O presidente ucraniano, Volodimir ZelenskyAFP
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que houve "combates difíceis e intensos” nessa zona fronteiriça, onde as forças ucranianas entraram no último dia 6, na maior incursão de um exército estrangeiro em solo russo desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
"Setenta e quatro povoados estão sob o controle da Ucrânia. Inspeções e medidas de estabilização estão em andamento", publicou Zelensky no aplicativo Telegram, acrescentando que centenas de russos foram presos.
O comandante do Exército ucraniano, Oleksander Syrsky, afirmou que suas tropas avançaram até 3 km em algumas áreas durante o dia, tomando o controle de mais 40 km². A Ucrânia afirmou ontem que controlava 1.000 km² do território russo.
Forças russas informaram que haviam "desbaratado as tentativas ucranianas de penetrar profundamente" nessa região fronteiriça.
O governador regional russo, Alexei Smirnov, admitiu, no entanto, que as forças ucranianas tomaram o controle de 28 localidades, e informou que a operação abrange uma área de 40 km de largura e 12 km de profundidade em território russo.
Para efeito de comparação, a Rússia ganhou 1.360 km² de território ucraniano desde 1º de janeiro, segundo cálculos da AFP com base em dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW).
'Paz justa'
Desde fevereiro de 2022, a ex-república soviética enfrenta a invasão lançada por Moscou, que ocupa até 20% do território ucraniano, incluindo a península da Crimeia, anexada em 2014.
Nesse contexto, "as ações ucranianas são absolutamente legítimas, especialmente no marco do direito de legítima defesa contemplado na Carta das Nações Unidas", assegurou Tiji.
"Quanto mais cedo a Rússia concordar em restabelecer uma paz justa, mais cedo cessarão as incursões das forças de defesa ucranianas em território russo", acrescentou.
Posições irreconciliáveis
Zelensky disse querer elaborar um plano antes de novembro, data das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos - um aliado vital para Kiev -, que serviria de base para uma futura cúpula de paz na qual o Kremlin seria convidado.
Seu par russo, Vladimir Putin, impôs como condição para as negociações que Kiev cedesse os territórios ocupados pelo Exército russo e renunciasse à adesão à Otan, requisitos inaceitáveis para os ucranianos e as potências ocidentais.
O líder russo acusou ontem a Ucrânia de realizar a operação em Kursk para "melhorar a sua posição em futuras negociações".
"Se depois de um certo tempo a Rússia não conseguir retomar esses territórios, eles poderiam ser usados com fins políticos", disse uma fonte do alto escalão à AFP no último sábado.
O Exército russo, que enviou reforços materiais e humanos, declarou nesta terça-feira que continua a infligir grandes perdas aos ucranianos na região de Kursk, de onde 121 mil pessoas já foram deslocadas.
Pelo menos 12 civis morreram e 100 ficaram feridos na incursão ucraniana, segundo autoridades regionais russas.
Impulso à moral
"Não houve vitórias significativas na Ucrânia nos últimos meses. Apenas os russos estavam avançando", disse ele à AFP, enquanto as tripulações dos tanques ucranianos se preparavam para sua mobilização.
Pelo menos 20 mil civis estão sendo retirados da região de Sumy e as restrições de deslocamento foram ampliadas para os moradores perto da fronteira.
O alto funcionário da segurança ucraniano entrevistado pela AFP afirmou que "milhares" de soldados ucranianos participam da operação com o objetivo de "ampliar as posições do inimigo, infligindo perdas máximas [e] desestabilizando a situação na Rússia".
O ataque em larga escala visa a "deslocar a guerra para o território do agressor", declarou o presidente Zelensky.
A operação ucraniana representa um revés inesperado para o Kremlin, cujo Exército estava em vantagem desde o início da ofensiva.
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