Candidata venezuelana pelo partido de oposição Vente Venezuela, María Corina MachadoAFP
"Nada, nem ninguém, pode ignorar os resultados e seus efeitos políticos", disse Biagio Pilieri, membro da coalizão Plataforma Unitária Democrática (PUD), em entrevista coletiva.
"E menos ainda desconhecer [...] os fatores democráticos. Todos nós, que participamos das primárias, elegemos uma candidatura unitária que tem um mandato claro do povo venezuelano; que hoje as forças democráticas são lideradas por María Corina Machado; e que, com ela como candidata, vamos ganhar a eleição presidencial de 2024", acrescentou.
As primárias para eleger o rival do presidente Nicolás Maduro nas eleições de 2024 foram realizadas na forma de autogestão em 22 de outubro, com a participação de 2,4 milhões de eleitores, segundo seus organizadores, e a vitória de Machado com 92% dos votos.
O chavismo não reconhece o resultado e insiste em que os números foram inflados.
Em resposta a uma liminar, o Supremo Tribunal venezuelano - de linha governista - suspendeu "todos os efeitos" das primárias, e o Ministério Público abriu uma investigação contra a comissão que a organizou sob suspeita de fraude.
"A primária foi um absoluto, enfático e inegável sucesso e não vão apagar isto nem com intimações, nem com sentenças", acrescentou Pilieri. "Está muito claro: o governo perdeu, e o país ganhou."
Machado está inabilitada a se candidatar e a ocupar cargos públicos, embora ela não reconheça esta decisão. No entanto, a Corte Suprema reafirmou a sanção em sua sentença, ao se referir a ela como "cidadã inabilitada de forma definitiva por 15 anos" por suspeita de corrupção e promover sanções.
"A inabilitação ficou resolvida para nós em 22 de outubro, quando o povo se expressou", disse Pilieri, alinhado ao discurso de Machado sobre o tema.
'Natal sem presos políticos'
Washington, em resposta, aliviou por seis meses o embargo petrolífero imposto ao país em 2019 - condicionado ao cumprimento do acordo - e o governo libertou cinco presos políticos, incluindo o ex-deputado Juan Requesens e Roland Carreño, jornalista e colaborador próximo de Juan Guaidó.
Cerca de 50 pessoas se reuniram nesta quarta-feira em uma praça de Caracas para pedir a libertação de outros presos.
"A ideia é que isto possa continuar ocorrendo [...] que nunca mais haja violação dos direitos humanos na Venezuela, que todos os que estão presos hoje, possam ficar livres", disse à imprensa Tomás Guanipa, membro da mesa de negociação, presente ao ato.
Alguns manifestantes gritavam "Justiça e liberdade!", enquanto exibiam cartazes com os nomes de presos e os dias que estão atrás das grades. "A liberdade não tem condições", "chega de tortura", diziam outros.
"São 22 anos esperando um Natal sem presos políticos. São 22 anos rezando a Deus e a todos os santos que a mesa de unidade faça valer os acordos", disse à AFP María Isabel Bolívar, de 66 anos, tia de Erasmo Bolívar, um dos policiais presos após o golpe de Estado frustrado, em 2002, contra o então presidente Hugo Chávez, já falecido.
A ONG Fórum Penal reporta 270 presos políticos, incluindo oito cidadãos americanos. A organização Justiça, Encontro e Perdão relata 310 casos e 14 mortes sob custódia desde 2014.
"Estes são números de referência [...], existem discrepâncias com outras organizações de direitos humanos, mas é importante notar que em relação a esses registros há total falta de transparência, entre outras coisas, porque não pode haver um número oficial porque as autoridades venezuelanas negam a existência de presos políticos", afirmou Martha Tineo, diretora da Justiça, Encontro e Perdão.
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