Papa Francisco, de 88 anos, está com quadro de pneumoniaAFP

O papa Francisco, de 88 anos, completa nesta quinta-feira (13) seus 12 anos de pontificado. Jorge Bergoglio está há quase quatro semanas internado no Hospital Gemelli, em Roma, com um quadro de pneumonia bilateral. Segundo os médicos, o argentino está fora de perigo, mas o seu estado de saúde ainda levanta dúvidas sobre o futuro.
Desde a sua eleição em 2013, o seu papado tem sido marcado por reformas, diplomacia e luta contra a pedofilia. Em algumas ocasiões, essas medidas enfrentaram uma feroz oposição interna.
Luta contra a pedofilia na Igreja 
A multiplicação dos escândalos de agressões sexuais contra menores dentro da Igreja, desde a Irlanda até a Alemanha, passando pelos Estados Unidos e Chile, tem sido um de seus desafios mais difíceis.

Após uma polêmica viagem ao Chile em 2018, que resultou em uma série de renúncias e expulsões de destaque, o papa argentino pediu desculpas publicamente por ter defendido erroneamente um bispo.

Em 2019, expulsou o cardeal norte-americano Theodore McCarrick, declarado culpado por abuso sexual de menores. Um gesto significativo que colocou em prática a política de "tolerância zero".

Nesse mesmo ano, uma cúpula sem precedentes sobre a proteção de menores, realizada no Vaticano, levou a uma série de medidas concretas, como a eliminação do segredo pontifício sobre esses crimes, a obrigatoriedade para religiosos e leigos de denunciar qualquer caso à hierarquia e a criação de plataformas de escuta em dioceses ao redor do mundo, entre outras.

No entanto, o segredo da confissão continuou sendo inquebrantável.

Diplomacia e 'periferias'
Em suas 47 viagens ao exterior, Jorge Mario Bergoglio priorizou a visita às "periferias" do mundo, especialmente em países marginalizados do Leste Europeu, América Latina e África.

O primeiro papa latino-americano é um grande defensor do multilateralismo e denuncia incessantemente a guerra e o comércio de armas.

Além disso, defende o diálogo com todas as religiões, especialmente com o Islã, como demonstrou em uma visita histórica ao Iraque em 2021.

Também conseguiu um acordo inédito com o regime comunista da China, em 2018, sobre a delicada questão da nomeação de bispos.

A diplomacia da Santa Sé também trabalhou para a reaproximação histórica entre Cuba e os Estados Unidos em 2014 e apoiou o processo de paz na Colômbia.

A Igreja de Francisco também se envolveu em vários conflitos regionais na América Latina e na África. No entanto, no caso da guerra na Ucrânia, iniciada com a invasão russa em fevereiro de 2022, não conseguiu se impor.

Esse conflito também interrompeu a gradual reaproximação com o patriarca ortodoxo russo Cirilo, com quem conseguiu um encontro histórico em 2016, o primeiro entre os líderes das Igrejas do Oriente e do Ocidente desde o cisma de 1.054.

Migrações, meio ambiente e comunidade LGBTQ+ 
Francisco defende uma Igreja aberta a "todos" e tem multiplicado os gestos em favor de divorciados recasados e fiéis LGBTQ+.

No final de 2023, autorizou a bênção de casais do mesmo sexo, uma decisão que gerou rejeição em setores conservadores da África e dos Estados Unidos.

Da ilha italiana de Lampedusa ao campo de refugiados grego de Lesbos, o pontífice argentino defendeu os migrantes e pediu que sejam acolhidos sem distinção, pois fogem da guerra e da miséria.

Dias antes de sua hospitalização em fevereiro, o papa disse que as deportações de migrantes irregulares nos Estados Unidos de Donald Trump "feriam a dignidade" das pessoas.

Em sua encíclica "Laudato Si" (2015), clamou por uma "revolução verde" e criticou o "uso irresponsável dos bens que Deus colocou" à disposição na Terra, defendendo a "ecologia integral".

Em 2020, escreveu uma exortação em defesa da Amazônia, após consultar no Vaticano todos os líderes religiosos e indígenas desse vasto território, introduzindo o que chamou de "pecado ecológico".

Reformas 
O papa Francisco buscou implementar uma reforma profunda da Cúria Romana — o governo central da Igreja — para fortalecer o processo de escuta das igrejas locais e dar mais espaço aos leigos e às mulheres.

Essas reformas, algumas criticadas internamente, foram concretizadas com a entrada em vigor, em 2022, de uma nova Constituição, que reorganizou os dicastérios (ou ministérios) e deu prioridade à evangelização.

Francisco também renovou o obscuro setor das finanças do Vaticano, envolvido em escândalos, com a criação, em 2014, de um Secretariado para a Economia.

Foi estabelecido um marco para investimentos, implementadas medidas anticorrupção e ordenado o saneamento do Banco do Vaticano, com o fechamento de 5 mil contas.

Ele também revolucionou o Sínodo, uma reunião mundial de bispos, ao incluir pela primeira vez mulheres e leigos.

Mas essas reformas lhe renderam críticas sem precedentes dentro da Igreja, especialmente quando restringiu o uso da missa em latim em 2021, irritando o setor mais tradicionalista.
*Com informações da AFP