Especialista vê suspensão de programas para mulheres como reflexo do avanço de movimentos conservadoresReprodução
As consequências são dramáticas: fechamento de clínicas que oferecem atendimento pré e pós-natal, suspensão de programas de planejamento familiar e acesso a abortos seguros, fim da distribuição de alimentos para mulheres grávidas e lactantes e a interrupção do atendimento e do apoio psicológico a vítimas de estupro, denunciam as ONGs.
A Solidarités International receberia US$ 65 milhões (R$ 375 milhões) dos EUA em 2025, o que representaria 36% de seu orçamento, explica seu diretor-geral, Kevin Goldberg.
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) receberia US$ 377 milhões (R$ 2,1 bilhões) para fornecer "cuidado materno-infantil essencial, proteção contra a violência, tratamento para vítimas de estupro e outros cuidados vitais em mais de 25 países em crise", informou a agência da ONU no final de fevereiro.
O UNFPA é um fornecedor fundamental de medicamentos e equipamentos para a saúde sexual e reprodutiva de outras ONGs, explica Brigitte Tonon, dirigente de saúde na ONG Ação contra a Fome, expressando preocupação com a suspensão da distribuição de contraceptivos e do acesso a abortos seguros, políticas apresentadas pelo governo conservador de Donald Trump.
Em meados de fevereiro, a Guttmacher Foundation, um instituto de pesquisa americano que fornece estatísticas sobre controle de natalidade e aborto nos EUA e em todo o mundo, estimou que, devido ao congelamento da ajuda, 11,7 milhões de mulheres e meninas não terão mais acesso a contraceptivos em 2025.
"Ataque" aos direitos humanos
A interrupção da ajuda dos EUA é "um ataque maciço aos direitos sexuais e reprodutivos" em todo o mundo, particularmente "o acesso a abortos seguros", denuncia Jeanne Hefez, assessora em defesa da ONG americana Ipas, que promove o acesso a aborto e contraceptivos.
Estes cortes orçamentários fazem parte de "um ataque contínuo e muito político a todo o sistema de direitos humanos", analisa.
Estas organizações esperam uma "posição firme" e recursos financeiros dos países europeus, incluindo a França, que na sexta-feira anunciou o lançamento de uma estratégia para impulsionar sua diplomacia feminista no mundo.

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