Publicado 15/08/2022 09:48
Rio - Um mês após ter sido vítima de estupro do médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, a mulher, que tinha acabado de dar à luz, resolveu falar sobre o ocorrido e dar detalhes sobre o crime. Em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, na noite deste domingo (14), a vítima, que preferiu não se identificar, contou que foi Giovanni o primeiro médio da equipe a ter feito contato com ela antes do parto. Acompanhada do marido, ela desabafou sobre o trauma que sofreu durante um momento que, para ela, deveria ser de felicidade.
"Em vez de eu sair pela porta da frente, com meu filho no colo, eu sai pelos fundos do hospital, escondida. Com vergonha. Aquela alegria de vestir ele para sair da maternidade, eu não tive isso", desabafou a mulher. E completou o marido: "Como se a gente estivesse fazendo alguma coisa de errado".
Segundo a mulher, em um primeiro momento, o anestesista se mostrou atencioso e prestativo. "Ele falou para mim que ia falar tudo que ele ia fazer, para me explicar todo o procedimento".
Momentos depois, ela disse que contou ao médico estar se sentindo mal e enjoada.
"Alguém falou: 'Ela teve uma hipoglicemia'. Eu fiquei várias horas em jejum. Antes da anestesia, eu falei que estava me sentindo um pouco enjoada. Aí ele [o anestesista] tirou minha máscara. Eu estava com uma máscara de tecido. Aí ele me colocou no oxigênio. Acredito eu que seja oxigênio, eu não sei. Eu lembro que ele falou para mim que estava tudo bem, para eu ficar tranquila que ele estava me monitorando", disse.
A vítima lembra que se sentia estranha, de forma que nunca havia se sentido em outros partos anteriores, mas não achava que seria nada demais.
"Eu me sentia fraca. Meus braços apoiados lá. Eu sentia a minha mão um pouco sem forças. Nos meus partos anteriores eu nunca passei por isso. Fiquei preocupada mas não achei que seria nada demais". Após o parto, ela relata não se lembrar de quase nenhum dos fatos: "Eu lembro que a gente tirou foto. E lembro só do bebê no colo dele. Daí já não lembro de mais nada".
"Em vez de eu sair pela porta da frente, com meu filho no colo, eu sai pelos fundos do hospital, escondida. Com vergonha. Aquela alegria de vestir ele para sair da maternidade, eu não tive isso", desabafou a mulher. E completou o marido: "Como se a gente estivesse fazendo alguma coisa de errado".
Segundo a mulher, em um primeiro momento, o anestesista se mostrou atencioso e prestativo. "Ele falou para mim que ia falar tudo que ele ia fazer, para me explicar todo o procedimento".
Momentos depois, ela disse que contou ao médico estar se sentindo mal e enjoada.
"Alguém falou: 'Ela teve uma hipoglicemia'. Eu fiquei várias horas em jejum. Antes da anestesia, eu falei que estava me sentindo um pouco enjoada. Aí ele [o anestesista] tirou minha máscara. Eu estava com uma máscara de tecido. Aí ele me colocou no oxigênio. Acredito eu que seja oxigênio, eu não sei. Eu lembro que ele falou para mim que estava tudo bem, para eu ficar tranquila que ele estava me monitorando", disse.
A vítima lembra que se sentia estranha, de forma que nunca havia se sentido em outros partos anteriores, mas não achava que seria nada demais.
"Eu me sentia fraca. Meus braços apoiados lá. Eu sentia a minha mão um pouco sem forças. Nos meus partos anteriores eu nunca passei por isso. Fiquei preocupada mas não achei que seria nada demais". Após o parto, ela relata não se lembrar de quase nenhum dos fatos: "Eu lembro que a gente tirou foto. E lembro só do bebê no colo dele. Daí já não lembro de mais nada".
Ao acordar, de acordo com ela, a sensação de estranheza não passou, na realidade, só piorou.
"E naquele estado, eu estava acordando sem entender como eu dormi. E o anestesista não estava mais do meu lado. Outra coisa bem desagradável foi que eu percebi que tinha algo na minha boca. Alguma coisa, um líquido meio gosmento, e eu pensei: 'Isso aí não é vômito, porque não tem gosto de vômito.' E eu tentava cuspir mas eu não conseguia, porque quando eu disse que estava enjoada antes do parto, o anestesista colocou uma gazes do meu lado esquerdo. Se eu vomitasse, teria aquilo ali. Eu olhei e já não vi mais. Não tinha nada ali", contou.
No vídeo gravado pelas enfermeiras, Giovanni aparecendo utilizando a gaze para limpar o rosto da vítima após o abuso. Logo após, ele jogou o material no lixo. As enfermeiras pegaram o objeto e levaram para a perícia como prova do crime. No momento, o médio está impedido de exercer a medicina.
O estupro foi gravado por meio de um aparelho celular escondido dentro de um armário dentro da sala de cirurgia do Hospital da Mulher em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A motivação da gravação se deu por conta da desconfiança de enfermeiros e técnicos de enfermagem da conduta do anestesista em outros partos em que estava na equipe. Com o flagrante, acionaram a polícia.
