Brasileiros fazem refeição em casa na cidade palestina de Rafah, onde aguardam autorização para atravessar fronteira com Egito Divulgação

Os 16 brasileiros que estavam no norte da Faixa de Gaza abrigados em uma escola católica chegaram ao sul da região, na cidade de Rafah, fronteira com o Egito, onde aguardam liberação para deixar o solo palestino. Até a publicação desta matéria, o governo brasileiro não tinha previsão de quando as famílias serão autorizadas a passar pela fronteira com o Egito para embarcar em um voo de repatriação ao Brasil e as negociações internacionais seguem em curso.
O grupo é predominantemente composto por mulheres e crianças. Segundo o governo brasileiro, agora eles estão em uma "casa provisória simples, aberta, e com um mínimo de conforto e segurança". A casa, em Rafah, fica a uma curta caminhada da fronteira com o Egito e foi alugada pelo governo brasileiro.
Inicialmente, o grupo seria transportado de ônibus fretado pelo governo federal até Khan Yunis, 25 km ao sul de onde estavam os 12 brasileiros com interesse na repatriação. Bombardeios na região de Khan Yunis, pela manhã deste sábado, 14, no entanto, alteraram os planos iniciais. O grupo foi conduzido até a casa alugada pelo governo em Rafah, onde permanecem até que haja a liberação para cruzar a fronteira.
"Ali eles ficarão aguardando tranquilamente o momento de passar, quando a fronteira se abrir. Uma enorme diferença em relação à tensão e às bombas de onde estavam até hoje pela manhã", afirmou o embaixador Alessandro Candeas, chefe do Escritório de Representação do Brasil em Ramala, na Cisjordânia, em declaração divulgada pelo governo brasileiro. "Graças a Deus eles estão longe da parte mais intensa dos bombardeios", disse o embaixador. A tensão dos brasileiros quando estavam abrigados na escola católica ao norte da Faixa de Gaza, região que tem sofrido a maior parte dos bombardeios, era alta", afirmou.
Ao todo, o governo brasileiro trabalha para retirar do local 28 pessoas, sendo 14 crianças, oito mulheres e seis homens adultos. Uma parte do grupo está em Khan Yunis, onde vive, e a outra, em Rafah.
A preocupação ao longo do dia foi retirar do norte os que se encontravam dentro da escola católica, depois do ultimato dado pelo exército de Israel, que ordenou que os palestinos se deslocassem do norte para o sul de Gaza, para se proteger, diante do iminente ataque por terra que deve ser realizado pelos israelenses.
Centenas de milhares de pessoas foram desalojadas apenas nas últimas 12 horas, segundo a Organização das Nações Unidas. O norte de Gaza está sob bombardeios de Israel, que promete "acabar" com o grupo terrorista Hamas, após ataques terroristas realizados contra Israel há uma semana.
Havia preocupação em garantir o deslocamento dos brasileiros com segurança. Cidadãos palestinos que tentavam fugir do norte da Faixa de Gaza foram atingidos por um bombardeio nesta sexta-feira, 13. Cerca de 70 pessoas foram mortas, divulgou o Ministério da Saúde palestino. O comboio se deslocava para o sul da região após a ordem de Israel de esvaziar o local.
Negociações
Na sexta-feira, o governo brasileiro havia recebido a informação do Egito de que a fronteira ficaria aberta por algumas horas para a passagem. A informação mudou neste sábado.
O governo brasileiro tem negociado com o Egito, com Israel e também com a Autoridade Palestina para garantir a segurança dos cidadãos que estão na região e a saída do grupo que deseja embarcar no voo de repatriação ao Brasil. Na sexta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por telefone com o presidente de Israel, Isaac Herzog. Neste sábado, Lula falou, também por telefone, com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e com o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi
A Fattah al-Sissi, Lula disse que "assim que os brasileiros cruzarem a passagem de Rafah serão acompanhados pelo embaixador do Brasil no Egito até o Aeroporto de Arish, onde embarcarão imediatamente em aeronave da Força Aérea Brasileira com destino ao Brasil". A declaração é uma forma de tentar viabilizar a passagem, ao garantir que os brasileiros não ficarão em solo egípcio.
Em paralelo às tratativas do Brasil para garantir a saída de seus cidadãos, há tratativas internacionais envolvendo a passagem pelo Egito que envolvem outros países.
Segundo diplomatas envolvidos nas negociações, todas as circunstâncias afetam também a situação dos brasileiros.
Os Estados Unidos também negociam com Egito e Israel a passagem de americanos que estão na Faixa de Gaza. De um lado, Israel participa das conversas para garantir que não haja passagem de terroristas do Hamas caso a fronteira seja aberta. De outro, o Egito vem tentando advogar pela criação de uma passagem para entrada de ajuda humanitária à região, e coordena com Israel a questão da fronteira.
O complexo contexto internacional faz com que negociações continuem em curso. Em uma sessão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta sexta-feira, o Brasil defendeu a chegada de ajuda humanitária à região. Não houve consenso entre os países, no entanto.
Para autoridades brasileiras, porém, o fato de uma parte do grupo estar a alguns passos da fronteira é um motivo de comemoração, pois a passagem ocorrerá de maneira imediata assim que houver a liberação.
Uma aeronave da Presidência da República foi destacada para resgatar os brasileiros que estão no lado palestino do conflito. O avião VC-2, da Embraer, com 40 lugares, está em Roma, na Itália, onde aguarda o momento de se deslocar para o Egito.
A repatriação dos brasileiros que estão em Israel, por sua vez, tem ocorrido de maneira célere. O quinto voo de repatriação de brasileiros que estavam em Israel decolou de Tel-Aviv neste sábado e tem pouso previsto para domingo, à 01:45 no horário local, no Rio de Janeiro. Estão à bordo 215 brasileiros e 16 animais de estimação.
No total, já contabilizando os que estão à bordo da quinta aeronave, a Operação Voltando em Paz, do governo federal, terá transportado 916 passageiros e 24 animais de estimação.