Segundo o Palácio do Planalto, a carta para Putin foi escrita pelo 'cidadão Lula'Mikhail Klimentyev/ Evaristo Sá / AFP
A Casa Civil da Presidência da República negou um pedido com base na Lei de Acesso à Informação, datado de 20 de março, com o argumento de que o "sigilo de correspondência" tem como fundamento "proteger a vida privada e a intimidade" do presidente. Segundo o Palácio do Planalto, a carta foi escrita pelo "cidadão Lula".
O Planalto não especificou o prazo de vigência do sigilo, ao fim do qual a carta poderia se tornar pública. Servidores que analisaram pedidos similares entendem que cartas de viés pessoal podem ser mantidas em segredo por 100 anos - a não ser que haja consentimento expresso do remetente ou destinatário.
O pedido negado no dia 16 de abril solicitava o acesso à "íntegra da carta de Lula e Putin". Na resposta negativa, a Casa Civil lançou a alegação de mensagem de caráter pessoal. "Considerando as relações interpessoais que o presidente mantém cotidianamente, ainda que se tratem de correspondências mantidas com autoridades nacionais ou estrangeiras e mesmo que decorram do exercício do cargo, nem assim deixam de merecer a tutela dos direitos à intimidade e à privacidade."
Uma semana depois de receber a carta de Milei, Lula afirmou que ainda não tinha lido a mensagem, entregue pela chanceler argentina, Diana Mondino, em sua primeira visita oficial a Brasília, em mãos ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Diplomatas afirmam que Milei faz referência na carta a um encontro com Lula, de forma genérica, sem propor data. Em governos passados, o presidente costumava divulgar o teor de cartas recebidas e enviadas. Na ocasião do envio da carta a Putin, o russo havia sido reeleito com 87,3% dos votos para um quinto mandato de seis anos. Ele vai ficar no poder ao menos até 2030, tornando-se o mais longevo líder russo a comandar o país, ultrapassando o ditador soviético Josef Stalin.
O PT também enviou uma nota de "saudação" em nome do partido, assinada pelo secretário de Relações Internacionais, Romênio Pereira, que viajou a Moscou. Romênio disse que acompanhou a votação com "grande interesse" e parabenizou o partido Rússia Unida pelo "resultado expressivo".
Também em março, Lula disse que não era obrigado a lidar com Putin com o mesmo "nervosismo" dos europeus, por estar longe da guerra na Ucrânia. "Os dois bicudos vão ter de se entender", disse, referindo-se a Putin e ao presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski.
Pró-Rússia
A declaração de Lula se soma a outras favoráveis a Moscou. O brasileiro já disse que ucranianos e russos tinham responsabilidades similares no conflito, apesar de a Ucrânia ter sido invadida, e sugeriu que Zelenski cedesse a Crimeia, anexada em 2014 por tropas russas, para encerrar a guerra. A proposta repercutiu mal e foi rejeitada.
Ainda assim, Lula insiste que não tomou partido de ninguém, defende uma negociação de paz e se diz um "pacifista". Nesta semana, ele despachou mais uma vez a Moscou o ex-chanceler Celso Amorim, seu assessor para assuntos internacionais.
Lula pretende se encontrar com Putin em outubro na cúpula do Brics, em Kazan, e pode recebê-lo no Brasil para o G-20, mesmo Putin tendo contra si um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), por crimes de guerra.
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