Publicado 09/06/2021 10:46 | Atualizado 09/06/2021 11:06
Rio - O corpo de Kathlen Romeu será enterrado nesta quarta-feira, às 16h, no Cemitério do Catumbi, no Catumbi, na Região Central do Rio. O velório acontecerá na capela H. A designer de interiores de 24 anos morreu após ser baleada durante confronto entre policiais e traficantes no Complexo do Lins, na tarde de terça-feira (8). Ela estava grávida e subiu a comunidade para visitar familiares.
A jovem chegou a ser socorrida, mas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS), não resistiu aos ferimentos, logo após chegar ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, também na Zona Norte. Ainda não há informações sobre de onde partiu o tiro que matou Kathlen.
Também está previsto um ato para a tarde desta quarta-feira (9), no Lins de Vasconcelos, um dia após a morte da designer. O protesto é convocado pelo movimento 'Favelas na Luta'. Ainda ontem, horas após a morte de Kathlen, moradores do Complexo do Lins fecharam a autoestrada Grajaú-Jacarepaguá para repudiar a ação. Na manhã desta quarta-feira (9), familiares estiveram no Instituto Médico Legal (IML), no Centro, para reconhecer o corpo.
Em tom de desabafo, o pai de Kathlen, Luciano Gonçalves, ressaltou a diferença de atuação das polícias nas comunidades e nos bairros mais ricos do Rio. "As pessoas que moram na Zona Sul só conhecem as histórias da varanda, não sabem da missa metade do que acontece nas comunidades. Quando falam que tem que entrar na comunidade dando tiro...99% das pessoas da comunidade são de bem. O tiro ao alvo que tem na nossa área, não tem na Zona Sul. Eu falava com minha mãe: meu neto vai nascer com os pais formados. Na comunidade, não tem quase ninguém formado", lembrou Luciano.
Nas redes sociais, o namorado e pai do bebê, Marcelo Ramos, também lamentou a morte e disse estar "sem chão". "Nunca será esquecida meu amor, você, a Maya/Zayon sempre irão morar dentro de mim, estou completamente sem chão, as vezes é difícil entender a vontade de Deus, mas sei que você está melhor que nós. Aqui só vai ficar saudades e as lembranças de você, a pessoa mais radiante e animada que eu conheci na minha vida, vou vencer por você. Que Deus me dê força", publicou o tatuador.
Em nota, a Polícia Militar informou que os militares foram atacados a tiros por criminosos na localidade conhecida como "Beco da 14", dando início ao confronto. Com o fim dos disparos, encontraram uma mulher ferida e a socorreram. Os PMs realizaram buscas na região e apreenderam um carregador de fuzil, munições de calibre 9 milímetros e drogas. A Polícia Civil informou que irá investigar o caso. "Testemunhas serão ouvidas e diligências realizadas para esclarecer todos os fatos e identificar de onde partiu o tiro que atingiu a vítima".
'Foi a polícia quem matou a minha filha', afirma mãe de Kathlen
A mãe de Kathlen rebateu a versão dada pela Polícia Militar de que o tiro não partiu de policiais. Jacklline de Oliveira também esteve no IML. Mais cedo, o porta-voz da PM, Major Ivan Blaz, disse em entrevista à TV Globo que o tiro não partiu de PMs.
Emocionada, Jacklline, em tom firme, disse ter certeza de que a bala partiu dos policiais que confrontavam traficantes da comunidade. "Se minha filha fosse morta por bandido, não falaria nada com vocês (imprensa). Sei que moro num lugar que eu não poderia falar. Ficaria na minha. Mas foi a polícia quem matou a minha filha. Foi a PM que tirou minha vida, meus sonhos", afirmou a mãe de Kathlen, que citou nominalmente a fala do major Ivan Blaz.
"Não tem que matar mais filho de ninguém. Mate bandido. A gente paga imposto para a polícia treinar. Quem dá tiro a esmo é bandido. Policial dá tiro com mira. Avise ao major Blaz: hoje eu vi a fala dele na televisão, e o major Blaz mentiu. A PM sempre passa pano. Se eu tiver força, tiver vida, isso não vai ficar em vão", completou Jacklline.
Porta-voz: tiro não partiu da PM
Em entrevista à TV Globo, o porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, afirmou que o tiro que matou Kathlen não partiu das armas usadas pelos policiais, e garantiu que não havia nenhuma operação no momento dos disparos.
Ivan Blaz afirmou que policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Lins foram atacados por traficantes. Segundo o porta-voz, os PMs foram os primeiros a chegar no local em que Kathlen estava. De acordo com ele, os militares disseram que não foram os responsáveis pelos disparos que mataram a jovem.
"Cabe ressaltar que os policiais fizeram de tudo para socorrer a moça. Eles foram os primeiros a chegar no local. Eles tentaram reanimar, a socorreram para o hospital, mas infelizmente ela faleceu. Os policiais lutaram até o fim pela vida dela", afirmou em entrevista.
"Mais uma vez estamos lidando com um ataque gratuito desses criminosos. É a mesma facção que atua na Providência, no Jacarezinho, que tem por comportamento gratuito atacar policiais. É bom explicar que não houve operação", finalizou.
Nome do bebê já estava escolhido
Kathlen Romeu já tinha decidido o nome do seu primeiro filho. Nas redes sociais, a designer de interiores, que estava com 14 semanas, publicou um texto sobre a gravidez e anunciou os possíveis nomes: Maya ou Zayon.
"Estou me descobrindo como mãe e fico assustada pensando em como vai ser...Dou risada, choro e tenho medo. Um misto de sentimentos. Talvez os mais doidos do mundo, mas vou dar risada lá na frente...Obrigada Senhor por abençoar meu ventre e me permitir gerar o amor da minha vida", escreveu a designer.
"Acordo às vezes assustada e pensando que não é real, mas aí vem uma fome de leão, uma dor de cabeça, um sono inacabável, uns enjoos incontroláveis e as azias que só Jesus me ajudando! Tem horas que penso que ficarei presa com os meus arrotos! É, tem sido desse jeito e nessa hora que eu lembro: Estou grávida", continuou ela no post na rede social.
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