Segundo o marido da vítima, depois que o filho nasceu e da foto tirada, ele não pode mais passar do pano que cobria o rosto de sua esposa e só via a mão dela. Ele teria tocado a mão dela e deixado a sala, após o pedido de um homem. Ele ainda contou como descobriu sobre o estupro sofrido pela mulher.
"A gente estava no quarto, aguardando, e veio a delegada até a mim, mais o oficial. Eu fiquei até espantado, sem entender o que estava acontecendo, achei: 'Será que eu cometi algum crime?'. Foi quando ela se dirigiu para mim e disse que a minha esposa tinha sido violentada", expôs.
A vítima conta que soube da violência que sofreu através da irmã. "Ela falou: 'O anestesia abusou de você'. Eu imaginei tudo, menos que eu ia ouvir isso, que eu fui abusada".
Os frascos de remédio usados por Giovanni para sedação também foram encaminhados para a perícia. De acordo com o inquérito encaminhado ao Ministério Público do Rio de Janeiro, o anestesista aplicou o anestésico sete vezes na paciente somente durante o vídeo.
O Diretor da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), Luiz Fernando dos Reis Falcão, contou que o anestesista colocou a vida da paciente em risco ao aplicar o sedativo tantas vezes enquanto a paciente se sentia mal.
"A paciente ao fazer sedação e estar desacordada, caso ela tenha um processo de regurgitação, ou seja, retornar o conteúdo gástrico, ela corre o risco de broncoaspirar e esse conteúdo ir para os pulmões", explicou.
O médico anestesista está preso preventivamente no complexo de Bangu, numa cela individual, por ter ensino superior, e isolado dos outros detentos. Giovanni foi impedido de exercer a medicina enquanto o processo de sindicância aberto pelo Conselho Regional de Medicina corre em sigilo.
Até o momento, dois advogados já desistiram da defesa do médico, que optou por ser defendido pela Defensoria Pública, que não quis se pronunciar. Ele responde por por estupro de vulnerável e pode pegar de oito a quinze anos de prisão, porém, o fato da paciente estar grávida e dele ter violado sua responsabilidade como médico ao sedar a vítima mais que o necessário podem agravar a pena.
Ele ainda é alvo de outros dois inquéritos que ainda não foram finalizados: um aguarda perícia dos frascos de medicamentos usados para a sedação, enquanto outro investiga a denúncia de mais cinco mulheres possíveis vítimas. De acordo com a reportagem, os crimes ainda podem ser agravados por terem sido premeditados pelos médicos.
Os advogados da defesa da vítima gravada alegaram que além disso, pretendem mover uma ação judicial contra o médico e o hospital da mulher por conta dos danos sofridos por ela.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES) e a Fundação Saúde (FS), demandadas pela direção do Hospital da Mulher Heloneida Studart (HMulher), informaram que acionaram a Polícia Civil para que o médico Giovanni Quintella Bezerra fosse preso em flagrante. Tanto a denúncia quanto as imagens que comprovam o crime foram feitas por profissionais da saúde do próprio Hospital, que suspeitaram da conduta do médico.
A equipe de enfermagem do hospital da mulher tomou a iniciativa de fazer a filmagem porque dois passos de um protocolo rígidos adotados pela unidade foram quebrados pelo anestesista nos dois partos anteriores: a presença do acompanhante o tempo todo ao lado da parturiente, ao pedir para que o pai saísse da sala de parto sem justificativa; e o contato pele a pele da mãe e do recém-nascido na primeira hora de vida, ao sedar a paciente, que demorava mais do que o habitual para acordar.
A vítima ainda diz que seu sentimento de frustração e impotência piorou após receber a notícia de que não poderia amamentar o filho por conta do coquetel anti-HIV que ela precisou tomar.
"Foi o momento mais doloroso para mim, porque o momento do abuso era uma coisa, assim, muito desagradável, muito ruim, péssimo, mas que aconteceu comigo. Mas sobre a amamentação não era só eu, era meu filho também. E era, assim, algo que estava prejudicando ele de alguma forma. Então mexe com o sentimento de mãe, a dor é muito maior", desabafou.
Para o marido da vítima, o principal desejo é que Giovanni não saia mais da cadeia. "Eu quero que ele continue preso pelo resto da vida dele". E a esposa completou: "E eu, que ele não possa mais tocar em mulher nenhuma dessa forma".
"Foi o momento mais doloroso para mim, porque o momento do abuso era uma coisa, assim, muito desagradável, muito ruim, péssimo, mas que aconteceu comigo. Mas sobre a amamentação não era só eu, era meu filho também. E era, assim, algo que estava prejudicando ele de alguma forma. Então mexe com o sentimento de mãe, a dor é muito maior", desabafou.
Para o marido da vítima, o principal desejo é que Giovanni não saia mais da cadeia. "Eu quero que ele continue preso pelo resto da vida dele". E a esposa completou: "E eu, que ele não possa mais tocar em mulher nenhuma dessa forma".
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