Tetiana Shpak decidiu largar o emprego como professora de matemática para desarmar minas na UcrâniaGenya Savilov / AFP
"Nunca pensei que meu caminho me traria aqui", admite esta ex-professora de Matemática, de 51 anos, com uma máscara de proteção.
Assim como ela, cada vez mais mulheres se dedicam à remoção de minas, onde já representam 30% da força de trabalho, segundo o governo. A dinâmica é semelhante a outros empregos tradicionalmente associados aos homens, com sua força de trabalho reduzida pela mobilização militar e emigração.
As autoridades sabem que o território está cheio de explosivos e esperam atrair ainda mais mulheres. "No início, minha família foi contra", diz Shpak, que trabalha há um ano para a organização Halo Trust em Snigurivka, na região sul de Mykolaiv.
Ela garante que seu trabalho é seguro, já que localiza as minas, mas outros serviços as detonam. E até convenceu a filha, que diz que "quer tentar algo parecido quando estiver mais velha".
'Mais atentas'
A ex-cabeleireira não se arrepende da mudança profissional. "Minha mãe ficou chocada", lembra. Entre as funcionárias estão uma ex-dançarina, uma química do setor de espumantes e uma dentista, afirma o Halo Trust.
Ponomareva é originária de Donetsk, uma das regiões com o maior número de minas, no leste da ex-república soviética, cenário de guerra desde 2014, então contra separatistas pró-Rússia.
Snigurivka, onde trabalha agora, foi ocupada pelo Exército russo, que plantou as minas. Mas as tropas ucranianas também as utilizaram em combate. No total, quase um quarto do território ucraniano pode estar contaminado por dispositivos explosivos, que mataram mais de 270 pessoas desde 2022, segundo as autoridades.
As condições não são fáceis. O serviço exige método, paciência e disposição para ficar ao ar livre independentemente do clima. Alguns "trabalham um ou dois dias, percebem que não é para eles e vão embora", diz Oleksandr Ponomarenko, que supervisiona as equipes.
Não é fácil conseguir pessoas, admite. Atualmente, as mulheres representam pouco menos de metade da sua força de trabalho. Ponomarenko espera, no entanto, que o número aumente. Algumas são casadas com soldados e "também gostariam de servir, mas entendem que esse trabalho é mais seguro", diz.
Um grupo de sete pessoas é capaz de desminar de 80 a 100m² por dia. Para o campo de Snigurivka, de 35.000m², será necessário pelo menos um ano, calcula Ponomarenko. Provavelmente levará décadas para retirar todas as minas da Ucrânia, principalmente porque o conflito não terminou.
A alguns quilômetros, em Vasylivka, uma equipe desminou o terreno de Mykola Murai, um agricultor de 60 anos. "Trabalharam melhor que os homens", afirma.
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