Papa Francisco durante sua chegada ao Aeroporto Internacional de Chinggis KhaanAFP
O pontífice argentino, de 86 anos, permanecerá até a próxima segunda-feira, 4, no país, de maioria budista. A viagem tem o objetivo de expressar apoio à ínfima comunidade católica local e, ao mesmo tempo, apresenta uma importância estratégica ante a tentativa do Vaticano de melhorar as relações com as potências vizinhas da Mongólia, China e Rússia.
O avião com Francisco pousou pouco antes das 10h (23h de Brasília, quinta-feira, 31) na capital do país, Ulan Bator, onde o papa foi recepcionado pela ministra das Relações Exteriores, Batmunkh Battsetseg, escoltada por integrantes da guarda de honra mongol.
Em seguida, o papa seguiu para a residência do bispo italiano Giorgio Marengo, que é o cardeal mais jovem do mundo e atua como representante da prefeitura apostólica de Ulan Bator. Na chegada, Francisco foi aclamado por centenas de pessoas, que gritaram: "Longa vida ao papa!".
A freira Aleth Evangelista disse à AFP que ela e outras religiosas se consideram "abençoadas e felizes por receber o papa" em um país que tem pouco mais de 1.400 católicos, entre uma população de mais de três milhões de pessoas.
Esta é a segunda visita de Francisco à Ásia Central no período de um ano, depois da viagem ao Cazaquistão em setembro de 2022, o que ressalta a importância geopolítica da região.
Unidade e paz
"Assegurando as minhas orações pelo bem-estar da nação, invoco sobre você todas as bênçãos divinas de unidade e paz", afirmou na mensagem.
Questionado durante o voo se o trabalho diplomático é complexo, o papa respondeu: "Sim, vocês não sabem até que ponto é difícil. Às vezes é preciso ter senso de humor".
Pequim respondeu à mensagem do pontífice e afirmou, por meio do porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, que deseja "reforçar a confiança mútua" com o Vaticano e promover "um processo de melhoria das relações bilaterais". China e Vaticano não mantêm relações diplomáticas.
O Partido Comunista da China é oficialmente ateu e exerce um controle severo sobre as organizações religiosas, o que inclui a revisão dos sermões e a seleção dos bispos.
Francisco iniciou um esforço para melhorar o vínculo com a China e, em 2018, a Santa Sé alcançou um acordo secreto com as autoridades de Pequim que permitiu às duas partes ter voz na nomeação dos bispos no país asiático. O acordo foi renovado por dois anos em outubro de 2022.
A visita à Mongólia, a 43ª viagem de Francisco em pouco mais de 10 anos à frente da Igreja Católica, é crucial para as relações do Vaticano com Pequim e Moscou, capitais para as quais o papa ainda não foi convidado.
Desafio físico
Após um dia de descanso nesta sexta-feira, Francisco iniciará a agenda oficial com uma cerimônia de boas-vindas no sábado e encontros com o presidente, Ukhnaa Khurelsukh, e o primeiro-ministro, Luvsannamsrai Oyun-Erdene.
Francisco também se reunirá com a comunidade católica local, que tem apenas 25 padres (somente dois nascidos no país) e 33 freiras.
No domingo está programada uma missa para um estádio de hóquei no gelo, com a participação de peregrinos de países vizinhos.
A Mongólia, que foi parte do império de Gengis Khan, depende da Rússia para a importação de energia e da China para a exportação de minerais. Apesar de manter uma linha neutra, o país busca um equilíbrio no cenário internacional.
O status pode ajudar o Vaticano nas relações com Pequim e Moscou, pois a Santa Sé tenta estimular um acordo de paz para a guerra na Ucrânia.
O papa Francisco também pode usar a viagem a um ex-satélite da órbita da União Soviética, que se tornou uma democracia em 1992, para promover a defesa do meio ambiente.
A Mongólia sofre com os impactos da mudança climática provocados pela mineração, o pastoreio excessivo e a desertificação. O cenário obrigou os nômades, que representam um terço da população, a migrar para a capital, que tem várias moradias precárias para os deslocados.
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