Javier Milei, presidente eleito na ArgentinaLuis Robayo/AFP
A inflação elevada, de mais de 140% ao ano, será uma longa luta que exigirá "entre 18 e 24 meses para destruí-la e levá-la aos níveis internacionais mais baixos", disse ele em declarações a rádios. Seu primeiro passo será empreender uma forte reforma do Estado que incluirá privatizações, afirmou.
"Tudo o que puder estar nas mãos do setor privado vai ficar nas mãos do setor privado", declarou, e apontou entre as empresas a serem privatizadas a petrolífera YPF e os veículos de comunicação estatais.
"Vamos começar primeiro pela reforma do Estado, colocar em caixa as contas públicas muito rapidamente", acrescentou.
Transição
O atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem Milei chamou de "corrupto" e "comunista", não irá à posse, segundo uma fonte do governo brasileiro.
Frequentemente comparado com Bolsonaro e o ex-presidente americano Donald Trump por suas posições de extrema direita, Milei é contrário ao aborto, legalizado na Argentina em 2020, e nega que as mudanças climáticas sejam provocadas pelas atividades humanas.
Trump foi um dos primeiros líderes mundiais a cumprimentá-lo, na noite de domingo. "Estou muito orgulhoso de você. Você vai mudar por completo o teu país e vai fazer a Argentina voltar a ser grande", escreveu em uma postagem.
Do outro lado do espectro político, outros dirigentes o criticaram duramente, como fez o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nesta segunda.
"A extrema direita neonazista venceu na Argentina (...) Dizemos aos argentinos e às argentinas: vocês elegeram, mas nós não vamos nos calar porque é uma tremenda ameaça a chegada de um extremista de direita com um projeto colonial", declarou Maduro.
Está pendente uma reunião com o presidente peronista de centro-esquerda, Alberto Fernández, para iniciar a transição governamental.
Desde 2003, a Argentina é governada pelo peronismo da atual vice-presidente e duas vezes presidente Cristina Kirchner, exceto pelo mandato do direitista Mauricio Macri (2015-2019).
"Ficou demonstrado que a maioria dos argentinos quer mudanças", disse à AFP Oscar Sario, um aposentado de 68 anos. O presidente eleito anunciou que viajará em caráter privado aos Estados Unidos e a Israel.
No entanto, as ações argentinas cotadas em Wall Street registraram fortes altas, especialmente as da estatal petrolífera YPF, que subiram 40,17% a 15,04 dólares, frente aos 10,73 dólares da sexta-feira.
Além da YPF, cotada na bolsa nova-iorquina desde 1993, também registraram altas a Telecom Argentina (23,22%), o Grupo Financeiro Galicia (17,20%) e a empresa de comércio eletrônico Mercado Libre (2,10%).
Na economia, os principais desafios de Milei serão reduzir a inflação, equilibrar as contas públicas, eliminar o controle cambial e cortar o gasto público. Ele propõe metas mais duras que as do Fundo Monetário Internacional (FMI), organização com a qual a Argentina tem um acordo de 44 bilhões de dólares desde 2018 (cerca de 214 bilhões de reais na cotação atual). A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, parabenizou Milei nesta segunda-feira.
"Esperamos trabalhar estreitamente com ele e com a sua administração no próximo período para desenvolver e implementar um plano sólido para preservar a estabilidade macroeconômica e fortalecer o crescimento inclusivo para todos os argentinos", escreveu ela na rede social X.
Milei deseja acabar com os subsídios aos serviços públicos e eliminar os impostos à exportação.
Ele também garantiu que promoverá o fim do controle cambial estabelecido em 2019, mas primeiro quer quitar a dívida emitida pelo Banco Central, por meio de títulos. Sobre o Banco Central, Milei reiterou que será suprimido "porque é uma questão moral: roubar é errado".
Quanto à ideia de dolarizar a economia, nesta segunda-feira foi mais ambíguo. "O eixo central é fechar o Banco Central, então a moeda será aquela que os argentinos escolherem livremente", afirmou.
Milei avisou que iniciará as suas reformas imediatamente porque "não há espaço para o gradualismo, para a tibieza ou para meias-tintas".
Mas requer um forte apoio político. Embora tenha obtido uma votação importante nas eleições parlamentares parciais de outubro, seu partido, A Liberdade Avança, tem apenas sete dos 72 senadores e 38 dos 257 deputados, portanto dependerá de alianças.
No segundo turno, Milei contou com o apoio de Macri e da ex-candidata Patricia Bullrich, da coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança, a segunda força parlamentar que ficou, no entanto, rachada por esta decisão.
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