Li foi recebido pelo presidente alemão, Frank-Walter Steinmeierafp

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, iniciou sua primeira viagem ao exterior nesta segunda-feira, 19, com uma visita à Alemanha, um parceiro cada vez mais crucial para Pequim, em meio a crescente desconfiança do Ocidente.

Li foi recebido pelo presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, embora o encontro mais importante esteja programado para terça-feira, 20, quando se reunirá com o chefe de Governo, Olaf Scholz.

O presidente alemão deu o tom do encontro com o líder chinês: a cooperação entre os dois países "continua sendo importante, mas mudou nos últimos anos", disse Steinmeier, segundo tuítes de seu porta-voz, Cerstin Gammelin.

"A China é parceira da Alemanha e da Europa, mas também cada vez mais uma concorrente e rival no cenário político", acrescentou.

O ministro chinês garantiu que seu país está pronto para trabalhar com a Alemanha para contribuir para a "estabilidade e a prosperidade global", segundo a agência oficial de notícias Xinhua.

Depois da Alemanha, Li Quiang, nomeado em março, visitará a França para um encontro de cúpula sobre um novo pacto financeiro global. As visitas a Paris e Berlim acontecem no momento em que as relações entre Pequim e Washington estão especialmente tensas.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que visita Pequim para tentar acalmar a situação, reuniu-se nesta segunda-feira com o presidente chinês, Xi Jinping.

Para a Alemanha, as relações entre China e Estados Unidos são de grande importância "para a segurança e a cooperação mundial", destacou Steinmeier, que pediu às duas potências que "reforcem seus canais de comunicação".

A Alemanha tem sido, há anos, conciliadora com a China, seu maior parceiro comercial e um mercado vital para seu poderoso setor automotivo.

Nos últimos anos, contudo, mudou o tom, especialmente ante as ameaças contra Taiwan, as acusações de perseguição contra os uigures e a ausência de uma condenação do presidente chinês, Xi Jinping, à invasão russa da Ucrânia.

Força hostil
Um exemplo disso foi a publicação em 14 de junho, por parte do governo alemão, de um documento que descreve a China como uma força hostil.

Em sua "Estratégia de Segurança Nacional", um documento inédito, o governo alemão disse que a China está buscando "maneiras de remodelar a ordem internacional (...) e age constantemente em contradição com nossos interesses e valores".

"Considerar e construir relações internacionais vendo os demais como concorrentes, rivais ou até mesmo adversários, e transformar a cooperação normal em questões de segurança ou políticas apenas levará nosso mundo a um redemoinho de divisão e de confronto", advertiu o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin.

As dificuldades da economia chinesa, que luta para se recuperar do período pós-pandemia, motivam a visita de Li Qiang à Alemanha. Esta última tenta, por sua vez, reduzir sua dependência comercial de Pequim.

A Alemanha "não tem interesse em dificultar o crescimento econômico da China", frisou o chanceler Olaf Scholz nesta segunda-feira perante industriais alemães. "E, ao mesmo tempo, estamos observando de perto para evitar dependências econômicas perigosas no futuro".

Li Qiang é "o czar econômico de Xi e é responsável por consertar a economia, que está em dificuldades", disse à AFP Ian Johnson, especialista em China no "think tank" americano Council on Foreign Relations. "Portanto, faz sentido recorrer ao principal parceiro comercial da China na Europa", observou.

"Para a China, a Alemanha é o 'player' mais importante da Europa e, à medida que as relações com os Estados Unidos se deterioram, Pequim tem interesse em mostrar que mantém relações construtivas" com ele, afirmou Thorsten Brenner, do Global Public Policy Institute (GPPI).