Park Sang-hak fugiu do país em 1999 junto da mãe e dois irmãosAnthony Wallace / AFP
Park, filho de um agente norte-coreano, fugiu do país em 1999. Há 20 anos lança informativos contra o regime, dólares americanos e pendrives com músicas K-pop. Sua missão é "instruir o público norte-coreano", algo que levou Pyongyang a chamá-lo de "escória" e a enviar mais de 1.000 balões cheios de lixo à Coreia do Sul.
A retaliação provocou a suspensão dos voos para o aeroporto de Incheon, em Seul, por três horas na quarta-feira. É uma subversão "inaceitável" das regras do jogo, disse Park à AFP. Ele afirma que, nunca, em 20 anos da guerra dos balões, uma parte enviou lixo para o outro lado da fronteira.
"Kim Jong Un é a primeira pessoa a mandar balões de lixo", disse, chamando de "um ato desprezível e cruel".
Park sentiu na pele o poder dos balões. Ele se lembra de um panfleto que encontrou décadas atrás no Norte, que mostrava dois desertores no Sul.
"Uma foto mostrava o desertor com lindas mulheres sul-coreanas em trajes de banho e um texto dizendo que ele recebeu 10 milhões de wons em ajuda do governo", disse Park.
Isso mudou a vida de Park e mostrou que a deserção não era algo apenas para diplomatas ou militares, mas para qualquer um que ousar atravessar o rio para a China.
Os panfletos vistos por Park foram produzidos pelo governo sul-coreano. Mais tarde, ele conheceu um dos desertores da foto e perguntou se era real. "Ele me disse que o panfleto foi criado pelo Serviço Nacional de Inteligência em Seul", revelou.
Seul e Pyongyang costumavam produzir panfletos de propaganda e fazer transmissões em alto-falantes perto da fronteira, mas suspenderam suas campanhas em 2003, em um período de reaproximação.
Park iniciou sua própria campanha, com os primeiros lançamentos em 2006. Começou com balões comprados em uma loja de brinquedos, mas os atuais podem transportar até oito quilos.
Uma das cartas – escritas por Park e sua equipe – detalha a morte de Kim Jong Nam, meio-irmão de Kim Jong Un, no aeroporto de Kuala Lumpur em 2017, com uma imagem do corpo.
'Levar a verdade'
"Recebi telefonemas de cerca de 800 desertores, me agradecendo pela missão e contando que viram meus panfletos no Norte", disse Park.
Seus críticos afirmam que essas ações podem aumentar as tensões entre as duas Coreias, tecnicamente em guerra desde o conflito de 1950-1953, que terminou com um armistício, e não com um tratado de paz.
Park insiste que sua campanha é pacífica. "Enquanto Kim lança mísseis sem parar, nossa mensagem é parar a violência". Seu objetivo é a queda do regime de Kim, com mudanças internas, sem intervenção estrangeira.
"Estes panfletos levarão a verdade ao povo norte-coreano, que a utilizará para se levantar contra o regime de Kim e destitui-lo", disse.
"Meus panfletos são verdade, dinheiro e amor."
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