Elon MuskAFP

Um estudo científico americano publicado na última segunda-feira (29) questiona as recentes afirmações de Elon Musk, que disse que um implante cerebral de sua start-up Neuralink poderia devolver a visão a pessoas que não conseguem enxergar, além de fazer com que elas consigam uma visão sobrehumana.
O magnata havia declarado em março que o próximo projeto da Neuralink, chamado "Blindsight", poderia restaurar a visão para pessoas cegas desde o nascimento, e garantiu que o implante cerebral já está funcionando em macacos.
"Inicialmente, a resolução será baixa, como os primeiros gráficos do Nintendo, mas pode superar eventualmente a visão humana normal", acrescentou.
O projeto de Elon Musk, no entanto, se baseia no "princípio equivocado" de que implantar milhões de pequenos eletrodos na parte do cérebro responsável pelo processamento visual levará a uma visão de alta resolução, segundo um comunicado de Ione Fine, professora de psicologia da Universidade de Washington e coautora do estudo publicado na revista Scientific Reports.
Os pesquisadores criaram, a partir de dados obtidos de animais e humanos, um modelo computacional, um tipo de paciente virtual, para estudar como seria a experiência com um implante cerebral do tipo "Blindsight".
"Os engenheiros às vezes pensam que os eletrodos produzem pixels, mas não é assim que a biologia funciona", disse Fine.
Obter uma boa visão envolve não apenas estimular células individuais, como fazem os implantes, mas também criar um código neural que se espalha por milhares de células.
Para Ione Fine, os cientistas ainda estão longe de entender como criar o código neural para restaurar a visão de pessoas cegas, o que significa que os resultados alcançados pelo implante de Musk seriam limitados.
"Muitas pessoas ficam cegas tardiamente na vida", acrescentou a professora. "Alguém pode desesperadamente querer recuperar a visão", então "quando Elon Musk diz que 'isso vai superar a visão humana', é perigoso", completou.
A Neuralink, sediada em Fremont (Califórnia), implantou em janeiro seu primeiro dispositivo cerebral em um paciente, Noland Arbaugh, de 29 anos, tetraplégico desde um acidente de mergulho.
Cofundada por Musk em 2016, a empresa pretende desenvolver uma comunicação direta entre o cérebro e os computadores, inicialmente para devolver a autonomia a pessoas com necessidades médicas, especialmente tetraplégicos.
A tecnologia da Neuralink, que promete "desbloquear o potencial humano" no futuro, opera por meio de um chip do tamanho de cinco moedas empilhadas e que é inserido no cérebro através de uma cirurgia invasiva, permitindo que os dispositivos sejam controlados pela mente.