Primeiro-ministro de Israel, Benjamin NetanyahuOded Balilty / AFP
Nesse ataque contra uma operação humanitária, pela primeira vez em quase seis meses de guerra, morreram voluntários ocidentais, mas as organizações não governamentais (ONGs) entrevistadas pela AFP veem isso principalmente como evidência da impossibilidade de garantir a segurança de seu pessoal no terreno.
Desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, no poder na Faixa de Gaza, em 7 de outubro, mais de 200 membros de entidades humanitárias morreram em Gaza, dos quais 165 trabalhavam para a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNWRA), segundo dados das ONGs.
As sete pessoas mortas na segunda-feira haviam acabado de sair de um armazém em Deir al Balah, no centro da Faixa, onde haviam "descarregado mais de 100 toneladas de ajuda alimentar" transportadas por "dois veículos blindados que tinham o logotipo" da World Central Kitchen (WCK) e por outro veículo, indicou essa ONG americana.
O bombardeio israelense ocorreu nessas circunstâncias, apesar de a WCK e o exército terem "coordenado" previamente para garantir a segurança da operação humanitária, disse a entidade, que denunciou um ataque especificamente "dirigido" contra o comboio.
Como a WCK, várias ONGs em Gaza tentam se proteger de possíveis ataques israelenses relatando seus movimentos em uma "plataforma" israelense, explicou Benjamin Gaudin, responsável pelas operações no Oriente Médio da ONG Première Urgence.
No entanto, isso não impediu a ocorrência de "múltiplos incidentes", destacou Gaudin.
"Perigo inédito"
Os combatentes islamistas também capturaram cerca de 250 reféns, dos quais cerca de 130 permanecem em Gaza, incluindo 34 que teriam morrido, segundo Israel.
Em retaliação, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, e sua ofensiva em Gaza já causou quase 33 mil mortes, principalmente de civis, de acordo com o último balanço do Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas desde 2007.
"O nível de perigo que enfrentamos em Gaza é inédito", afirmou Claire Magone, porta-voz de Médicos Sem Fronteiras (MSF), que nos últimos seis meses registrou 21 "bombardeios" ou "incidentes" contra hospitais e ambulâncias.
Cinco funcionários palestinos da organização morreram "em bombardeios israelenses ou por disparos em um posto de controle israelense", disse Magone.
Bushra Khalidi, da Oxfam, ficou surpresa com essa resposta. Segundo ela, a morte dos sete trabalhadores humanitários só "ressalta" os "ataques deliberados e sistemáticos" de Israel "contra o esforço humanitário".
"É necessário revisar completamente nossas relações com o exército israelense", estimou Jan Egeland, secretário-geral da Norwegian Refugee Council.
"O ataque (...) mostra que ou Israel não tem controle nenhum sobre suas forças", ou as informações fornecidas pela WCK "nunca foram comunicadas" ao seu exército, o que é "imperdoável" em "ambos os casos", declarou Egeland.
O exército israelense disse que abriu "uma investigação" para determinar as circunstâncias do ataque.
Mas várias vozes, como a de Caroline Seguin, de MSF, pedem uma "investigação independente". "Investigações internas do exército israelense sobre seus próprios erros, realmente não vejo o que pode sair disso", opinou.
Khalidi, por sua vez, espera "ações" enérgicas da comunidade internacional. "A proteção dos trabalhadores humanitários e a garantia de entrega de ajuda não devem ser negociáveis", afirmou, especialmente em um momento em que Gaza está à beira de uma catástrofe humanitária.
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