Publicado 30/06/2020 06:37
Rio - A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e o Ministério Público estadual (MPRJ) fazem, desde as primeiras horas da manhã desta terça-feira, a Operação Tânatos, contra a milícia chamada Escritório do Crime. São cinco mandados de prisão e 20 de busca e apreensão contra líderes da quadrilha, que estão sendo cumpridos em vários endereços.
Um dos principais alvos, Leonardo Gouvêa da Silva, conhecido como Mad, foi preso em Vila Valqueire, na Zona Oeste do Rio. O irmão dele, Leandro Gouvêa da Silva, o Tonhão, também foi capturado. Os ex-PMs João Luiz da Silva, o Gago, e Anderson de Souza Oliveira, o Mugão, ainda são procurados.
De acordo com o MPRJ, Mad é o chefe do grupo paramilitar, sendo responsável pela negociação, o planejamento, a operacionalização e a coordenação das tarefas do bando. Seu irmão é um de seus homens de confiança e atua como motorista da quadrilha, fazendo o levantamento, a vigilância e o monitoramento das vítimas.
Gago e Mugão exercem funções semelhantes a de Tonhão, sendo ainda braços armados da organização criminosa, que chega a cobrar R$ 100 mil por execução.
"É um escritório contratado por organizações criminosas para matar os seus desafetos, um grupo extremamente perigoso", assinala o delegado Daniel Rosa, titular da DHC.
Os alvos:
. Leonardo Gouvêa da Silva, o Mad: PRESO
. Leandro Gouvêa da Silva, o Tonhão (irmão de Mad): PRESO
. João Luiz da Silva, o Gago (ex-PM)
. Anderson de Souza Oliveira, o Mugão (ex-PM)
O nome do quinto alvo não foi divulgado. Todos foram indiciados pelos crimes de homicídio e organização criminosa.
"Nós temos certeza que com a retirada de circulação desses marginais, a criminalidade irá recuar. Essa é uma resposta para todos aqueles que não confiam no trabalho da Polícia Civil e no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro", afirma o chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), o delegado Antônio Ricardo Nunes.
O nome da operação, Tânatos, é uma referência ao Deus da Morte na mitologia grega.
ATUAÇÃO
O Escritório do Crime é formado por policiais e ex-policiais matadores de aluguel e age há mais de 10 anos, principalmente na Zona Oeste. Um dos seus líderes foi o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto no dia 9 de fevereiro na Bahia, apontado como um dos fundadores da quadrilha.
O grupo chegou a ser investigado pelas mortes da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz, acusados pelo duplo homicídio, tinham ligação com o bando.
"O Ronnie Lessa, apesar de ter uma certa aproximação com esses criminosos do Escritório do Crime, nunca de fato teria integrado esse grupo", reforça o delegado Daniel Rosa.
Dois dos quatro alvos da operação de hoje, os irmãos Mad e Tonhão, chegaram a ser ouvidos no inquérito que investiga a morte de Marielle e Anderson.
"Isso foi uma linha de investigação, mas se provou que eles não cometeram esse crime", diz Rosa.
A operação de hoje surgiu a partir de três denúncias do MPRJ contra o grupo, que sempre age fortemente armado e com bastante agressividade. A investigação apontou que os integrantes da quadrilha cometem os crimes usando carros e com trajes que impedem a identificação deles, como balaclava e roupas camufladas. Os atiradores desembarcam do veículo e vão em direção ao alvo para matá-lo sem chances de defesa.
CRIMES
Um dos homicídios investigados é o de Marcelo Diotti da Mata, assassinado no mesmo dia que Marielle, 14 de março de 2018, no estacionamento de um restaurante na Barra da Tijuca. O Capitão Adriano é apontado como mandante do crime.
Segundo o Ministério Público, Diotti, que já havia sido preso por homicídio e exploração de máquinas de caça-níqueis, era visto como desafeto pelos milicianos.
Ele era casado com a ex-mulher do ex-vereador Cristiano Girão, condenado por comandar uma milícia que age na Gardênia Azul, em Jacarepaguá. Em 2017, Diotti já havia acusado Girão de tentar matá-la por conta de ação por pensão para a filha.
"Esse crime, no dia que a vereadora Marielle Franco morreu, nós entendemos que foi no incentivo de desvirtuar as nossas investigações", acredita o delegado Antônio Ricardo. "Nós tivemos, inicialmente, uma testemunha que desvirtuou a investigação, dificultando o início desse trabalho, com interesses escusos, inclusive para tomar uma milícia que atua em Jacarepaguá".
O Escritório do Crime também é investigado por uma tentativa frustrada de execução do PM reformado Anderson Cláudio da Silva, o Andinho, e do também PM Natalino dos Santos Rodrigues, no dia 6 de janeiro de 2018, em Bangu. Andinho, no entanto, não foi atingido pelos disparos. Natalino, apesar de ter sido baleado, sobreviveu ao ataque.
Depois da tentativa do duplo homicídio, os milicianos passaram a monitorar a rotina de Andinho para um novo ataque, que aconteceu no 10 de abril do mesmo ano, quando foi morto, no Recreio dos Bandeirantes.
"Outras mortes aqui na cidade também estão sendo investigadas e podem ter sido cometidas por esse grupo de criminosos", acrescenta o delegado Daniel Rosa.
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