Bandeira do MéxicoAFP
A sessão começou com uma dura troca de acusações dentro do partido de oposição PAN, pois um de seus senadores, Miguel Ángel Yunes, se ausentou por motivo de saúde e foi substituído por seu pai, alimentando suspeitas de que a situação de esquerda poderia, assim, obter o voto que lhe faltaria para aprovar a reforma constitucional.
"Traidor! Pouco homem!", gritaram da bancada do conservador PAN para Miguel Ángel Yunes pai, também político, que não antecipou seu voto, embora estivesse acompanhado de líderes governistas.
"Covarde e traidor é você!", retrucou Yunes, dirigindo-se ao presidente do PAN, Marko Cortés.
Espera-se que o projeto seja votado entre terça e quarta-feira.
Com bandeiras do México e cartazes, centenas de trabalhadores do Poder Judiciário em greve se concentraram nos arredores do prédio do Legislativo para repudiar a iniciativa, aprovada na semana passada pela maioria governista na Câmara dos Deputados, que se reuniu em um ginásio poliesportivo porque sua sede foi bloqueada.
López Obrador, que entregará o poder para sua partidária Claudia Sheinbaum no dia 1º de outubro, garante que a eleição de juízes e magistrados, inclusive os da Suprema Corte, é urgente porque o Judiciário está "podre de corrupção".
"O que mais preocupa quem é contra esta reforma é que vão perder seus privilégios porque o poder Judiciário está a serviço de potentados (...), da criminalidade do colarinho branco", afirmou, nesta terça, o presidente, que tem 70% de popularidade.
Na véspera do debate, a presidente do Supremo, Norma Piña, equiparou a alteração a uma tentativa de "demolir o poder Judiciário", o que foi rejeitado pelo presidente, que mantém um duro confronto com a máxima corte, após esta bloquear reformas-chave nos setores de energia e segurança.
Caso único no mundo
A emenda colocaria o México "em uma posição única em termos do método de eleição de juízes", assinalou Margaret Satterthwaite, relatora da ONU sobre a independência de juízes e advogados.
O outro caso similar na América Latina é o da Bolívia, onde os magistrados de altos tribunais são eleitos pelo voto popular, enquanto os juízes comuns são designados por um conselho da magistratura.
Mas a independência dos magistrados eleitos foi posta em dúvida em meio à disputa entre o presidente boliviano, Luis Arce, e seu padrinho político, o ex-presidente Evo Morales (2006-2019).
A tramitação da proposta no Senado mexicano é marcada pelo suspense, uma vez que faltaria ao partido no poder um único voto para completar os 86 (dois terços) necessários para aprovar as reformas constitucionais, embora o líder do Senado, Gerardo Fernández Noroña, afirme que 85 seriam suficientes.
Com um passado de deserções e escândalos, o partido opositor PRI anunciou que reunirá seus senadores em um hotel após denunciar ameaças do crime organizado.
"Ao cara que vota contra [o que foi acordado pela oposição, que] linchem o idiota", pediu a senadora conservadora do PAN, María de Jesús Díaz.
Os partidos da oposição, PAN, PRI e Movimento Cidadão disseram que votarão contra a iniciativa, ao mesmo tempo em que denunciam pressões de parte da situação.
"Lutaremos até o fim para evitar este atropelo", escreveu no X a senadora do Movimento Cidadão, Alejandra Barrales.
"Intervencionistas"
López Obrador, que rejeita estas críticas, as quais denomina como "intervencionistas", insiste em que o voto direto aproximará a justiça da população do país, que registra diariamente cerca de 80 homicídios e onde a impunidade ultrapassa os 90%, segundo ONGs.
A presidente da corte apresentou no domingo duas propostas de reforma elaboradas pelo poder Judiciário que preveem maior orçamento para os tribunais locais, assim como a formação e a certificação de promotorias e polícias de investigação.
Na semana passada, López Obrador instou a corte a não bloquear a reforma, depois que a ministra Piña resolveu consultar seus colegas sobre se esse tribunal é competente para frear a iniciativa, como pediram funcionários judiciais mediante um recurso legal.
Especialistas afirmam que as preocupações de investidores sobre a reforma contribuíram com uma queda na cotação do peso frente ao dólar, embora López Obrador o atribua a "fatores externos".
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