Sobrevivente inconsolável volta à cena do devastador terremoto que abalou Marrakesh AFP

Rabat - O número de mortos no terremoto que devastou o Marrocos na noite desta sexta-feira (8) superou a marca de dois mil, de acordo com o Ministério do Interior do país. O trágico tremor fez 2.012 vítimas fatais e deixou 2.059 feridos, dos quais 1.404 estão em estado muito grave, segundo um novo relatório publicado neste sábado (9). Um total de 1.293 pessoas morreram na província de Al Haouz e 452 na província de Tarudant, ambas localizadas ao sul de Marrakesh, informou o ministério em comunicado.
No vilarejo de Moulay Brahim, nas montanhas do Alto Atlas, todos os moradores estão cientes da tragédia que atingiu Lahcen, que perdeu sua esposa e seus quatro filhos no forte terremoto que atingiu Marrocos. "Eu perdi tudo", admite Lahcen, no posto de saúde desta pequena localidade, localizada a mais de uma hora de carro da turística cidade de Marrakesh.


Na tarde deste sábado, 9, os socorristas ainda não haviam conseguido retirar o corpo de sua esposa e de um de seus filhos dos escombros de sua casa, que desabou durante o terremoto. Os corpos de dois de seus filhos já haviam sido retirados. "Tudo que eu quero é me afastar do mundo e lamentar minha perda", afirma Lahcen, que estava fora de casa quando o terremoto ocorreu.
Com uma magnitude de 6,8, o terremoto causou até agora 1.037 mortes e 1.204 feridos, de acordo com o balanço do Ministério do Interior. Segundo a imprensa marroquina, este é o terremoto mais poderoso já registrado no país do norte da África.

Mais da metade das mortes (542) ocorreu na província de Al Hauz, no epicentro do terremoto e onde está Moulay Brahim. As equipes de resgate, com a ajuda de maquinário de construção, continuam a procurar sobreviventes nos destroços deste vilarejo, que sofreu dezenas de mortes.

Os moradores da cidade, que tem cerca de 3 mil habitantes, já começaram a cavar sepulturas em uma colina. "É uma tragédia terrível, estamos chocados com essa desgraça", diz Hasna, uma moradora sentada à porta de sua casa. "Embora minha família esteja a salvo, todo o vilarejo chora por seus filhos. Muitos vizinhos perderam parentes. É uma dor indescritível", acrescenta.

No topo da cidade, Bouchra enxuga os olhos marejados enquanto vê alguns de seus vizinhos cavando sepulturas. "Os filhos da minha prima morreram", lamenta. "Vi os estragos do terremoto ao vivo e ainda tremo agora. Foi como se uma bola de fogo tivesse devorado tudo em seu caminho", conta Bouchra. "Todo mundo aqui perdeu alguém de sua família, seja no vilarejo ou em outros da região", acrescenta.
Lahcen Aït Tagaddirt também sofreu a perda de dois sobrinhos, de 6 e 3 anos."É a vontade de Deus", repete este homem vestido com uma túnica tradicional, lamentando a dureza da vida nesta região montanhosa: "Não temos nada aqui".
Brasileiros no Marrocos
A Embaixada do Brasil em Rabat, a capital do Marrocos afirmou neste sábado, 9, que não há registro de brasileiros entre as vítimas do forte terremoto que deixou mais de mil mortos no país.

"A Embaixada do Brasil em Rabat acompanha com atenção os desdobramentos do terremoto", diz a nota que expressa solidariedade ao povo marroquino. "Não há, até o momento, notícia de brasileiros mortos ou feridos", continua o texto.

O texto, no entanto, não deixa claro se há algum registro de brasileiros entre os desaparecidos. O Estadão entrou em contato com a Embaixada e, até o momento, não teve retorno.
*Com informações da AFP