Homens do exército colombiano patrulham as ruas de Buenaventura, na região do Valle del CaucaAFP
Segundo a ONG Paz e Reconciliação (Pares), ao todo, são quase 2.000 combatentes entre eles, que ganharam notoriedade em agosto de 2022, quando um morador do mais importante porto colombiano do Pacífico registrou um confronto armado.
"Buenaventura sempre esteve submersa no esquecimento, (...) infelizmente temos que chamar a atenção pela violência. E nós chamamos", alega um representante dos Shottas perante o governo, que após meses, instalou, nesta terça-feira (18), uma "mesa de paz urbana" com ambas as facções.
Após o acordo, vários jovens começaram a trabalhar com pás e carrinhos de mão na manutenção do campo de terra e pedra.
"É a primeira vez que alguns trabalham em uma construção, mas eles gostaram", comenta o líder. Todos são negros, como 91% dos 350 mil habitantes desta cidade, por onde passa 33% do comércio internacional da Colômbia e é também uma cobiçada rota do tráfico de drogas para a América Central e o México.
Diante da aproximação com o governo do esquerdista Gustavo Petro, cerca de 200 integrantes dos dois grupos foram vinculados a projetos como este financiados pelo Estado.
Mas a trégua não está garantida, ainda não existe uma lei que sustente o que foi discutido na mesa de paz e o inconformismo cresce entre as quadrilhas que, segundo as autoridades, controlam o tráfico de drogas e as rotas de extorsão.
No início de julho, homens armados e mascarados, aparentemente de um terceiro grupo, alertaram que a violência ainda não havia deixado o porto.
Pagar para ''não matar''
Em 2021, o confronto entre as duas facções elevou a taxa de homicídios da cidade para 61,6 a cada 100 mil habitantes, quase o dobro do ano anterior e bem acima da média nacional (24).
"Se houvesse mais obras como esta, talvez tivéssemos menos jovens mergulhados no conflito (...) sempre pedimos investimento social e não à militarização", disse o porta-voz dos Shottas.
Com um índice de pobreza de 40% e desemprego atingindo mais de 25% da população, o porto movimenta a economia da cidade, mas esta acaba sendo "controlada e governada" pelas facções, diz Juan Manuel Torres, investigador do Pares.
É "um momento de tensão porque não há segurança jurídica e há muitos interesses econômicos por trás. As estruturas estão muito nervosas", acrescenta Torres, que estima que a guerra urbana tenha deixado cerca de 300 vítimas.
No ano passado, os grupos armados começaram a dialogar com o governo de Petro. No entanto, em uma visita recente, o presidente colombiano lançou uma ousada proposta chamada 'juventude em paz'.
"Pagaremos milhares de jovens para não matar, para não participar da violência e para estudar", disse o mandatário. Entretanto, a iniciativa foi criticada pela oposição e pelo procurador-geral da República, Francisco Barbosa, por "incentivar o crime", mas parece responder aos pedidos dos grupos armados.
"Propusemos a criação de grupos juvenis (para) pedir um estudo ao governo. [O desemprego] é o que traz a pobreza e a pobreza vem acompanhada da violência", finaliza o líder dos Shottas.
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