguiu impedir que as tropas ucranianas entrassem em seu território, segundo o ministério. Algumas horas antes, as autoridades regionais informaram que pelo menos oito pessoas ficaram feridas em um ataque que atribuíram à Ucrânia.
Os bombardeios e as incursões aumentaram nas últimas semanas na Rússia, ao mesmo tempo que Kiev afirma que está finalizando uma grande contraofensiva para recuperar os territórios ocupados por Moscou desde o início da invasão, em fevereiro de 2022.
A Força Aérea ucraniana conseguiu interceptar e derrubar 10 mísseis balísticos e de cruzeiro que a Rússia lançou a partir da região de Briansk.
O prefeito da capital, Vitali Klitschko, informou que três pessoas morreram perto de uma clínica quando tentavam chegar a um refúgio. "O fragmento de um foguete caiu na entrada de um centro médico quatro minutos após o anúncio de um ataque aéreo. E as pessoas estavam tentando procurar abrigo", declarou.
O ministro do Interior, Igor Klymenko, afirmou que as pessoas morreram porque o refúgio ao qual tentavam chegar estava fechado. "Um refúgio fechado em tempos de guerra não é apenas indiferença, é um crime", denunciou, antes de anunciar a abertura de uma investigação.
O marido de uma das vítimas, Yaroslav Ryabchuk, confirmou que o local estava fechado e que tentou procurar ajuda. "Quando retornei, já havia muito sangue. Crianças e mulheres no chão. Havia gritos e poeira", contou à AFP.
O homem, que tem vários filhos, perdeu a esposa no ataque. "Nada mais importa", lamentou.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acusou a Rússia de "aterrorizar" a população civil. Moscou, no entanto, alega que ataca apenas instalações militares.
Na Rússia, o governador de Belgorod, Vyacheslav Gladkov, relatou "bombardeios ininterruptos" que deixaram oito feridos no distrito de Shebekino, de 40.000 habitantes.
Com o aumento das incursões e dos ataques na zona de fronteira, as autoridades anunciaram na quarta-feira, 31, o início de operações de retirada.
Gladkov informou que moradores de Shebekino, incluindo menores de idade, começaram a chegar a abrigos temporários nesta quinta-feira, 1.
A Rússia criticou a ausência de condenações internacionais após os bombardeios ucranianos em Belgorod. "A comunidade internacional tem todas as possibilidades de observar as imagens, ler artigos que descrevem os bombardeios contra edifícios residenciais", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
"E não há uma só palavra criticando ou condenando o regime de Kiev por isto", acusou. Mais de um ano depois do início da invasão, a Rússia começou a sofrer ataques em seu território.
Na terça-feira, 30, foi registrada uma incursão sem precedentes com drones em Moscou, o que provocou um grande choque entre os moradores da capital.
"A situação é realmente alarmante", disse Peskov na quarta-feira, 31, antes de atribuir o aumento dos ataques às potências regionais. Kiev negou qualquer "envolvimento direto" no ataque contra Moscou.