Javier Milei, presidente eleito na Argentina em 2023Luis Robayo/ AFP
"Não concordo com tudo o que ele diz, mas ninguém nunca vai concordar 100% com alguém. Mas temos que dar uma chance para ele tentar fazer diferente. Vamos ver se vai conseguir", diz o motorista.
Milei foi eleito com uma campanha em que prometeu medidas radicais para tentar conter a crise econômica. Conforme o jornal Clarín, ele prepara um pacote que será anunciado amanhã e prevê corte de gastos, aumento de impostos, privatizações e desvalorização da moeda. Não se sabe, porém, qual será o tamanho do apoio político ao recém-eleito para levar adiante seus planos.
Embora sua vitória tenha sido avassaladora nas urnas em 19 de novembro, com 11 pontos de diferença para Sergio Massa, sua base de apoio é minúscula. No Congresso, seu partido, o A Liberdade Avança (LLA), tem 38 cadeiras, exigindo que o libertário construa alianças não só com partidos de direita, como o Proposta Republicana (PRO), de Mauricio Macri, e o União Cívica Radical (UCR), mas também com peronistas, especialmente os antikirchneristas, do cordobês Juan Schiaretti.
"Os primeiros sinais que Milei deu foram de que nem todos do A Liberdade Avança saíram ganhando com as mudanças e a composição de gabinetes. E que nem todo o peronismo e o PRO perderam", diz o cientista político da Universidade de Buenos Aires (UBA), Facundo Galván.
No seu gabinete, que será empossado hoje, Milei deixou de incluir nomes de peso do seu partido, como Ramiro Marra e Carolina Píparo. Ao mesmo tempo, deu cargos relevantes ao PRO, com Patricia Bullrich (que ficou em terceiro na disputa presidencial), que será ministra da Segurança, e Luis Caputo, futuro ministro da Economia. Em nome da governabilidade, o libertário teve ainda de abrir mão de uma de suas pautas mais caras: a dolarização imediata da economia.
Além de Patricia e Caputo, até o momento os nomes confirmados por Milei por meio de comunicados na rede social X (antigo Twitter) são: Nicolás Posse, como chefe de Gabinete; Luis Petri (vice de Patricia) na Defesa; Guillermo Francos, no Interior; Guillermo Ferraro, na Infraestrutura; Diana Mondino, nas Relações Exteriores; Mariano Cúneo Libarona, na Justiça; Sandra Petovello, no Capital Humano - que concentrará Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social -; e Mario Russo, na Saúde, ministério que Milei havia prometido extinguir.
Também houve definições para as presidências da Câmara e do Senado, bem como órgãos de extrema relevância, como Anses (assistência social), YPF (estatal do petróleo) e Banco Central - que também seria extinto, segundo a promessa de Milei na campanha.
Os cargos foram distribuídos entre libertários, macristas e peronistas.
Mistério
Na sexta-feira, a diretora do FMI Julie Kozack disse que Milei precisa ter apoio político se quiser continuar negociando a dívida do país com o fundo. "É necessário um plano de estabilização forte, crível e politicamente apoiado para encarar de forma duradoura os desequilíbrios macroeconômicos e os desafios estruturais da Argentina, protegendo ao mesmo tempo os mais vulneráveis", disse, observando que para tal é necessário um "Banco Central forte e crível", indo na contramão da proposta de Milei de "explodir" a autoridade monetária.
Novidade
Ex-presidente
"Para mim ainda não está claro que Macri será o garantidor da governabilidade", afirma Facundo Cruz. Para o cientista político, os únicos movimentos claros foram o de uma linha-dura na área de segurança e de realinhamento na política internacional da Argentina com uma direita mais conservadora. Jair Bolsonaro e Viktor Orbán estarão presentes na posse de Milei. "Todo o restante é incerteza", diz.
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