Operadores turísticos e moradores realizam uma manifestação nos trilhos ferroviários próximos a Machu Picchu PuebloCAROLINA PAUCAR / AFP

Quase 700 turistas foram evacuados de Machu Picchu neste sábado (27) após a greve dos moradores contra o que denunciam como uma "privatização" da venda de ingressos para a entrada na cidadela inca mais visitada do mundo, informou o governo peruano.

"Saíram mais de 660 turistas, entre turistas nacionais e estrangeiros", afirmou à AFP um funcionário do Ministério do Turismo.

Os visitantes chegaram por volta das 16h30 locais (18h30 de Brasília) à cidade de Ollantaytambo, a cerca de 32 quilômetros de Machu Picchu.

O protesto, que completa três dias, foi organizado por grupos do distrito de Machu Picchu Pueblo, no departamento de Cusco, em repúdio à decisão do Ministério da Cultura de contratar um intermediário privado para gerenciar a venda online das entradas.

A chamada paralisação indefinida incluiu no primeiro dia marchas, fechamento de lojas e bloqueios na linha férrea que leva ao complexo pré-hispânico que, em média, é visitado por um milhão de pessoas por ano.

"Somos contra a privatização sistemática de Machu Picchu [...]. As organizações pedem que o contrato com a empresa Joinnus seja anulado", disse à AFP o ex-prefeito de Machu Picchu, Darwin Baca.

Os manifestantes, com bandeiras e faixas dizendo "Machu Picchu não se privatiza, nem aluga" e "Ministra da Cultura, renuncie já", bloquearam a passagem do trem.

As autoridades não relataram feridos ou detidos.

Trens parados
A concessionária Ferrocarril Transandino suspendeu seus serviços entre Ollantaytambo e Machu Picchu para este sábado, após confrontos entre manifestantes e a polícia perto da estação de trem no dia anterior.

O Ministério da Cultura deixou a venda online dos ingressos para Machu Picchu e a rede de trilhas incas nas mãos da empresa peruana Joinnus, alegando problemas com sua plataforma virtual.

No entanto, comerciantes e operadores turísticos se opõem ao novo sistema, que começou a funcionar no sábado passado, pois acreditam ser o primeiro passo para a privatização do lugar.

O Coletivo Popular Machu Picchu denunciou em comunicado que a Joinnus ganhará até 12 milhões de soles (15,6 milhões de reais) por ano em comissões pela venda dos bilhetes.

O governo peruano nega a privatização e afirma que é necessário controlar a quantidade de turistas no local.

"Existe o risco de Machu Picchu sair da lista de Patrimônio Mundial da Unesco. O excesso de visitantes pode deteriorar o patrimônio", explicou Ana Peña, chefe de assessores do Ministério da Cultura, em coletiva de imprensa.

A cidadela recebe em média uns 4.500 visitantes por dia. O governo reservou cerca de 1.000 ingressos diários para venda direta no Centro Cultural de Machu Picchu Pueblo.

Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1983, Machu Picchu, localizado a 130 quilômetros da cidade de Cusco e a 2.438 metros de altitude, foi construído no século XV por ordem do imperador inca Pachacutec (1438-1470).

Conhecida como a "cidade perdida dos incas", foi descoberta em 1911 pelo explorador norte-americano Hiram Bingham.