Toureiro espanhol Morante de la Puebla executa uma passagem em um touroCRISTINA QUICLER / AFP
"Há uma maioria de espanhóis cada vez mais preocupada com o bem-estar dos animais, por isso não achávamos apropriado manter um prêmio que recompensa uma forma de maltrato animal", justificou o ministro da Cultura, Ernest Urtasun, ao canal La Sexta.
Entende-se "menos ainda que essa forma de tortura animal seja premiada com medalhas que também estão associadas a prêmios em dinheiro, e que, portanto, envolvem dinheiro público", prosseguiu o ministro, que é membro do partido de extrema esquerda Sumar.
O anúncio do cancelamento do prêmio, que distribuía 30 mil euros (164 mil reais) e começou a ser entregue em 2013 pelo Ministério da Cultura, monopolizou o debate público na Espanha, reacendendo um tema polêmico.
O conservador Partido Popular, principal partido de oposição, foi rápido em prometer que retomará o prêmio se voltar ao poder. "A tourada é uma atividade que faz parte da nossa cultura, das nossas tradições, da nossa própria identidade como povo, e o cancelamento do prêmio mostra o sectarismo daqueles que nos governam", criticou o porta-voz parlamentar do PP, Miguel Tellado.
Patrimônio cultural
Após o anúncio do cancelamento do prêmio, governos regionais, incluindo o de Castela-La Mancha, dirigido por um socialista crítico de Sánchez, anunciaram que vão criar seus próprios prêmios.
A Fundación del Toro de Lidia, ONG que promove as corridas de touros na Espanha, criticou a decisão tomada por Urtasun, que descreveu como "um novo exercício de censura": "Um ministro da Cultura não pode exercer suas competências com base em suas preferências pessoais, ele tem a obrigação de promover e fomentar todas as manifestações culturais, entre elas a tourada."
Interesse menor
As touradas contam com um público apaixonado na Espanha, e os principais toureiros são tratados como celebridades. Mas já não são um espetáculo de massas.
Pesquisas apontam um desinteresse crescente em todo o país principalmente entre os jovens. Segundo as cifras mais recentes do Ministério da Cultura, durante a temporada 2021-22, apenas 1,9% dos espanhóis assistiram a uma tourada.
A região da Catalunha proibiu as corridas de touros em 2010, mas a decisão foi anulada no fim de 2016 pelo Tribunal Constitucional, embora a grande praça de touros de Barcelona não realize nenhuma há mais de uma década.
O arquipélago das Baleares decidiu proibir a morte de touros, mas a decisão foi revogada pelo mesmo órgão em 2018. Já o arquipélago das Canárias é a única região da Espanha onde a proibição das touradas está em vigor desde 1991.
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