O assassinato do CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson, foi descrito como um ataque bem planejado, mas com falhas significativas na execução. De acordo com especialistas em segurança e agentes da lei, o atirador demonstrou preparo na execução do crime, mas foi descuidado em seus movimentos após o ataque.
Steve Moore, ex-agente especial do FBI, afirmou que o planejamento do ataque contrasta com a imprudência do suspeito, que foi flagrado deixando rastros como itens descartados e sua própria face visível em câmeras de segurança. "É quase como se ele tivesse lido um manual, mas não o seguiu com atenção", disse Moore. Ele destacou que itens como uma garrafa de água abandonada na cena do crime podem conter DNA, oferecendo uma pista valiosa às autoridades.
Os investigadores têm "razões para acreditar" que o suspeito deixou Nova York, declarou nesta sexta-feira a comissária do Departamento de Polícia nova-iorquino, Jessica Tisch, à CNN.
Imagem do sistema de segurança do hostel no momento em que o suspeito abaixa a máscara para flertar com funcionáriaReprodução / CNN
O suposto autor do assassinato de Brian Thompson, o CEO da UnitedHealthcare, uma das maiores empresas de seguros de saúde dos Estados Unidos, havia chegado de ônibus a Nova York em 24 de novembro, provavelmente vindo de Atlanta. Segundo fontes policiais, o suspeito usou uma carteira de motorista falsa de Nova Jersey para se hospedar em um hostel no Upper West Side, em Nova York, antes do crime. Ele viajou até a cidade de ônibus pela empresa Greyhound, demonstrando intenção de dificultar seu rastreamento.
Imagens de segurança do hostel mostram o suspeito em um momento descontraído, sorrindo e abaixando sua máscara enquanto flertava com uma funcionária. Apesar disso, especialistas acreditam que, se ele nunca foi preso antes, as autoridades podem enfrentar dificuldades em identificá-lo usando biometria.
O prefeito de Nova York, Eric Adams, havia declarado a uma TV local que as investigações estavam "no caminho certo". "Essa pessoa estava com o rosto coberto e usamos o trabalho policial à moda antiga para encontrar a foto que vocês veem", disse Adams a uma TV local.
Trata-se de um jovem branco que desapareceu em uma bicicleta enquanto pedalava em direção ao Central Park, depois de matar pelas costas o executivo de 50 anos, que se preparava para entrar na conferência anual de investidores da empresa em um hotel central de Manhattan.
Segundo imagens das câmeras de segurança, ele não estava com a mochila cinza clara com a qual cometeu o assassinato ao sair do parque, mas a polícia ainda não encontrou o objeto, segundo o jornal The New York Times.
Imagem mostra suspeito do assassinato do CEO da UnitedHealthcare em NY, na W 55th St, antes do crime em 4/12Reprodução / CNN
Evidências Recolhidas e Padrões de Comportamento
Entre as evidências encontradas estão uma cápsula de munição e um cartucho com as palavras “delay” e “depose” gravadas. Investigadores estão explorando se essas palavras estão ligadas ao motivo do crime, apontando para a expressão “delay, deny, defend” (atrasar, negar, defender), comum na indústria de seguros.
Felipe Rodriguez, ex-sargento da NYPD, acredita que o suspeito tentou “se tornar um fantasma”, usando estratégias para evitar ser detectado, como mudar de roupa rapidamente em locais estratégicos, como o Central Park. Vídeos de vigilância mostram o suspeito fugindo da cena em uma bicicleta elétrica, provavelmente em direção ao parque para despistar a polícia.
Especialistas afirmam que os erros do suspeito, como deixar uma garrafa de água na cena e ser capturado sorrindo em câmeras, fornecem um “tesouro” de informações para analistas criminais. Steve Moore destacou que o comportamento do suspeito e suas ações antes e depois do crime são fundamentais para criar um perfil detalhado, ajudando a prever seus próximos passos.
Com o terceiro dia de buscas em andamento, as autoridades continuam analisando as evidências e rastreando o suspeito com base em vídeos de vigilância e informações obtidas. O caso segue chamando atenção pela combinação de planejamento meticuloso e lapsos que podem levar à captura do assassino.
O FBI, que auxilia o Departamento de Polícia de Nova York, também publicou duas fotografias do suspeito e ofereceu uma recompensa de 50 mil dólares por qualquer informação que resulte na sua captura.
O assassino agiu sozinho?
A polícia acredita que o atirador provavelmente tenha agido sozinho, embora apresentasse sinais de experiência com armas de fogo e tenha utilizado um silenciador — um recurso raro até mesmo entre criminosos profissionais. Ele também parecia conhecer detalhes precisos, como a porta pela qual seu alvo entraria no hotel, o que indica planejamento. No entanto, as autoridades descartam a hipótese de que ele fosse um assassino de aluguel.
O crime gerou uma onda de críticas contra as companhias de seguros, em vez de indignação pública, refletindo o descontentamento com um sistema onde uma doença prolongada pode levar muitas famílias à ruína financeira. Esse cenário se torna ainda mais relevante considerando a posição da UnitedHealth Group, uma das maiores empresas de seguros médicos dos Estados Unidos. A empresa, que emprega 440 mil pessoas, registrou no ano passado um faturamento de 281 bilhões de dólares (cerca de R$ 1,7 trilhão). Sua subsidiária de seguros, liderada por Brian Thompson — cuja remuneração alcançou 10,2 milhões de dólares (aproximadamente R$ 61,4 milhões) —, desempenha um papel central nesse setor.
Nos últimos anos, alimentadas pelas redes sociais, as ameaças contra executivos e suas famílias aumentaram significativamente, especialmente em áreas como saúde, biomedicina e farmacêutica. Segundo Chris Pierson, diretor-executivo da BlackCloak, uma empresa de proteção digital especializada na segurança desses profissionais, esse fenômeno reflete as tensões crescentes em torno desses setores críticos, como relatado pela imprensa local.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.