Sarah Ashton Cirillo é uma jornalista norte-americanaRoman Pilipey/AFP
Agora, ela é porta-voz das forças de defesa territoriais integradas por reservistas e explica a guerra ao público que fala a língua inglesa. Durante uma visita ao seu local de trabalho em Kiev, mantido sob sigilo, explica que sua unidade não teme ser alvo do "ódio dos russos".
"Se os russos estão com raiva é porque fazemos bem nosso trabalho", comenta a mulher de 46 anos. Na semana passada, a televisão russa exibiu um programa de uma hora em que Sarah foi qualificada de "monstro" e de "vergonha para o povo ucraniano".
A americana dirige dois programas no YouTube e também publica sem descanso no X (antes Twitter), onde é seguida por mais de 156.000 pessoas. Sarah, que não fala ucraniano, divulga a comunicação oficial do governo, enquanto dribla a cobertura midiática russa.
Também segue os meios de comunicação internacionais. Em agosto, anunciou um "boicote" à CNN, porque o canal de televisão americano havia qualificado os combatentes estrangeiros na Ucrânia de "mercenários", o que a emissora corrigiu logo depois.
Durante uma visita ao seu estúdio, ela apresenta os colegas à AFP. Todos estiveram na frente de batalha antes de vestir um uniforme com a insígnia de sua unidade e o lema em latim "Ad resistendum" ("Resistir").
A porta-voz tem liberdade editorial sobre seu conteúdo e deseja evitar uma cobertura da guerra baseada apenas em números.
A audiência de seu canal no YouTube, ainda recente, é bastante limitada - cerca de 20.000 visitas em agosto - mas os ataques contra ela na imprensa russa superam amplamente as proporções.
Recebeu as Marchas do Orgulho e permitiu que as pessoas LGBTQIA+ se unam ao Exército. No entanto, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos crítica seu tratamento aos casais homoafetivos.
Quando chegou como jornalista, Sarah trabalhou na região de Kharkiv (nordeste). Grande parte da região foi ocupada pelos russos e bombardeada.
"Ver de perto os crimes de guerra e o terrorismo russo me levaram a passar de observadora imparcial a combatente", afirma.
Acreditando que podia ser "mais útil como soldado", uniu-se a uma unidade de tártaros da Crimeia, uma minoria muçulmana. Trabalhou como enfermeira militar com o nome de guerra "Loira".
Os russos não demoraram a detectá-la. A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, citou em abril de 2022 uma "jornalista transgênero de Las Vegas filmada em Kharkiv fotografando-se abraçando alguns bandidos".
Para Sarah, o comentário é difícil de aceitar. Segundo ela, desde o início do ano, a Rússia intensifica os ataques. "Me acusam de ser Satanás e de responder as ordens do Departamento de Estado (americano)", comenta.
"Quando os russos descobriram que estava na frente de batalha, buscaram minha unidade. Queriam me neutralizar, sequestrando ou matando", garante.
As Forças Armadas decidiram então que ela deveria sair da frente de batalha e ofereceram o posto de porta-voz. Uma oferta que custou aceitar, sentindo-se culpada de abandonar sua unidade. "Mas aceitei, pois nosso dever é informar sobre esta guerra", destaca.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.