Familiares culpam a PM pelo disparo que atingiu CauãCléber Mendes/Agência O Dia
Publicado 06/04/2022 16:50
Rio - Familiares e amigos se despediram nesta terça-feira (6) de Cauã da Silva Santos, de 17 anos. O adolescente morreu baleado, na noite de segunda-feira (4), e foi jogado em um valão, na comunidade do Dourado, em Cordovil, na Zona Norte do Rio. Aproximadamente 200 pessoas estiveram no Cemitério de Irajá, desde às 9h, para prestar as últimas homenagens ao jovem. A comoção e revolta marcaram o sepultamento, que aconteceu às 16h.
Parentes acusam a Polícia Militar de ter atirado no peito da vítima. Uma perícia da Polícia Civil encontrou um fragmento de um projétil de fuzil no corpo do jovem. "Eu estava mais tranquilo, mas agora estou revoltado. Eu acabei de ver o Cauã, ele era cheio de vida", lamentou o tio de Cauã e presidente da associação de moradores do Dourado, Thiago Velasco.
Muito abalado, ele criticou a versão apresentada pela PM sobre a morte do adolescente. O jovem saía de um evento em celebração à classificação para o Campeonato Mundial de Grappling, quando, segundo relatos de moradores, os militares entraram atirando na comunidade, mesmo não havendo operação policial na região. A festa contava com a presença de cerca de 150 crianças.

Entretanto, em entrevista ao RJ1, da TV Globo, o porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Ivan Blaz, reforçou a versão sobre uma troca de tiros com criminosos no local. Ele reconheceu que não havia operação, mas ressaltou que o local vive sob patrulhamento constante. Segundo Blaz, o confronto teria ocorrido distante de onde o evento acontecia.

Em uma nota enviada ao BDRJ, da TV Globo, a PM havia informado que agentes do 16º BPM (Olaria) realizavam policiamento na Rua Antônio João, nas imediações da comunidade da Tinta, quando foram atacados. Houve confronto e um suspeito foi atingido. A nota diz ainda que, mais tarde, os policiais seguiram até um valão próximo onde outros criminosos tinham pulado durante a fuga.

A Polícia disse também que os militares souberam, depois, que um homem atingido por bala de fogo deu entrada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu. Mas, procurada pelo DIA, informou apenas que "a 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) já instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar todas as circunstâncias do caso".

"Como você vai na televisão e fala que o corpo do Cauã foi encontrado a 700 metros do local que estava acontecendo a ação social com as crianças, se nem o bairro do Dourado tem 700 metros? Ele foi encontrado a dois postes do local, tinha 150 crianças lá. Falta de responsabilidade. Agora meu sobrinho está lá dentro, morto. Para de mentir, assume que vocês erraram. Agora, vocês ficam tentando jogar outras versões para tentar incriminar a vida do meu sobrinho. Não vai achar, ele é um lutador, estudante. O 'cara' na condição de porta-voz da Polícia Militar fica contando mentira para tentar proteger a corporação", desabafou Thiago.

Segundo o presidente, PMs que atuam na região foram avisados sobre o evento que aconteceria no local. Ele relatou que um grupo, com alguns militares encapuzados, comiam em uma padaria na parte da tarde da segunda-feira. Com medo de que fosse ocorrer uma operação próxima ao local da celebração, ele questionou se havia algum problema acontecendo, no que responderam que estavam apenas lanchando. Thiago então pediu que avisassem, porque faria a ação social à noite e não queria colocar os participantes em risco.
"Não tinha nenhum tipo de confronto. Ainda que tivesse, como é o discurso da Polícia Militar, que tinham pessoas armadas. Não tinha, mas se tivesse, eles iam entrar atirando no meio das crianças? Um pouco incoerente isso. Eu acredito no que eu vejo", ressaltou Thiago. Cauã era faixa laranja de Jiu-jitsu, praticava luta livre e tinha o sonho de seguir carreira militar no Exército.
"Agora, ele está lá dentro, gelado. Um menino cheio de vida. Um menino que, agora no próximo final de semana, ia disputar um campeonato mundial na modalidade dele. Agora, ele foi ceifado. É muito complicado viver dessa forma. Todos nós estamos expostos a isso (...) Essa forma deles tentarem incriminar as pessoas é para encobrir os erros deles. Eu não me importo com isso, eu sei a conduta do Cauã. O Cauã era um menino bom. Eu não estaria aqui defendendo, se ele não tivesse um índole idônea, uma conduta ilibada", descreveu o tio do adolescente, que falou que vai lutar pela punição dos envolvidos. 
"Faz o certo, pede desculpa, assume e cumpre o que tem que cumprir. É a vida, todos nós somos passíveis de erro. Só que não foi fatalidade, aquilo ali foi um erro, não foi um acaso. Aquilo ali foi uma falta de responsabilidade da Polícia Militar. Nenhum desses discursos deles para mim é válido. Eu não acredito (que foram afastados). Para mim, estão na rua ainda. Tenho certeza que não estão afastados. Eu vou lutar (por justiça) até o final, não depende de mim, mas Deus é justo. A justiça tarda, mas não falha. Tarde muito porque a gente está no Rio de Janeiro, e aqui é um lugar muito complexo. A corrupção aqui impera. Mas vou lutar até o final", completou Velasco.
De acordo com o delegado titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Alexandre Herdy, o fragamento da bala que atingiu a vítima foi localizado na cavidade pleurale já foi encaminhado para a especializada e está sob análise da perícia de balística. Nesta etapa, é realizada a descrição e verificação da viabilidade técnica de submissão do que foi encontrado a confronto balístico.
Segundo a PM, as armas da equipe que atuava na região no momento do crime foram apresentadas à perícia da Polícia Civil. Os militares já prestaram depoimento na DHC e foram afastados do serviço nas ruas. Eles também foram ouvidos pela 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM), que instaurou Inquérito Policial Militar para apurar as circunstâncias do caso.










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