Lago Crawford em Ontário, CanadáAFP
Este pequeno reservatório de água doce contém sedimentos com vestígios de microplásticos, cinzas depositadas pela queima de petróleo e carvão ao longo de décadas e até vestígios de explosões nucleares distantes, segundo dados do Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno.
"Os dados mostram uma clara mudança desde meados do século XX, que levaram a Terra a cruzar os limites normais do Holoceno", época que começou há 11.700 anos, disse Andy Cundy, professor da Universidade de Southampton e membro do grupo de trabalho.
"Essa votação do grupo de trabalho é uma etapa regular, o primeiro passo" na cadeia de decisões, alertou o secretário-geral da União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), Stanley Finney, em um e-mail enviado à AFP.
Essa votação deve ser submetida primeiro à ICS, a Comissão Internacional de Estratigrafia (ramo da geologia que estuda a idade e a composição do subsolo por meio de seus estratos), lembrou o especialista.
Em seguida, deve ser estudada pelo IUGS, a máxima autoridade no assunto.
O termo Antropoceno já circula entre os especialistas há mais de duas décadas, enquanto o calendário do planeta Terra começou há cerca de 4,6 bilhões de anos.
A história do planeta Terra é dividida em éons, eras, períodos, épocas e idades geológicas. Estamos atualmente na era Cenozoica, período quaternário, época do Holoceno.
A discussão entre os especialistas é se o inegável impacto humano é importante o suficiente para causar essa mudança decisiva de época.
O ser humano, com sua necessidade de energia e alimentos, leva o planeta a uma crise ambiental decisiva, segundo climatologistas e ecologistas, que exigem acima de tudo o fim dos combustíveis fósseis.
Coincide com o aumento das concentrações de gases de efeito estufa, poluição de microplásticos, resíduos radioativos de testes nucleares e uma dúzia de outros marcadores da crescente influência da nossa espécie no planeta.
Se extraterrestres pousassem na Terra daqui a um milhão de anos e examinassem suas rochas e sedimentos, eles seriam capazes de detectar um traço significativo o suficiente da passagem da humanidade?
Do ponto de vista demográfico, a humanidade experimentou uma explosão sem paralelo: dos 2,5 bilhões de habitantes em 1950 passou para mais de 8 bilhões em 2022, segundo dados da ONU.
Mas os geólogos calculam em termos de estratos, de sedimentos.
O mais provável é que, na próxima grande reunião do ICS, o Antropoceno seja classificado como um "acontecimento geológico", na opinião de Phil Gibbard, secretário dessa comissão.
"As condições que causaram as glaciações – uma dúzia de ciclos no último milhão de anos – não mudaram", alegou este especialista em 2022.
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