Presidentes Joe Biden e Lula se unem para defender justiça e sustentabilidade na economia globalRicardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden apresentam nesta quarta-feira, 20, uma iniciativa global de defesa do trabalho digno, em um momento de greves nos Estados Unidos e de ótima relação entre o Brasil e a China, grande rival de Washington.

Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos compartilham uma "clara afinidade" sobre o tema, afirmou uma fonte do governo norte-americano que pediu anonimato.

A defesa dos direitos trabalhistas e da classe média é uma das grandes bandeiras de Biden, em particular visando as eleições de 2024, e de Lula, ex-metalúrgico e líder sindical.

Os dois se reunirão nesta quarta à margem da Assembleia Geral da ONU, o segundo encontro dos chefes de Estado desde a posse de Lula em janeiro para seu terceiro mandato.

O governo norte-americano tenta melhorar sua relação com Lula, com quem já enfrentou algumas divergências, consciente de que o Brasil olha cada vez mais para a China.

Desafios 
A iniciativa busca "promover os direitos dos trabalhadores em todo o mundo", explicou outra fonte do governo americano, que também pediu anonimato.

"Acredito que isto destaca o fato de que a relação entre Estados Unidos e Brasil não é apenas bilateral. É de natureza global", declarou a fonte, antes de acrescentar que os países "têm uma visão comum para um crescimento econômico equitativo e inclusivo".

O objetivo é incluir outros países na iniciativa para superar os desafios do mercado de trabalho do século XXI.

A meta é lutar contra a exploração, incluindo o trabalho forçado e o trabalho infantil, a economia informal, a discriminação no ambiente de trabalho, em particular contra mulheres e pessoas LGBTQI+, e a marginalização de grupos raciais e étnicos, explicou a fonte.

Os governos também pretendem estabelecer uma prestação de contas e abordar os investimentos público e privado, a transição para energias limpas e a transformação digital.

Voz global
"Queremos garantir que esta iniciativa apresente resultados concretos para os trabalhadores nos próximos meses", afirmou a funcionária do governo americano, no momento em que os Estados Unidos enfrentam uma greve no setor automotivo e uma paralisação de atores e roteiristas em Hollywood. "Nada nesta iniciativa deve ser interpretado como algo que desencoraja ou limita o direito à greve", disse.

Além dos direitos dos trabalhadores, Lula e Biden provavelmente conversarão sobre a guerra na Ucrânia, pouco antes da reunião do brasileiro com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

O conflito na Ucrânia provoca divergências. Washington lidera a ajuda a Kiev contra as tropas russas e Lula tem uma posição neutral.

"O Brasil é uma voz importante, uma voz global, acredito que também é uma ponte entre os países mais ricos e as economias em desenvolvimento", explicou a fonte.

Lula reclama que a governança mundial é "assimétrica". Ele insiste que a revolução digital e a transição energética não podem ficar nas mãos de "algumas economias ricas".

A boa sintonia com a China, país que visitou há alguns meses para reforçar os laços econômicos, preocupa Washington, que se distancia da nação rival.

"Talvez no âmbito comercial a China esteja fazendo mais no lado dos investimentos, mas a chave é que Pequim não reconhece os atores não estatais como legítimos na política", disse a fonte, em referência à sociedade civil.

A afinidade entre Brasil e China pode ter algum efeito positivo para Washington em outro tema que certamente será abordado nesta quarta-feira: a crise no Haiti.

Em julho, o Quênia anunciou que está disposto a liderar uma intervenção policial multinacional para ajudar as forças de segurança haitianas a combater as gangues, mas precisa de autorização do Conselho de Segurança da ONU, no qual a China está relutante.

O Brasil "é uma voz importante, não apenas para compreender a situação no Haiti, desempenhando um maior papel potencial como contribuinte, mas também para envolver outros membros do Conselho de Segurança da ONU, incluindo a China", afirmou a fonte do governo norte-americano.