Ismael Zambada, conhecido como 'El Mayo', e Joaquín Guzmán López, filho do traficante 'El Chapo'Reprodução / Internet

Washington - O traficante de drogas mexicano Ismael "El Mayo" Zambada foi detido nos Estados Unidos após voar para o país "contra sua vontade" junto com um filho de seu antigo comparsa, Joaquín "El Chapo" Guzmán, disse nesta sexta-feira (9) o embaixador americano no México, Ken Salazar.

Joaquín Guzmán López "se entregou voluntariamente", enquanto Zambada foi levado "contra sua vontade", afirmou Salazar em uma coletiva de imprensa, duas semanas depois que os dois chefões do tráfico chegaram em um avião particular a um aeroporto do Novo México, nos Estados Unidos.

A defesa de Zambada alega que seu cliente foi "sequestrado" por Guzmán López e levado aos Estados Unidos como parte de um suposto trato com agentes americanos. El Mayo e El Chapo fundaram na década de 1990 o Cartel de Sinaloa, a principal organização dedicada ao narcotráfico no México junto com o Jalisco Nova Geração.

As declarações do embaixador chegam horas depois de o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, se queixar de que "não há cooperação" de Washington para esclarecer as circunstâncias das prisões de Zambada e Guzmán.

"Não nos deram informação suficiente", protestou nesta sexta-feira o mandatário em sua coletiva de imprensa habitual.

Washington afirma que não planejou a operação, embora López Obrador tenha assinalado na terça-feira que recebeu um relatório do país vizinho que fala de uma "negociação" entre Guzmán López e oficiais americanos.

"Quero que entendam muito claramente, não houve recursos dos Estados Unidos nessa operação", frisou Salazar.

'Não foram nossos agentes'
Em suas críticas a Washington, López Obrador apresentou nesta sexta uma série de questionamentos sobre a maneira em que Zambada e Guzmán chegaram ao território americano. "O que aconteceu com o piloto? O que fizeram com o piloto? Quem era ele? E claro, o que sabem de onde saiu o avião? Queremos saber mais sobre a negociação."

"Não foi um avião dos Estados Unidos, não foi um piloto dos Estados Unidos, não foram nossos agentes ou nosso pessoal no México" que levaram os traficantes, disse o embaixador.

Salazar detalhou que a aeronave saiu de Sinaloa, no noroeste do México, e chegou a Santa Teresa, no Novo México, o que deixou os agentes americanos "surpresos".

"No momento em que soubemos, imediatamente fizemos contato com nossos amigos e colegas do governo mexicano", comentou.

Salazar enfatizou que as ações de Estados Unidos e México contra o crime organizado são realizadas "com respeito à soberania" de ambos os países, quando a imprensa mexicana questiona López Obrador se a operação para prender Zambada e Guzmán constituiu uma violação do território mexicano por parte das autoridades americanas.

El Mayo Zambada, de 76 anos, era o traficante mais procurado pelos Estados Unidos, por quem ofereciam uma recompensa de 15 milhões de dólares (R$ 82,6 milhões, na cotação atual).

Em cadeira de rodas e com aspecto frágil, Zambada compareceu no fim de julho perante um tribunal do Texas para se declarar inocente das acusações de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e conspiração para cometer assassinato.

Por sua vez, Guzmán López foi levado a Chicago, onde também se declarou inocente das acusações de tráfico de drogas.

Desconfiança
El Chapo foi entregue pelo México aos Estados Unidos em janeiro de 2017 e cumpre prisão perpétua em um presídio de segurança máxima em Florence, no estado do Colorado.

Um filho de El Mayo, Vicente Zambada, também está detido em uma prisão americana após ser extraditado em 2010.

Há décadas, o mundo do narcotráfico mexicano é mercado por episódios de traição, com chefões revelando informações sobre cartéis rivais.

Segundo analistas, a cooperação antidrogas entre México e Estados Unidos vem se deteriorando nos últimos anos. O governo de López Obrador critica a agência antinarcóticos americana (DEA, na sigla em inglês) por fracassar em sua estratégia de combate aos cartéis.

Desde 2006, quando o México implementou uma polêmica operação antidrogas com participação militar, o país acumula cerca de 450 mil homicídios e mais de 100 mil desaparições, enquanto dezenas de milhares de pessoas morrem a cada ano nos Estados Unidos por abuso de drogas.