Moradores após enchentes em Picanya, perto de Valência, leste da EspanhaAFP
A emergência meteorológica "continua", alertou o primeiro-ministro Pedro Sánchez.
Mais de mil militares foram mobilizados, principalmente na região de Valência, leste do país, ao lado de bombeiros, policiais e socorristas que tentam localizar eventuais sobreviventes e retirar os destroços provocados pela tempestade.
O balanço mais recente anunciado pelas autoridades menciona 95 mortos, 92 deles na Comunidade Valenciana, a região mais afetada. Duas pessoas faleceram na vizinha Castilla-La Mancha e uma na região da Andaluzia.
O número de vítimas, o mais elevado no país desde as inundações que deixaram 300 mortos em outubro de 1973, "vai aumentar" porque ainda há muitos desaparecidos, admitiu na véspera o ministro de Política Territorial, Ángel Víctor Torres.
"Há muitas pessoas desaparecidas", confirmou nesta quinta-feira a ministra da Defesa, Margarita Robles.
"Sabemos que há lugares, como Paiporta e Masanasa, onde pode haver pessoas nas garagens, nos porões, pessoas que foram buscar os veículos. Esta é a prioridade no momento", reiterou Robles.
Paiporta, na periferia sul da cidade de Valência, é uma das localidades mais afetadas pelas chuvas torrenciais que formaram rios de água e lama, com mais de 40 mortes registradas, incluindo uma mãe e seu bebê de três meses arrastados pela correnteza.
Permanecer em casa
Um pouco antes, a agência estatal de meteorologia, a Aemet, decretou nesta quinta-feira alerta vermelho em Castellón, uma área na Comunidade Valenciana ao norte das partes mais afetadas, onde recomendou que os moradores não iniciem deslocamentos, "exceto se for algo estritamente necessário".
Sánchez, que visitou o centro de coordenação dos trabalhos de emergência em Valência nesta quinta-feira, reiterou "o compromisso, por terra, mar e ar, por todos os meios, pelo tempo que for necessário, com todos os recursos possíveis, para encontrar as pessoas desaparecidas".
Depois de decretar três dias de luto, o governante socialista anunciou que a região será declarada como zona de catástrofe para agilizar a liberação de recursos para reconstrução.
O presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, já havia anunciado uma ajuda de emergência de 250 milhões de euros (270 milhões de dólares, 1,55 bilhão de reais) para os afetados.
Muitas rodovias continuam bloqueadas, algumas devido ao acúmulo de veículos arrastados pela água, cobertos de lama e escombros. O trem de alta velocidade entre Madri e Valência permanecerá paralisado por mais três semanas, segundo o Ministério dos Transportes.
"Nunca pensei em viver algo assim", declarou à AFP Eliu Sánchez, morador de Sedaví, município de 10.000 habitantes que foi devastado pelas tempestades. Ele citou uma "noite de pesadelo".
"Vimos um jovem que estava em uma área aberta e foi levado pela correnteza", conta o eletricista de 32 anos. "Ele estava em cima do carro, tentou pular para outro, mas foi arrastado".
"Recordação terrível"
A imprensa espanhola, que descreve o episódio de "inundações do século", começa a questionar a reação das autoridades: a mensagem de alerta do serviço de proteção civil foi enviada na terça-feira às 20H00, embora a Aemet tenha declarado "alerta vermelho" durante a manhã.
A Comunidade Valenciana e a costa mediterrânea espanhola em geral enfrentam regularmente durante o outono (hemisfério norte, primavera no Brasil) o fenômeno da "gota fria", uma depressão isolada em altitude elevada que provoca chuvas repentinas e extremamente violentas, em algumas ocasiões durante vários dias.
Os cientistas alertam há muitos anos que os fenômenos meteorológicos extremos, como ondas de calor ou este tipo de tempestades, são cada vez mais frequentes e intensos devido às mudanças climáticas.
"No contexto da mudança climática, este tipos de evento de chuvas intensas e excepcionais se tornarão mais frequentes e mais intensos e, portanto, destrutivos", disse Ernesto Rodríguez Camino, membro da Associação Meteorológica Espanhola.
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