Papa Francisco se pronunciou em Jakarta, capital da IndonésiaDita Alangkara/AFP

O papa Francisco, 87 anos, pediu nesta quarta-feira (4) um maior "diálogo inter-religioso" como uma "contraposição ao extremismo e à intolerância", no início de sua longa viagem pela Ásia pelo Pacífico.

O diálogo inter-religioso é um dos principais temas da visita de três dias à Indonésia, que inclui um encontro na quinta-feira com representantes das seis religiões oficialmente reconhecidas no país.

"A Igreja Católica deseja incrementar o diálogo inter-religioso. Desta forma, pode eliminar-se preconceitos e pode desenvolver-se um clima de respeito e confiança mútuos, indispensável para enfrentar desafios comuns; entre os quais a contraposição ao extremismo e à intolerância que, distorcendo a religião, tentam impor-se através do engano e da violência", afirmou o papa em um discurso no palácio presidencial.

Sorridente, o papa argentino foi recebido no palácio Merdeka pelo presidente indonésio, Joko Widodo, com quem conversou em particular.

A Indonésia luta há décadas contra o extremismo islâmico, que foi responsável pelo atentado com explosivos na ilha turística de Bali de outubro de 2002, que deixou 202 mortos.

O papa também falou sobre a situação internacional e afirmou que os conflitos violentos "muitas vezes são o resultado da falta de respeito mútuo, do desejo intolerante de fazer prevalecer a todo o custo os próprios interesses, a própria posição ou narrativa histórica parcial, mesmo quando isso implica sofrimentos intermináveis para comunidades inteiras e resulta em verdadeiras guerras sangrentas".

"Liberdade e tolerância, é isto que a Indonésia e o Vaticano desejam propagar", respondeu Widodo. Centenas de crianças e jovens em trajes tradicionais e bandeiras da Indonésia e do Vaticano receberam Francisco, que também assistiu a um desfile militar e ouviu os hinos dos dois Estados.

O mesmo fervor foi sentido durante a tarde na Catedral de Nossa Senhora da Assunção, onde o líder dos 1,3 bilhão de católicos encorajou o clero local à "fraternidade", pedindo que permaneçam "abertos e amigos de todos".

A visita do papa "recorda que não estamos apenas próximos do povo indonésio, mas também de outras religiões", disse Caroline, uma freira de 45 anos que trabalha na organização Irmãs da Caridade de Sumatra.

32 mil quilômetros
Depois de um voo de 13 horas na terça-feira, Francisco, que se desloca em uma cadeira de rodas, tirou metade do dia para descansar, mas nesta quarta-feira não demonstrou os efeitos do 'jet lag' ou do calor na capital indonésia. Francisco é o terceiro papa a visitar a Indonésia, depois de Paulo VI em 1970 e João Paulo II em 1989.

Nesta quarta-feira, ele também falou sobre a taxa de natalidade. "No seu país, as pessoas têm três, quatro ou cinco filhos, é um exemplo para todos os países, enquanto alguns preferem ter apenas um gato ou um cão pequeno. Isto não pode dar certo", disse Francisco, ao que Widodo respondeu com um sorriso.

A Indonésia, um país de 17.500 ilhas, abriga a maior população muçulmana do mundo (242 milhões, 87% de seus habitantes) e tem oito milhões de católicos (menos de 3%).

Jorge Bergoglio também se reuniu de maneira privada com membros da Companhia de Jesus (a ordem jesuíta à qual pertence) na Nunciatura Apostólica da Santa Sé, a embaixada do Vaticano, como sempre faz em suas viagens ao exterior.

Ele encerrará o dia com um encontro com jovens da rede 'Scholas Occurrentes', um movimento educativo criado originalmente para ajudar as crianças em áreas desfavorecidas de Buenos Aires.

A maratona do pontífice por quatro países do sudeste asiático e da Oceania (Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor Leste e Singapura) estava agendada para 2020, mas foi adiada devido à pandemia de covid-19.

Na sexta-feira, ele deve desembarcar em Papua-Nova Guiné, antes de seguir para Timor Leste e encerrar a viagem em Singapura, onde no dia 13 de setembro completará um trajeto de 32 mil quilômetros, o mais longo desde que foi eleito papa em 2013.

A viagem, a 45ª ao exterior de seu pontificado, é um desafio físico para o jesuíta argentino, que sofreu vários problemas de saúde nos últimos anos.