Peruanos protestaram contra medida tomada pelo governo peruano na sexta-feira (17)Cris Bouroncle / AFP
O decreto que causou revolta nas organizações que defendem a diversidade sexual incorpora uma classificação antiga da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Cerca de 200 manifestantes se reuniram em frente à sede do Ministério da Saúde, em Lima, para rechaçar a decisão do governo de manter o decreto apesar dos protestos, que coincidiram com o Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia.
"É uma norma que nos violenta [...] Estão nos colocando como pessoas doentes, como se tivéssemos um problema e a identidade de gênero é o contrário disso", disse Áfrika Nakamura, comunicadora audiovisual de 25 anos.
Sob lemas como "Não é uma doença, é diversidade!" e "Somos trans e não somos doentes, aqui está a resistência trans", os manifestantes bloquearam por algumas horas a movimentada avenida do centro da capital onde fica o ministério, sem que tenham sido registrados confrontos com a polícia.
"Exigimos a revogação [do decreto] porque estigmatiza as identidades transgênero", disse a diretora da associação TRANSformar, Maju Carrión. "Não podemos ser catalogados como doentes mentais, por isso é importante uma lei de identidade de gênero", acrescentou Micaela Casa, do coletivo Assembleia Migrantes e Refugiados da Pátria Grande.
'Interpretação errônea'
Segundo o porta-voz oficial, "houve uma má leitura e interpretação errônea" do decreto. A transexualidade "não é um problema de saúde mental e concordamos com isso, a tal ponto que existem vários documentos ministeriais que o especificam", disse Alvarado.
O decreto atualiza o Plano Essencial de Saúde (PEAS), lista de benefícios mínimos a que tem direito um afiliado da saúde pública, mista ou particular. Porém, usou uma classificação antiga da OMS, conhecida como CID-10, com a descrição que colocava os grupos LGBTQIPAN+ em alerta.
A partir de 2022, a organização deixou de caracterizar a transexualidade como um transtorno mental. Alvarado insistiu que a intenção do governo era expandir os cuidados de saúde mental para tratamentos ambulatoriais, psiquiátricos e endocrinológicos derivados da identidade de gênero, que antes do decreto não eram cobertos, principalmente por planos particulares.
"A ideia é fazer a transição para a CID-11 o mais rápido possível", disse Alvarado, sem especificar se isso implicaria a emissão de um novo decreto posteriormente.
Consequências
"Não devemos esquecer que as terapias reparadoras consistiam em tratamentos [como] eletrochoque, banhos de gelo", comentou o porta-voz do Coletivo Marcha do Orgulho de Lima.
O Peru não reconhece o casamento ou a união civil entre homossexuais, nem permite que pessoas trans incluam sua identidade de gênero em seus documentos.
Em um artigo publicado em seu site, a ONG Human Rights Watch (HRW) também chamou a atenção para os efeitos "deste decreto tendencioso e não científico".
"Patologizar oficialmente as pessoas LGBT [...] pode prejudicar seriamente os esforços para melhorar a proteção dos direitos baseados na orientação sexual e na identidade de gênero", alerta a organização.
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