Índice que leva em conta fatores como expectativa de vida, educação e os padrões de vida, caiuAFP
Em 2020 e 2021, pela primeira vez desde a sua criação, há mais de 30 anos, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que leva em conta fatores como expectativa de vida, educação e os padrões de vida, caiu dois anos consecutivos devido a uma sobreposição de crises sem precedentes, incluindo a covid-19.
"(...) Mas, desde então, vimos uma recuperação, disse à AFP Achim Steiner, responsável do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que publica o relatório.
Mas o que parece ser uma boa notícia esconde uma brecha inesperada entre países ricos e pobres. "A primeira vez que vi os resultados pedi à equipe para verificar os dados", disse à imprensa Pedro Conceição, responsável pelo relatório.
"O que estamos vendo é que os segmentos mais pobres e vulneráveis da nossa sociedade estão ficando para trás", apesar dos Objetivos de Desenvolvimento da ONU para 2030, que visam justamente evitar que isso aconteça, começando "pelos que estão mais atrasados".
E este resultado é "muito preocupante" depois de "20 anos durante os quais os países convergiram em termos de renda, expectativa de vida e educação", insiste Achim Steiner.
Suíça, Noruega e Islândia continuam no topo da lista do IDH. Assim como eles, todos os outros países da OCDE devem ter recuperado os níveis de desenvolvimento de 2019.
Desconfiança e polarização
Há também "um grupo extremo" de países como o Sudão, o Afeganistão e Mianmar, onde "a combinação da pandemia, crises fiscais e conflitos, às vezes guerras civis, os prendeu em uma situação em que a recuperação não está na agenda", lamenta Steiner, que rejeita a "narrativa habitual de que o mundo está se recuperando".
Segundo o PNUD, o Afeganistão, por exemplo, perdeu 10 anos em termos de desenvolvimento humano e, na Ucrânia, o índice está no nível mais baixo desde 2004.
Além disso, a crescente divisão põe em perigo ainda mais um mundo multipolar, mais dividido geopoliticamente do que nunca.
"Vivemos num mundo mais rico do que em qualquer outro momento da história da humanidade, pelo menos em termos financeiros (…). Mas há mais pessoas famintas, mais pessoas pobres do que há dez anos. Há cada vez mais guerras em todo o mundo, com dezenas de milhões de refugiados", alerta Steiner. "É um mundo mais arriscado, que se volta contra si mesmo", acrescenta.
O relatório, intitulado "Romper a Estagnação: Reimaginar a Cooperação em um Mundo Polarizado", examina as deficiências na cooperação internacional, destacando um "paradoxo democrático".
Embora a maioria dos habitantes do planeta afirme apoiar os valores democráticos, "o populismo está explodindo", a mentalidade de "salve-se quem puder" está ressurgindo e os eleitores estão levando ao poder líderes que "minam" esta democracia, observa o PNUD.
Isso coloca a humanidade em uma "encruzilhada infeliz", na qual "a desconfiança e a polarização correm o risco de bater de frente com um planeta doente".
Em um momento em que os países deveriam "trabalhar juntos", "estamos transformando os nossos parceiros, de quem precisamos, em inimigos", afirma Achim Steiner.
"Estamos gastando quantias excessivas nos orçamentos de defesa" sem financiar o combate "aos principais fatores de risco do século XXI: a desigualdade, a mudança climática, o crime cibernético, a próxima pandemia", conclui.
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